Copa do Mundo de 1958

Com Pelé, Brasil levanta a taça

Por Chico Santo

Em 1958, a Seleção Nacional do Brasil precisou ir a Suécia para conquistar o seu primeiro título mundial. A exemplo do que ocorrera quatro anos antes, em 1954, na Suíça, o mundial de futebol da FIFA foi realizado no Velho Continente. Dezesseis seleções se classificaram para o torneio, entre as quais, 12 eram europeias e outras quatro sul-americanas. A grande novidade ficou por conta da participação da ex-URSS. Foi a primeira vez, ao longo da história, que o time soviético disputou a competição.

A eclosão da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, entretanto, deixou a Hungria, então vice-campeã mundial, potencialmente mais fraca. Com a invasão das tropas soviéticas à cidade de Budapeste, em 1956, parte do elenco húngaro teve de se refugiar na Espanha. Ferenc Puskas, Sándor Kocsis e Zoltán Czibor foram as três principais baixas da Hungria que, depois de perder a taça para a Alemanha Ocidental em 1954, desembarcou em Estocolmo sem o mesmo encanto apresentado na Suíça.

Além do time vermelho, Irlanda do Norte e País de Gales também estrearam no campeonato, um dos mais técnicos de todos os tempos, com a presença de Djalma Santos, Nilton Santos, Didi, Pelé, Garrincha e Just Fontaine entre os atletas da Seleção da Copa. Fontaine, naquele ano, foi o autor de 13 gols. Desde então sustenta  o recorde de artilharia dentro de um mesmo torneio.

O mundial da Suécia foi transmitido ao vivo para 11 países da Europa. No Brasil, a Copa do Mundo foi apresentada aos telespectadores através do sistema de videoteipe disponibilizado pela TV Tupi, dos Diários Associados de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira Mello. Dentre os 2000 jornalistas credenciados pela FIFA, 200 eram nacionalidade alemã.  

Paulo Machado de Carvalho, homenageado com o nome do Estádio do Pacaembu, em São Paulo, talvez tenha sido o grande nome da Seleção Nacional do Brasil. O lendário jornalista paulista, criador da Pan-Americana S.A. - mais tarde, Rádio Jovem Pan -, primou pela organização da Seleção Brasileira que, com uma metodologia de trabalho jamais vista em outras edições, desembarcou na Suécia com uma equipe com psicólogos e auxiliares.

Vicente Feola, diretor técnico do Brasil em 1958, inovou com a criação do sistema 4-3-3, esquema que fazia com que o ponta esquerda Mário Jorge Lobo Zagallo tivesse, também, a obrigação de auxiliar o sistema defensivo do Brasil no meio de campo. "Joguei todos os jogos porque o Feola adotou uma tática diferente. Pela primeira vez o Brasil saiu de um 4-2-4 e variou para um 4-3-3. Foi fundamental e importante na minha vida. Foi a primeira vez que o Brasil mudou o esquema tático. Nós fomos campeões do mundo e conseqüentemente para mim foi importante.?

Antes de embarcar para a Suécia, entretanto, o Velho Lobo teve de lutar por uma vaga com os craques Canhoteiro e Pepe. "Era briga de Leão. Pela imprensa eu seria cortado. O Canhoteiro era um driblador e o Pepe tinha um potencial muito forte no chute com muitos gols. E eu era observado de maneira inferior. Eu parei de ler jornal, escutar rádio e ver televisão. Eu tinha que ganhar uma posição ali. E, felizmente, o Feola, antes da minha convocação, no jogo do Botafogo e Flamengo, ele me viu jogando e me convocou?.

O amistoso contra o Paraguai, o primeiro de uma série de três que antecedeu o embarquei para a Copa, foi crucial para Zagallo: "Havia 200 mil pessoas no Maracanã e eu tive a felicidade de fazer dois gols. Fiz uma boa partida e ali minha vida foi em frente. Joguei mais um amistoso em São Paulo e tinha mais um terceiro, que eu não fui chamado. Aí, comentei com um amigo e ele me disse para ficar tranqüilo que eu já estava na lista para a Copa. Neste último jogo, o Canhoteiro começou a partida e o Pepe entrou no 2º Tempo. O Pepe fez dois gols e o Feola cortou o Canhoteiro. De terceiro, eu virei o titular.?

Com o passaporte carimbado, a exemplo do que aconteceu com Emerson no pentacampeonato de 2002, Zagallo por pouco não foi cortado às vésperas do mundial por causa de uma recreação. "Tive a infelicidade de me machucar no último treino no Maracanã. O Pelé estava em um gol e eu no outro, naquele treino de dois toques. O Belini chutou uma bola entre o segundo e o terceiro dedo. Eu fui parar no hospital. Até pedi para não ir para a Copa. Mas a comissão-técnica me pediu para não falar besteira que eu já estava na Copa. Doía muito, latejava. Nós fomos jogar duas partidas contra o Inter, na Itália. No primeiro jogo eu não tinha condição de jogar. Eu entrei no segundo, tive a felicidade de marcar um gol e dali nós fomos para Estocolmo, depois Gotemburgo até chegar na concentração.?

Em busca do primeiro título mundial de futebol, a Seleção Nacional do Brasil estreou na Copa do Mundo contra a Áustria, em 8 de junho de 1958. Mazzola (2) e Nilton Santos fizeram os gols daquele 3 a 0 brasileiro. Contra a Inglaterra, três dias depois, o time canarinho não obteve o mesmo desempenho. Empate sem gols diante da equipe britânica. Diante de uma chave equilibrada, uma das mais fortes da competição, o grupo de Feola só consegui a classificação na última partida da primeira fase. Placar de 2 a 0 contra a ex-URSS. Dois gols de Vavá.

Nas quartas-de-final, contra o País de Gales, em 19 de junho, o mundo conheceu a então promissora estrela de Edson Arantes do Nascimento. Pelé foi o autor do único gol da partida. Aos 21 minutos do 2º Tempo, o maior jogador da história do futebol recebeu a bola dentro da área, matou no peito e, sem deixá-la cair no chão, deu um toque por baixo o suficiente para se livrar do zagueiro galês e chutar no canto direito do goleiro Kelsey. O primeiro de doze gols que o camisa 10 brasileiro anotou ao longo das Copas.

"De fato, eu não conhecia o Pelé. Eu vi um garoto e achei estranho. Pensei: se ele está aqui, deve ter algo de diferente. Nos treinamentos eu comecei a sentir de perto quem era o garoto, já mostrando a sua capacidade toda. Infelizmente, ele não pôde jogar os primeiros jogos, mas, já no final ? nos três últimos jogos -, ele mostrou quem era ele?, relembrou Mário Jorge Lobo Zagallo na histórica entrevista concedida ao repórter Chico Santo no dia em que completou 80 anos.

O ano de 1958, definitivamente, pertencia a Pelé. Na semifinal contra a França, o Rei marcou três dos cincos gols na vitória por 5 a 2 frente ao time do goleador Just Fontaine (1). Vavá, Didi e Piantoni (1) foram os demais coadjuvantes da partida que colocou o Brasil na final do mundial, exatamente, contra os donos da casa.

A tarde de 29 de junho de 1958 consagrou Pelé. Em Estocolmo, os suecos saíram na frente com Nils Liedholm, aos 3 minutos do primeiro tempo. Vavá virou a partida aos 9 e 32 minutos da etapa inicial. Pelé apliou com dois gols, aos 10 e 45 minutos do 2º Tempo, em uma tarde que Zagallo também sentiu o gosto de comemorar um gol em uma partida final com um gosto diferente de Agne Simonsson, autor do outro tento sueco. 

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