Chico Santo na Terra do Papa

Caminhando pela Itália

Paula Vares Valentim
jornalista responsável

Tão logo voltou a Roma, Chico Santo iniciou o seu giro cultural pela Itália. "É o país que tem, na minha opinião, o futebol de clubes mais charmoso do mundo?. Terra em que Falcão despontou como Rei de Roma, Ronaldo se tornou um Fenômeno e Cafu ganhou notoriedade internacional. "Conheci os três em momentos diferentes. Em um resumo geral, o Falcão foi meu colega da TV Globo-RJ, naquele estágio de Fortaleza que o Telmo Zanini me arrumou no jogo da volta do Ronaldo, o último em solo brasileiro antes do Cafu levantar a Copa do Mundo?. Com o capitão do penta que, não por acaso, colocou o Jardim Irene diante das lentes de todo o planeta e fora dos campos de jogo também quebrou recordes em causas sociais, viveu um capítulo a parte em sua carreira. "Tenho um carinho muito grande pelo Cafu. Não escondo isso de ninguém. Até porque o Cafu me ajudou muito, fazendo o que poucos jogadores, na sua posição hierárquica, fariam. Basta dizer que, mesmo antes de me formar em jornalismo, eu já colecionava exclusivas com ele. E o Cafu vivia o seu auge. Duas das muitas conversas que gravei com ele foram na Europa. Uma em Roma e outra em Milão. Entrevistas longas, de mais de 40 minutos. Em uma delas, quando ele jogava pelo Milan, lhe pedi para fazer uma comparação entre as cidades de Roma e Milão. E a resposta foi: "Em Roma, quando você coloca o pé na rua, se por acaso você tropeçar, vai estar caindo na história?. Por algum motivo, sei lá porque, aquilo ficou marcado na minha memória. Me lembrei disso quando sai do terremoto de L?Aquila.? De acordo com a lenda, a capital italiana foi fundada 753 anos antes do nascimento de Cristo pelos "filhos? da Loba, Rômulo e Remo. "É o que dizem. Quem sou eu para falar o contrário? Tudo lá é diferente. Você vai ao Fórum de Roma e respira isso in loco como se fizesse parte dos livros diante do Templo de Rômulo, da Basílica de Constantino ou do Arco de Tibério. Enfim, do ponto de vista cultural, Roma é uma cidade obrigatória para qualquer pessoa que seja atraída pelo conhecimento, como é o meu caso.? Durante a passagem pelo antigo berço de civilização do Império Romano, foram muitas as lembranças enriquecedoras. "Exatamente como o Cafu descreveu. Você está no meio da história e espera de tudo. Não dá para saber o que vai encontrar pela frente. Lembro-me de ter saído de uma estação do metrô e ter batido de cara com o Coliseu. Foi demais. Quando você entra em lugar como aquele, você definitivamente transcende a realidade. É como recuar ao tempo e reviver o período Vespasiano, com Tito e Alexandre Severo. Uma sensação única, especial.?
Para variar, sempre com o dinheiro contado, por pouco não pulou na Fontana di Trevi. "Ah, eu bem que estava precisando de um trocado. E a turma jogando dinheiro na fonte. Eu só ouvia barulho de submersão de moedas. Parecia uma sinfonia de desajustados. Deu vontade de chegar no cara do lado e dizer, pô, não faz isso não. Se você não gosta de grana então dá para mim que eu estou precisando.? Apesar disso, para não quebrar a tradição, o jornalista, também deixou um de seus níqueis em Trevi. "Joguei uma moeda de 10 centavos de reais. Estava bom demais. Não sou o tipo de gente que dá nota de R$ 50,00 para cachorro comer, sou?? A bem da verdade, é. "Mas aquilo foi um lapso... O Terra me mandou cobrir o Golpe Militar de Honduras e a embaixada não me liberou a entrada da imprensa brasileira porque o nosso Governo foi contra o golpe. Fiquei tão revoltado que peguei a nota de cinqüenta reais que pagaria pelo visto, a única que tive na minha carteira até hoje, e dei para o Don Corleone, o meu cachorro, comer. Se a Paty, filha do Wanderley soubesse disso, ela me mataria. Foi ela quem meu deu o Cocker Spaniel de estimação. Aliás, segundo o veterinário Dr. Carlos, o Vito Corleone é o mais bem cuidado de todos os filhotes da Sol. E uma notinha de R$ 50,00 não faz mal para ninguém. O problema é que depois de comer a primeira, o Don gostou e começou a latir pedindo uma de R$ 100,00. Só que, naquela época, eu não tinha dinheiro nem para comprar ração...?.

