Chico Santo, Tragédia Grega...

Por trás do incêndio de Atenas
Paula Vares Valentim
jornalista responsável
De Bruxelas, na Bélgica, seguindo pela rota do Conde Drácula em direção à Transilvânia, Chico Santo deveria ter embarcado para Luxemburgo e depois Paris. Entretanto, o faro pelo jornalismo, mais uma vez presente no sangue do repórter, o levou a cruzar toda a Europa e aterrissar na Grécia. "Cheguei a comprar um bilhete de trem para a cidade de Luxemburgo, ao lado de Paris. Quando vi na internet que um incêndio florestal de 13 mil hectares fora de controle ameaçava o centro histórico de Atenas, não tive dúvidas de que aquilo poderia me valer uma boa cobertura e na mesma hora mudei os planos da viagem?. O combate ao fogo mobilizou 650 bombeiros, 500 soldados, 12 hidroaviões e oito helicópteros gregos. Equipamentos da França, Itália e Chipre também foram utilizados. "Da janela do avião era possível enxergar o grande círculo amarelo. Como efetuei o meu desembarque à noite, só tive como ir ao local na manhã seguinte. Através de mímicas, negociei em inglês a quantia de 50 euros com um taxista que só falava grego. Era todo o dinheiro que tinha e se passasse eu não teria como voltar a Atenas. Em apenas 48 horas, os bombeiros já haviam registrado 200 focos de incêndio. "O cheiro da fumaça podia ser sentido de longe. Do centro de Atenas ainda era possível respirar o monóxido expelido pela destruição. O desastre, evidentemente, foi grande. Quem teve a oportunidade de andar pelo local atingido pelas chamas da Terra dos Deuses de cara percebeu a conseqüência dos danos causados pelo fogo. A vida parecia não existir. Eram casas perdidas, placas queimadas e árvores de cerca de 10 metros de altura reduzidas a insignificantes tocos ou simplesmente transformadas em pó. Do gracejo dos pássaros nada se ouvia além do toque das sirenes?, relembra Chico.
Em busca da notícia, respirando in loco a informação, o repórter foi também ao município de Diovugos, situado há cerca de 100 km de Atenas. "Tratava-se de uma área considerada nobre na Grécia e isolada pelas autoridades em virtude do risco deixado pela catástrofe. No local, escondido entre os poucos pinheiros que permaneciam intocados pelo fogo, apenas os moradores estavam autorizados a entrar. Mesmo assim, em virtude dos riscos, eram orientados a deixar o local.  Registrei com exclusividade o que restou de parte da área devastada pelo próprio poder da natureza.?
Dwfinzqws Biktopia, morador do distrito de Kifissia, descreveu a beleza do local antes do incêndio. "Isso aqui era tudo verde, muito bonito. Uma cidade tranqüila e com muita paz. As pessoas andavam nas ruas sem medo de nada. Não me recordo de casos de assaltos ou outros problemas do tipo. Quem vinha para cá buscava sossego e nada mais?. Mais adiante, em Aghios Stefano, segundo o balanço oficial das autoridades gregas, 20 mil pessoas haviam deixado suas casas. "O que se via era realmente assustador. Praticamente toda a área, entre montanhas e vales, estava queimada. Caminhões do Corpo de Bombeiros e viaturas da polícia eram os únicos a circular pelas ruas do vilarejo. Poucas pessoas andavam por lá. Quem ainda não havia deixado a cidade, corria para ir embora em busca de segurança."
Se não bastasse a destruição da área, os meteorologistas previam mais ventos. "Algumas residências permaneciam em pé. Outras se reduziam a restos de tijolos empilhados junto às cinzas. Do solo arenoso que antes servia como base aos jardins e construções, apenas as pedras estavam intactas: Ao pisar no local atingido pelo incêndio, a sensação de calor quase que instantaneamente atingia a sola dos pés. Era, simplesmente, impossível permanecer parado em determinadas regiões em virtude da alta temperatura que ainda esquentava o solo de Diovugos.?
No conto inglório da tragédia grega, nem mesmo os cemitérios escamparam. "Você imagine um gramado verde e bem cuidado aí onde está. Era assim aqui. Essa cor cinza, negra que você pode pegar em suas mãos agora era esverdeada como musgo. Tão brilhante quanto as esmeraldas. Veja, essa era a casa dos mortos. O fogo também passou por aqui?, acrescentou Biktopia. O local havia se transformado em grande crematório comum. "Pedaços de lápides estavam espalhadas por todos os lados. Várias tumbas foram abertas e expostas a destruição. Apenas a capela ecumênica utilizada para cerimônias fúnebres, curiosamente, resistiu a catástrofe?.
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