Copa do Mundo 1970

O tricampeonato mundial
Por Chico Santo
Em 1970 a FIFA iniciou com o México o processo de expansão territorial da Copa do Mundo. Pela primeira vez, após uma sequencia de oito edições, o mundial de futebol foi disputado em um país da América do Norte e a exemplo do que vinha ocorrendo, dezesseis seleções participaram da competição, dentre as quais nove eram europeias, cinco americanas, uma asiática e outra africana. El Salvador, Israel e Marrocos estrearam no torneio, um dos mais técnicos de todos os tempos com jogadores como Gerd Müller, Franz Beckenbauer, Wolfgang Overath e Bobby Charlton. O último, em verdade, acabou preso na Colômbia após ser acusado de roubar uma joalheria durante o período de preparação do time britânico antes do início do mundial. O capitão inglês, contudo, foi solto temporariamente para disputar a Copa e ao término do campeonato se livrou do gancho.
Todos eles, entretanto, se tornaram coadjuvantes de luxo do protagonista plantel brasileiro escalado na final com Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino. O técnico era o bicampeão mundial, como jogador, Mário Jorge Lobo Zagallo. "Eu substituí o Saldanha (como técnico). Eu tinha visto alguns jogos da Seleção. Era uma equipe comandada pelo Saldanha em um 4-2-4. Eu vi vários amistosos no Maracanã. Eu já tinha a minha idéia. No 4-2-4, nós não poderíamos jogar em uma Copa do Mundo de jeito nenhum! Já em 1958, houve uma mudança com o Feola e comigo pela ponta esquerda fazendo um terceiro homem. Em 1970, eu também mudei. Jogava Jairizinho, Tostão, Pelé e Edu. Eu fiz mudanças radicais. Pouco a pouco eu fui montando o time. O Rivelino e o Clodoaldo eram reservas nesse time do Saldanha. Eu transformei. Coloquei o Piazza como quarto zagueiro e ficou o meio-de-campo com o Clodoaldo, Gerson e Rivelino. Na frente o Jairizinho, Tostão e Pelé. O Tostão eu coloquei lá na frente porque ele era um jogador que vinha de trás e convoquei dois pontas de lança ? porque não tínhamos ponta de lança. Era tudo meio de campo. Então, eu cortei o Zé Carlos e o Dirceu Lopes e convoquei o Roberto Lopes Miranda e o Darinho. Atrás jogava o Felix, Brito, Piazza e o Everaldo. Ali, eu já jogava em bloco. Tive a felicidade de reunir os melhores jogadores do momento e botei 5 camisas "10? ? vamos dizer, assim ? com o Jairizinho, Pelé, Tostão, Rivellino e Gerson. Já jogávamos em bloco porque esse time não poderia fazer marcação por pressão. Era um time que voltou para fazer essa marcação no grande círculo. E na hora que nós íamos atacar, nós atacávamos com 7 porque o Carlos Alberto Torres fazia aquela função de marcador e evoluía como ala. Então, foi uma seleção sensacional, uma Copa maravilhosa e que nós ? com todas essas mudanças que foram feitas -,encaixou e nós ganhamos a Copa do Mundo.?
Naquele mundial a FIFA permitiu pela primeira vez na história das Copa a substituição de até dois atletas por jogo. A ex-URSS utilizou o artifício técnico de forma pioneira com a troca de Viktor Serebryanikov por Anatoly Puzach ao fim do 1º Tempo. A criação dos cartões amarelos e vermelhos como um símbolo universal para as advertências aplicadas desde a Copa do Mundo de 1930, quando o peruano De las Casas foi obrigado a se retirar de campo após exagerar na violência em um duelo entre Peru e Romênia, também se tornou evidenciado nos bastidores da imprensa esportiva da época.
Copa do Mundo em que a tecnologia do então inovador sistema de transmissão à cores deu nova cara ao torneio. Um total de 50 países assistiram as emoções proporcionadas pela Adidas Telstar Durlast, a primeira bola oficial da competição, com uma combinação de 12 gomos pentagonais pretos e outros 20 hexagonais brancos. México e El Savador, em 7 de junho de 1970, quebraram a hegemonia de partidas com ao menos uma seleção europeia ou sul-americana em campo. O Brasil foi o campeão.

