Copa do Mundo de 1974

O Carrossel Holandês
Por Chico Santo
Vinte e nove anos após o fim da 2ª Guerra Mundial, com a Alemanha dividida em duas partes, conforme a política adotada entre suas porções capitalista e socialista, a Copa do Mundo desembarcou na parte ocidental da Germânia em sua décima edição. Mais uma vez, dezesseis seleções participaram da competição, disputada nas cidades de Hamburgo, Hanover, Gelsenkirchen, Dortmund, Düsseldorf, Frankfurt, Berlim Ocidental, Munique e Stuttgart. Austrália, Haiti e Zaire fizeram sua estréia no torneio. Foi, também, a única participação da Alemanha Oriental ao longo das Copas.
Entre os principais atletas do mundial, destaque para Grzegorz Lato, Kazimierz Deyna, Johan Neeskens, Johan Cruijff, Gerd Müller, Wolfgang Overath e Franz Beckenbauer. Pelo lado brasileiro, Rivellino e Jairzinho, sem o mesmo brilho de 1970, deram o tom da graça canarinho. Uma Copa em que a FIFA eliminou o sistema de mata-mata, com os tradicionais jogos de quartas e semifinais através da implantação de um pequeno sistema de pontos corridos onde apenas os melhores colocados seguiram adiante até a disputa final.
Torneio orquestrado pela sinfonia de Marinus Jacobus Hendricus, o "Rinus Michels?. Criador da histórica "Holanda de 1974?, coube a ele apresentar ao mundo a maior modificação da estrutura do futebol em termos táticos já vistos até hoje. Com um time sem a posição definida de seus atletas, a Laranja Mecânica, favorita ao título, perdeu apenas para a Alemanha Ocidental. Uma campanha impressionante que fez do Carrossel Holandês o vencedor moral da Copa do Mundo de 1974.

Em meio as diferenças de caráter político-social que dominavam os diferentes lados do Muro de Berlim, a Alemanha Ocidental estreou contra o Chile em 14 de junho de 1974. Dentro do Estádio Olímpico de Berlim, o mesmo utilizado como campo de concentração das forças de Hitler durante a 2ª Guerra Mundial, vitória por 1 a 0 diante de um público de 83 mil pessoas.
Quatro dias depois, em Hamburgo, a Alemanha Ocidental atropelou a Austrália com a goleada de 3 a 0. Resultado que, mediante ao tropeço da Alemanha Oriental no empate com o Chile após a vitória por 2 a 0 contra a Austrália, fazia do time da dupla Gerd Muller-Franz Beckenbauer o favorito ao primeiro lugar do grupo. Não foi o que aconteceu.
Em 22 de junho de 1974, na cidade de Hamburgo, com um olhar muito além do grito de gol, sobretudo em virtude da rivalidade e potencial bélico da Alemanha dividida, as duas seleções germânicas entraram em campo. De um lado uma equipe formada pelo apoio comunista. Do outro, o orgulho capitalista. Um jogo que deixou milhares de vítimas durante o período da Guerra Fria, mas que na Copa do Mundo da desunião acabou com a vitória da Alemanha Oriental pelo placar de 1 a 0. Resultado muito questionado na época e que levantou a hipótese de que a equipe ocidental teria forçado a derrota para evitar o Grupo da Holanda de Rinus Michels na fase seguinte. Franz Beckenbauer desmentiu o tema várias vezes.
De qualquer forma, classificada em 2º lugar, a Alemanha Ocidental dividiu uma nova chave formada com Polônia, Suécia e Iugoslávia enquanto a Alemanha Oriental teve de encarar o desafio de tentar uma vaga para a final contra a sensação Holanda, Brasil e Argentina. Indiscutivelmente, uma missão muito mais complicada.
Nos jogos subsequentes, a campeã do mundo não teve dificuldades para vencer a Iugoslávia (2 a 0), Suécia (4 a 2) e Polônia (1 a 0), garantindo, assim, o direito de disputar a final da competição contra a Holanda. A equipe oriental, por sua vez, perdeu para o Brasil (1 a 0) e Holanda (2 a 0), tendo se despedido da única Copa que participou em toda a história com o empate em 1 a 1 frente a Argentina.
Se por acaso, a Alemanha Ocidental abdicou de disputar a fase de grupos contra a Holanda, em 7 de julho de 1974, não houve escapatória. Na final da Copa do Mundo, a equipe alemã não teve outra alternativa além de vencer o temível Carrossel Holandês. Em Munique, dentro do Estádio Olímpico, com um público de 75 mil pessoas, a Laranja Mecânica saiu na frente aos 2 minutos da etapa inicial com Neeskens. O favoritismo holandês, outorgado pelo bom futebol, não foi o suficiente para dar a Johan Cruijff a oportunidade de segurar a taça do mundo. Embalada por sua torcida, a Alemanha Ocidental chegou ao título após o empate de Breitner e a virada de Gerd Muller. Um desfecho, do ponto de vista saudoso, injusto para o Carrossel Holandês.

Em 1974, a Seleção Nacional do Brasil, mais uma vez, chegou a Copa do Mundo como a equipe a ser batida. Depois de vencer o mundial do México, quatro anos antes, o time comandado por Mário Jorge Lobo Zagallo ainda possuía um elenco forte com a base de 1970, entretanto, a ausência de Pelé, Tostão, Gerson e Carlos Alberto não foi suprida pela presença de Emerson Leão, Luís Pereira, Rivellino e Jairzinho.
Basta dizer que a Seleção Brasileira não conseguiu balançar as redes nas duas primeiras partidas da Copa. Contra a Iugoslávia em 13 junho e Escócia em 18 de junho empate em 0 a 0. O péssimo futebol, diante da fraca apresentação, por pouco não resultou na eliminação prematura. O Brasil, mesmo em uma chave fraca, só conseguiu a classificação no saldo de gols, com um a mais que a Escócia, depois de golear a fraca equipe do Zaire por 3 a 0 em 22 de junho. Jairzinho, Rivellino e Valdomiro fizeram os gols.
Na fase subsequente pouca coisa mudou. Contra a Alemanha Oriental, em 26 de junho, Rivellino ? de falta ? anotou o único gol da partida. No duelo diante da Argentina, em 30 de junho, nova vitória. Placar de 2 a 1. Rivellino e Jairzinho voltaram a marcar. A Seleção Canarinho, contudo, não estava preparada para encarar a poderosa Holanda. A então sensação do momento, a Laranja Mecânica, furou a zaga brasileira e com gols de Johan Neeskens e Johan Cruijff venceu o Brasil por 2 a 0.
Novamente como segunda colocada da chave, o time de Mário Jorge Lobo Zagallo teve a chance, ainda, de participar da disputa de 3º e 4º lugar. Em 6 de julho, no entanto, saiu derrotada de campo. Grzegorz Lato fez o único gol do jogo e o Brasil terminou a Copa do Mundo de 1974 com a certeza de que poderia ter feito mais.
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