Copa do Mundo de 1966

O fim da dupla Pelé e Garrincha
Por Chico Santo
Em 1966, a Copa do Mundo, finalmente, foi disputada em seu berço de origem. Na Inglaterra, país de criação do futebol, cuja data de 26 de outubro de 1863 representa o nascimento do esporte na era moderna - já que os registros históricos mais próximos que podem ser considerados de certa forma uma inspiração dentro do aperfeiçoamento do atual futebol datam do século III a.C ? dezesseis seleções participaram do principal campeonato entre nações.
Partidas que fizeram do mundial de 1966 um ajuste de contas com o tempo, diante do importante encontro de 30 de novembro de 1872 - quando pela primeira vez duas seleções de países diferentes se enfrentaram em um duelo de futebol -, no famoso empate sem gols entre as equipes da Escócia e Inglaterra. A bem da verdade, uma pequena amostra do que viria pela frente à partir de 1930, no Uruguai.
A oitava edição da Copa do Mundo, com sedes em Londres, Birmingham, Liverpool, Manchester, Middlesbrough, Sheffield e Sunderland marcou, ainda, a estreia da Coreia do Norte e Portugal no torneio que teve o português Eusébio e o alemão Franz Anton Beckenbauer como duas das principais revelações.
Dentro das comemorações do centenário da The Football Association, a federação de futebol mais antiga do mundo, mediante aos protestos e, também, boicote do continente africano em virtude da imposição da FIFA a uma seletiva classificatória com qualify associado à zona asiática e oceânica, estabeleceu-se o recorde de participantes na época.
Ao todo, incluindo as Eliminatórias, 70 seleções foram escritas para o mundial realizado entre 11 e 30 de julho com o inglês Bobby Charlton eleito o melhor jogador da Copa. Um mundial onde a torcida apoiou a violência, Pelé foi caçado e Eusébio, o Pantera, mais uma vez deu show. A Azzurra, em contrapartida, eliminada pela Coreia do Norte, foi recebida na Itália com tomates após o vexame.



A Inglaterra, campeã do mundo, chegou ao título inédito da Copa com uma campanha respeitável do ponto de vista prático e com pelo menos dois erros fundamentais contra adversários de peso. Durante a fase de grupos, estreou em Londres, em 11 de julho, com um empate sem gols contra o Uruguai. Cinco dias depois derrotou o México por 2 a 0. Mesmo placar que venceu a França e se classificou para as quartas-de-final.
Na fase eliminatória, a Seleção Nacional da Inglaterra de cara encarou a Argentina, tida como o principal rival sul-americano. Um dos muitos duelos políticos repetidos dentro das quatro linhas. Basta dizer que o próprio ano de 1966 marcou oficialmente o primeiro ato argentino contra a ocupação inglesa nas Malvinas.
Longe dos holofotes da Copa do Mundo, um grupo de nacionalistas argentinos sequestrou um avião modelo DC4 britânico e declarou a reconquista do território após o pouso da aeronave na ilha. Os rebeldes foram imediatamente presos pelas autoridades inglesas. Mas as tensões provocadas, especialmente pela insatisfação do governo portenho, foram os fatores preponderantes para a Guerra das Malvinas, dezoito anos depois, em 1982. 
Neste sentido, é possível dizer que a questionável expulsão do argentino Rattin, no duelo de quartas-de-final, contra a Inglaterra pela Copa do Mundo de 1966, no jogo em que os britânicos venceram por 1 a 0, não ajudou em nada o espírito de pacificação das duas nações, em clima de guerra.  Para os argentinos, a pólvora do que aconteceria anos mais tarde. Pelo lado inglês, um discutível erro de arbitragem que de certa forma pressagiou a mancha no brilho da taça inglesa.
De qualquer forma, a vitória do Esglish Team diante de Portugal por 2 a 1 em 26 de junho foi incontestável. Sobretudo por se tratar da expressiva equipe de Eusébio, um dos craques do mundial e artilheiro da Copa com 9 gols. Jogo que garantiu a classificação do Three Lions para a final em Wembley e fez do futebol, mais uma vez, um irônico capítulo da história.
Na tarde de 30 de junho de 1966, ao entrar em campo, em Londres, a Seleção Nacional da Alemanha Ocidental carregava debaixo dos braços a dor de um país bombardeado pela 2ª Guerra Mundial. Por essa razão, mais do que o título mundial da FIFA, o que estava em jogo para os britânicos, era a revanche das bombas V-1 e V-2 lançadas pelas tropas de Hitler.
O duelo histórico foi apitado pelo árbitro suíço Gottfried Dienst, responsável pelo gol fantasma de Hurst, na prorrogação. Após empate em 2 a 2 no tempo normal, o inglês emendou um chute cruzado da direita, a bola bateu no travessão e quicou na pequena área quase meio metro a frente da linha do gol. Gottfried Dienst correu para o centro do campo e validou o lance que deixou a final da Copa do Mundo com uma sensação, no mínimo, estranha. Antes do término da partida, a Inglaterra ainda aumentaria a vantagem para 4 a 2 com outro tento de Hurst. Entretanto, até hoje, Gottfried Dienst ainda é tido por muita gente como o "autor? do gol do título inglês.

Em 1966, a Seleção Nacional do Brasil fez uma das piores campanhas da história da equipe canarinho em um mundial de futebol. Depois de se recuperar de uma inflamação nos rins seguida por problemas cardíacos, Vicente Feola retomou o comando do time que ele mesmo dirigiu durante a conquista da Copa de 1958.
O treinador, entretanto, não conseguiu repetir a mesma campanha organizada por ele na Suécia e por seu sucessor Aymoré Moreira no Chile. Na Inglaterra, em 1966, com a influência política de ditadores militares, principalmente após o golpe de 1964 que colocou o país em um regime autoritário, o Brasil não passou sequer da fase de grupos. Foi, a bem da verdade, a primeira vez que uma equipe detentora do título caiu na fase classificatória, o que se repetiu em 2002, com a França.
Em uma chave forte - com Portugal e Hungria -, a Seleção Brasileira estreou em 12 de julho de 1966. A partida entrou para a história como a última vez em que Pelé e Garrincha atuaram juntos em um jogo oficial. Cada um dos dois marcou um gol. O Brasil venceu por 2 a 0 e ameaçou a despontar como um dos favoritos ao título mundial.
Todavia, o que se viu na sequencia deixou a desejar. Contra a Hungria, em 15 de julho, derrota por 3 a 1. Tostão foi o autor do gol de honra brasileiro. E diante de Portugal, na famosa caçada portuguesa a Pelé - lesionado em campo -, derrota por 3 a 1. Destaque para Eusébio, autor de gols. Simões anotou outro. Rildo descontou para o Brasil.
A pífia campanha da Seleção Brasileira em 1966, após o bicampeonato de 1958-1962 serviria como uma grande lição para o melhor time do Brasil já visto até então. Em 1970, o grupo voltaria a campo para colocar um ponto final em uma história absolutamente vitoriosa.
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