Copa do Mundo de 1934 - Itália

A taça de Mussolini

Por Chico Santo

Se fosse levado em conta o livro de encargos da FIFA, assim como os critérios de Fair-Play da entidade suíça, a Copa do Mundo de 1934 jamais teria sido disputada na Itália. Um acidente de percurso dentro de um contexto muito mais social do que propriamente esportivo. A bem da verdade, da mesma forma que a Argentina (1978), a Itália de Mussolini deveria ter ficado de fora do mundial. País que, em dias atuais, ainda vive os fantasmas da xenofobia ?apesar da frustrada tentativa de minimização do racismo na polêmica entrevista concedida pelo Presidente Joseph Blatter em 2011 -, sobretudo diante do inaceitável caso Balotelli estampado nos principais jornais do planeta 76 anos após a realização do "Mundial Fascista?.

Com as mãos de Benito Amilcare Andrea Mussolini, cujo autoritarismo lhe garantiu o "direito? da escolha dos árbitros pré-determinados a apitar as partidas da Azzurra, a Itália realizou em seu território o primeiro mundial de futebol da Europa vencido, coincidentemente, pelos italianos. Fora das quatro linhas, Mussolini tentou fazer do evento uma propaganda pró-regime enquanto se preparava para oficializar, nos anos subsequentes, mais especificamente, em 10 de junho de 1940, a inclusão da nação nas potências do eixo durante a 2ª Guerra Mundial, que deixou o saldo negativo de 73 milhões de mortos, o que pode ser considerado o maior gol contra da história da humanidade.

Dentro do âmbito esportivo, destaque para a ausência do Uruguai, campeão mundial em 1930. O time azul celeste, a então equipe a ser batida, se recusou a disputar o mundial em virtude do boicote dos países europeus em 1930, quatro anos antes, quando apenas Bélgica, França, Iugoslávia e Romênia participaram. Foi, também, a primeira vez que a FIFA organizou o sistema de eliminatórias onde todas as 34 seleções, incluindo o time do país sede, participaram do mata-mata.

O torneio foi aberto em 27 de maio e teve as cidades de Florença, Bolonha, Milão, Trieste, Turim, Nápoles, Gênova e Roma como sedes. Com ou sem a ajuda de Mussolini, a Itália marcou 12 gols e teve sua defesa vazada por 3 vezes.

Para conquistar a Copa do Mundo de 1934, a Azzurra contou com a presença de dois atletas de nacionalidade estrangeira. A convite do ditador Benito Mussolini, o argentino Luis Felipe Monti, nascido em Buenos Aires em 15 de maio de 1901, vestiu a camisa da Seleção Nacional da Itália. Monti, vice-campeão pela equipe portenha em 1930, foi o único jogador da história a disputar duas finais por dois países diferentes.

A exemplo da Argentina, o Brasil também reforçou a Itália. Anfilóquio Guarisi Marques, o Filó, ex-jogador da Portuguesa de Desportos, Paulistano, Corinthians e Lazio se tornou o primeiro brasileiro a conquistar uma Copa do Mundo. Filó foi o autor de um dos quatro gols da Itália assinalado nas eliminatórias do mundial contra a Grécia.

Na Copa, a Azzurra estreou nas oitavas-de-final com a goleada de 7 a 1 diante dos Estados Unidos, em Roma. Depois, empatou em 1 a 1 com a Espanha e venceu a Fúria por 1 a 0 na partida de desempate, em Firenze. O duelo foi marcado pela ausência de Ricardo Zamora, goleiro e capitão espanhol.

Na semifinal realizada em Milão, placar de 1 a 0 em San Siro. Partida que colocou à seleção italiana na decisão do mundial. Na final, disputada em 10 de junho de 1934 contra a Tchecoslováquia, em Roma, vitória da Itália na prorrogação pelo placar de 2 a 1.

A Seleção Brasileira fez a pior de todas as campanhas da história na Copa do Mundo de 1934. Com um ambiente tumultuado, repleto de brigas e rachas internos, o Brasil mal conseguiu formar uma equipe para disputar o mundial. Luiz Vinhaes, ex-árbitro de futebol e criador do conselho de arbitragem brasileira, teve de lidar com a impossibilidade de convocar atletas que não estivessem filiados a então amadora Confederação Brasileira de Desportos.

Se não bastasse isso, o Palestra Itália dificultou ainda mais a convocação de Luiz Vinhaes. Romeu, Lara, Gabardo, Junqueira e Tunga foram escondidos em uma fazenda com capangas armados em Matão, no interior de São Paulo.

O Brasil, com um time formado com a base do Botafogo-RJ, fez apenas um jogo no mundial. Contra a Espanha, no estádio Luigi Ferraris, em Gênova, em 27 de maio de 1934, perdeu por 3 a 1 e caiu nas oitavas-de-final. Leônidas da Silva, o inventor da "bicicleta?, foi o autor do único gol.

Waldemar de Brito, presente no grupo, entraria para a história do futebol anos mais tarde. O atacante do São Paulo da Floresta, duas décadas depois, como técnico do Bauru, revelou Edson Arantes do Nascimento. O esporte nunca mais foi o mesmo.


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