 

Em sua santa peregrinação pela Itália, Chico de Assis pisou em terras sagradas. "Tenho um tio, Dr. José Inácio Clemente, que se formou em Odontologia na USP de Ribeirão Preto, e vivia bebendo chopp com o Sócrates, da Democracia Corintiana. Lamentavelmente, morreu algum tempo atrás, vitima de complicações nos rins. Ele costumava freqüentar o Pinguim e sempre me trazia algum souvenir de lá. Em uma das canecas de cerveja que ganhei estava escrito. "Ir a Ribeirão Preto e não beber um chopp no Pinguim é como ir a Roma e não ver o Papa.? Por isso, quando estava em Roma, fui ao Vaticano. Mais por uma questão de respeito, mesmo. Até porque, do ponto de vista artístico, a Capela Sistina, com a Criação de Adão pintada por Michelangelo, vale bem mais a pena do que a Praça de São Pedro.? De Roma, Chico Santo embarcou em um trem bala para Milão. "Peguei o TGV Italiano e cruzei a Itália. Fui de primeira classe.? Na capital da moda, caminhou pela Rua Via Monte Napoleone e visitou o Teatro alla Scala. "A Oscar Freire deles é interessante. As modelos se vestem de diabas e ficam andando pelas calçadas. Mas eu sou mais a nossa, com as madames andando de salto alto como pose de quem está na Europa. De qualquer forma, gostei mais da casa de Ópera. Cantei Fígaro em fá maior do lado de fora. Estava bem inspirado.? Na sequencia, pisou no Estádio Giuseppe Meazza. "É engraçado ver que aqui, uma cidade como São Paulo, por exemplo, tem cinco estádios que juntos não dão um. Acho curioso tentar entender essa briga de bastidores entre os clubes depois de ter estado no Giuseppe Meazza, da Internazionale, ou no San-Siro, do Milan, como você preferir. Um estádio moderno, bem localizado, imponente, confortável e com a capacidade de abrigar duas das principais equipes de futebol do mundo. Estive nos vestiários, nas tribunas, enfim, o que as diretorias do Milan e Inter, bem como a prefeitura de Milão, fazem no local poderia servir para a gente como uma lição de administração eficaz e competente.?
Em sua rota pela Itália, a herança de São Francisco de Assis, que originou o seu nome, também não foi deixada de lado. "Nasci em 03 de outubro, no mesmo dia em que São Francisco morreu. Tem gente que brinca com isso, diz que nem o Santo me agüentou. O Milton Neves chama a minha mulher de Santa. Mas estar em Assis foi algo muito especial porque eu queria conhecer a cidade que carrego no nome. Estive na capela em que ele respirou pela última vez e de todos os lugares que visitei, até hoje, nenhum transmite tanta paz quanto o local em que seu corpo pode ser visto, diante de uma urna antiga. É arrepiante.? A primeira impressão da cidade de Assis, no entanto, não foi das melhores. "Cheguei de trem por volta das 22 horas. Atravessei a rua e toquei a campainha de um hotel que parecia um mosteiro. O cara que abriu a porta começou a me xingar dizendo que tinha certeza que eu não havia feito reserva e que aquilo não era hora de bater na casa dos outros. Falou um monte, enquanto me convidava para entrar. Mas é o jeito do italiano. Eles são grossos por natureza. Falam alto, jogam lixo nas ruas, arrotam nas mesas. É cultural. Bem diferente da Inglaterra ou Noruega. Se você não se coloca na posição de um italiano não consegue entender como um gerente de hotel pode reclamar de um cliente que chega sem avisar.? Pior do que o sermão, entretanto, foram as recomendações. "O cara estava indignado. Falou que eu não deveria nem pensar em ligar o chuveiro. Aquilo não era hora de fazer barulho. Apesar disso, quando voltar a Assis vou ficar no mesmo hotel. Por incrível que pareça a experiência foi maravilhosa.?

 

De Assis, Chico Santo foi a Florença. "Cada lugar tem a sua peculiaridade. De todas as cidades que conheci, Firenze é a que mais respira a arte. Você nota isso pela maneira como as pessoas vivem. Sem falar de tudo o que a cidade oferece, como a casa de Dante Alighieri, Ponte Vecchio, Duomo de Santa Maria Del Fiore ou a clássica estátua de Davi, uma das mais encantadoras esculturas do renascentista Michelangelo. Definitivamente, é um lugar especial. Imperdível.? Incansável, o repórter encontrou tempo, ainda, para tomar um vinho em Bolonha em homenagem ao principal nome do automobilismo brasileiro. "Gosto mais de uísque. Não tenho um bom paladar para vinhas como o Milton Neves e o meu irmão. Mas quando estive em Bolonha, onde o Senna foi declarado oficialmente morto pelas autoridades italianas, levantei um merlot Luce Della Vite Toscana. É um vinho frutado, encorpado com aromas de amora, café e chocolate. Digamos, dá para beber. De qualquer forma, está longe de oferecer o mesmo prazer que uma dose de um velho e bom Jack Daniell?s me dá.? Amante, sobretudo, da estrada, Chico Santo retornou ao Brasil ao final de abril para imediatamente embarcar em uma nova aventura pelo mundo. Esta muito mais perigosa do que propriamente um terremoto. "Estava rodando pela Itália quando estourou a Gripe Suína do México. Voltei às pressas para o Brasil, passei no Terra, montei toda a papelada necessária para o visto especial de trabalho e embarquei às pressas para a Cidade do México. Não tive tempo nem de desfazer as malas. Como tudo na minha vida, foi na base da correria.?
ver mais notícias

Selecione a letra para o filtro

ÚLTIMOS CRAQUES