Foi o último mundial disputado por Pelé. Campeão, também, em 1958 na Suécia e 1962 no Chile, Edson Arantes do Nascimento, o Rei do Futebol, fez no México aos 29 anos, de forma espetacular, sua despedida das Copas. Autor de lances geniais e algumas das mais lendárias jogadas do esporte, o melhor atleta de todos os tempos, estreou com o Brasil em 3 de junho de 1970 contra Tchecoslováquia no Estádio Jalisco com um chute de 40 metros que por questão de centímetros não parou nas redes do apavorado e adiantado Ivo Viktor. De qualquer forma, em Guadalajara, deu Brasil com o placar de 4 a 1. Gols de Rivelino, Pelé e Jairzinho (2).
Na partida seguinte, contra a então campeã Inglaterra, em 7 de junho, depois de receber um cruzamento de Jairzinho, Pelé de cabeça esteve perto de anotar o segundo gol no mundial. A defesa de Gordon Banks, até hoje, é considerada a melhor de todas as Copas. Mesmo assim, diante da inspirada tarde do arqueiro britânico, o English Team saiu derrotado. Jairizinho fez o único gol do confronto.
Três dias depois, em 10 de junho, também em Guadalajara, Pelé mais uma vez se destacou. Fez dois dos três gols na vitória por 3 a 2 contra a Romênia. Jairzinho também deixou sua marca e a Seleção Canarinho, utilizada pela ditadura militar para alimentar a política do pão e circo no auge do autoritarismo, garantiu na bola o direito de jogar a fase eliminatória.
Em 14 de junho, contra o Peru, vitória por 4 a 2 para o Brasil. Pelé não balançou as redes. Rivelino, Tostão (2) e Jairzinho colocaram a Seleção Brasileira na semifinal contra o Uruguai. O clássico sul-americano valia a hegemonia entre as duas seleções, empatadas em 1970 com dois títulos cada. Pelé, novamente, foi o autor de dois grandes momentos inesquecíveis. No primeiro deles deu o drible da vaca no goleiro Mazurkiewicz com o corpo e, na sequencia, com um chute adocicado, viu a bola passar rente ao lado oposto da trave. Ele lamentou o gol. Em outra jogada emendou um chute de primeira após uma cobrança de tiro de meta mal sucedida. Mazurkiewicz conseguiu agarrar a bola. De qualquer forma, o Brasil venceu por 3 a 1. Gols de Clodoaldo, Jairzinho e Rivelino. A Seleção Brasileira estava classificada para a final da competição.
O duelo contra a Itália, em 21 de junho de 1970, no Estádio Azteca, na Cidade do México, entrou para a história como a última participação de Pelé em uma partida de Copa do Mundo. Como reconhecimento a tudo o que fez pelo futebol, foi ele quem abriu o placar para a Seleção Brasileira. Gerson, Jairzinho e Carlos Alberto deram números finais a partida que se não fosse por um erro do árbitro alemão Rody Glöckner, teria acabado em 5 a 1 para o Brasil. Ao final do 1º tempo, quando a partida ainda estava empatada em 1 a 1, o juiz anulou o que seria o segundo gol de Pelé no duelo. O motivo assinalado pelo árbitro germânico foi o término da etapa inicial, contabilizada exatamente no ínterim posterior ao chute do Rei que antecedeu o chacoalhar das redes. O apito amigo italiano, entretanto, não foi o suficiente para impedir que Carlos Alberto Torres levantasse a taça. O Brasil se sagrou tricampeão do mundo e encerrou o período de ouro de seu futebol imortalizado pela "Era Pelé?.

ver mais notícias

Selecione a letra para o filtro

ÚLTIMOS CRAQUES