Copa do Mundo de 1962

O bicampeonato brasileiro
Por Chico Santo
Em 1962, diante do clima de instabilidade política e o avanço da disputa ideológica travada entre americanos e russos, a Copa do Mundo voltou a ser disputada em um país latino-americano. Foi a última, do ponto de vista político-social, antes do início da onda de golpes militares que fez da América do Sul, por cerca de 30 anos, um continente marcado acima de tudo pelo autoritarismo e repreensão social.
Durante a preparação para o mundial, especialmente no Chile, o início dos anos 60 figurou em tom de preocupação à corrente capitalista norte-americana com o crescente apoio popular dos trabalhadores chilenos a Salvador Allende, presidente eleito, socialista, deposto e encontrado morto no Palácio da Moneda, posteriormente, em 11 de setembro de 1973, durante a tentativa de resistência às forças do ditador Augusto Pinochet.
Palco da abertura da conquista do bicampeonato brasileiro, o Estádio Nacional de Santiago foi utilizado como campo de detenção e extermínio de prisioneiros. Segundo os arquivos confidenciais da ditadura pelo menos 40 mil pessoas foram aprisionadas no complexo esportivo projetado pelo arquiteto Karl Brunner e inaugurado em 3 de dezembro de 1938, pelo presidente Arturo Alessandri Palma. Obra, coincidentemente, inspirada no Estádio Olímpico de Berlim, cujo local também entrou negativamente para as páginas da história como campo de concentração de Adolf Hitler.
Questões extremamente delicadas que aos olhos da FIFA passaram, mais uma vez, despercebidas e fizeram do mundial de 1962 a continuação de um capítulo sem graça escrito em 1934 na Itália e finalizado 16 anos mais tarde, em 1978, na Argentina. Apesar disso, o comitê de organização do Chile foi valente. Principalmente após o terremoto de 22 de maio de 1960, no maior sismo registrado no país a dois anos do pontapé inicial.
O tremor de 9.5 pontos na escala richter com epicentro nas cidades de Valdivia e Concepción foi o fator preponderante para o tsunami da costa do Oceano Pacífico sentido, também, no Havaí e Japão. Dados oficiais apontam para um saldo de aproximadamente 5.700 mortos e outros 2 milhões de feridos. Números que, evidentemente, dão a noção exata do que aconteceu no Chile às vésperas da principal competição de futebol do planeta.
Mesmo assim, diante do espírito de superação chilena - tradicionalmente conhecido pela expressão "Fuerza Chile? ? e indiferente ao caos instalado no cenário político-social, em 30 de maio de 1962, a bola rolou. Quinze seleções, além dos donos da casa, se classificaram para a competição. Foi a primeira vez que as equipes da Bulgária e Colômbia participaram do evento. As duas foram eliminadas na fase de grupos. O Brasil, pela segunda vez consecutiva, deu show. Pelé foi o nome da Copa.

Pela primeira vez, desde a Copa do Mundo de 1934, a Seleção Nacional do Brasil desembarcou em um mundial com a acunha de equipe a ser batida. Em 1962, no Chile, além de ser o único país a participar de todas as edições do torneio, o time de Aymoré Moreira cruzou a Cordilheira dos Andes, em sua porção sul, passando pelo Aconcágua, no pico mais alto da América do Sul, na Argentina, para defender o título de campeão.
Com a delegação formada com a base de Vicente Feola, afastado do cargo de diretor técnico em virtude de complicações decorrentes a inflamação dos rins e problemas cardíacos, o treinador divulgou uma lista inicial com 41 jogadores relacionados para o período de preparação da Copa, realizado em Campos do Jordão, na Serra da Mantiqueira, em São Paulo, onde o grupo fez os exames clínicos.
Os treinamentos com bola foram realizados em duas etapas. O trabalho começou em Nova Friburgo (RJ). Depois, no momento da definição dos 22 atletas convocados para a Copa, dentre os quais treze atuavam em São Paulo e outros nove no Rio, o Brasil permaneceu concentrado em Serra Negra. O último treino em solo nacional, entretanto, foi realizado no campo do Fluminense em 19 de maio de 1962, véspera do embarque da delegação brasileira.
De Campinas, pontualmente, às 19h30, o Brasil seguiu para a região de Valparaiso, onde fez os amistosos contra o Wanderers e o Everton do Chile. Em 30 de maio de 1962, horas antes da estreia na Copa do Mundo, o grupo de Aymoré Moreira participou de um culto ecumênico dentro da própria delegação. Cada um dos jogadores recebeu uma medalha com uma mensagem do Papa João XXIII. No texto, o sumo pontífice deixava claro a sua admiração pelo futebol verde-amarelo: "Ficarei rezando para que o Brasil consiga repetir o feito de 1958?. Deu certo.

Ao lado da Inglaterra, Uruguai e Itália o Brasil, como último campeão do torneio, foi o cabeça-de-chave do Grupo III. Com um grupo formado, ainda, por Espanha e Tchecoslováquia, a Seleção Brasileira estreou em Viña del Mar com a vitória por 2 a 0 diante do México, gols de Zagallo e Pelé.
Contra a Tchecoslováquia, em 2 de junho de 1962, o duelo não foi tão fácil assim. Sem conseguir impor a superioridade e o favoritismo, empate sem gols no Estádio Sausalito. Quatro dias depois, o Brasil por pouco não se despediu da Copa do Mundo.
Contra a Espanha, na tarde de 6 de junho, terminou o primeiro tempo perdendo por 1 a 0. Amarildo, inspirado, foi quem deu a vitória à Seleção Brasileira. Na etapa complementar anotou dois gols. Um aos 27 minutos e o outro 41 minutos. Resultado que classificou o Brasil como o líder da chave.
No duelo seguinte, pelas quartas-de-final, a Seleção Brasileira atropelou a Inglaterra. Placar de 3 a 1 com gols de Garrincha (2) e Vavá. Os dois voltaram a balançar as redes na semifinal, diante do Chile. Vitória por 4 a 2 no Estádio Nacional de Santiago com dois gols de cada.
Finalmente, em 17 de julho, em Santiago do Chile, na final, o Brasil assustou no início contra a Tchecoslováquia. Josef Masopust abriu o placar. Contudo, Amarildo, mais uma vez, apareceu para empatar a partida. Zito e Vavá fecharam o jogo. A vitória por 3 a 1 deu ao Brasil o bicampeonato mundial de futebol.
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