Cetale

Ex-zagueiro do Botafogo-RJ
por Rogério Micheletti

Ex-zagueiro do Botafogo-RJ, nos anos 60, José Ortiz Cetale, o Cetale, morreu em São Paulo no dia 21 de julho de 2013, vítima de falência múltipla dos órgãos.

O ex-jogador viveu com o filho em um albergue no bairro do Canindé, zona norte de São Paulo, e depois trabalhou nas categorias de base do Nacional (SP).

"Comecei a beber, perdi tudo o que tinha apostando e estive vivendo em um albergue. Não era tão ruim, porque as pessoas eram boas", dizia Cetale, que começou a jogar nos infantis do Corinthians.

"O meu ídolo de infância era o Luizinho Pequeno Polegar. Tive a oportunidade de conhecê-lo, mas, infelizmente, nunca tive a chance de jogar ao lado dele", contou certa vez o ex-beque, que ganhou destaque no alvinegro carioca.

"O primeiro time que eu fui jogar no Rio foi o América, em 59. Fiquei apenas três meses lá, joguei dos amistosos pelo América e logo fui contratado pelo Botafogo", explicou.

Pelo Fogão, Cetale teve a oportunidade de fazer uma excursão por toda a Europa.

"Conheci mais de 50 países viajando com o Botafogo, que, junto com o Santos, era o time brasileiro mais procurado para jogar fora", disse o ex-zagueiro, que se lembrava de algumas memoráveis partidas contra o time da Vila em gramados estrangeiros e de alguns "causos" envolvendo o Rei.

"Jogamos contra o Santos de Pelé em La Coruña, na Espanha. O Santos venceu por 3 a 2. O Pelé fez a diferença", conta. "Na concentração, vários jogadores do Santos, entre eles o próprio Jair Rosa Pinto, falavam que não gostavam de atrapalhar o sono do Pelé porque ele garantia os bichos da equipe."

Cetale também dizia que um dos maiores prazeres de sua carreira foi jogar ao lado de Mané Garrincha. "Às vezes, o Botafogo entrava em campo tenso para uma partida. Aí, nós costumávamos jogar a bola no Garrincha, ele dava um, dois ou três dribles e a equipe toda se acalmava. O Mané era realmente genial", comentou.

"Nós tínhamos até uma musiquinha para tirar sarro do Mané, que nasceu em Pau Grande (RJ)", lembra o ex-beque do Fogão, que não esquecia do extrovertido ponta. "O Mané era muito alegre, pena que ele começou a beber depois que parou. Naquela época era ainda mais difícil o jogador aceitar que parou de jogar, que perdeu a fama. O cara ficava maluco", dizia Cetale.

Após jogar no Botafogo, Cetale defendeu o Guaratinguetá (SP). "Eu fiquei com raiva do Marinho (técnico) porque ele não quis me relacionar para uma viagem do Botafogo em 61. Eu tinha proposta do Internacional (RS), mas acabei preferindo ir para o Guaratinguetá. Fiquei muito arrependido", revelou. O zagueirão passou também pelo Nacional AC, de São Paulo, em início de carreira.

Em seguida, Cetale foi tentar a sorte no Deportivo Cali, da Colômbia. "Foi uma experiência boa. A diferença técnica entre o futebol brasileiro e o futebol colombiano era muito grande naquela época. O Brasil enfrentava a Colômbia e ganhava até por oito gols de diferença. Hoje não é bem assim", comentou Cetale, que jogou na equipe colombiana ao lado de Miguel (ex-Vasco), Nivaldo (ex-Vasco), Ari Foca (ex-América) e Cassiano (ex-Fluminense). Problemas no joelho fizeram com que Cetale voltasse ao Brasil. "Não quis ser operado do menisco na Colômbia. Resolvi voltar ao Brasil para ser operado pelo Lídio Toledo, médico do Botafogo e da seleção brasileira", contou.

No Brasil, Cetale vestiu ainda as camisas do Bonsucesso e Olaria, ambos do Rio, antes de receber um convite para jogar nos Estados Unidos. "Estava com mais de 30 anos e fui indicado pro companheiros do Botafogo para jogar no futebol norte-americano", falou o ex-zagueiro, que atuou pelo Toros Los Angeles e pelo Chicago Spurs.

Nos Estados Unidos, ele encerrou a carreira e lá mesmo começou a trabalhar com garotos mexicanos, colombianos, costa-riquenhos e argentinos num projeto para jovens jogadores. "Eu falava bem espanhol, por isso fui convidado para trabalhar no projeto que se chamava Panamericano", falou.
O ex-zagueiro quer ter direito à aposentaria, mas até agora não conseguiu tirá-la. "Gostaria também de trabalhar em um clube grande como o Botafogo ou Corinthians", dizia.
Amigo de juventude de Cetalli, Marcos dos Santos, costuma recordar os tempos de exército: "Ele (Cetalli) foi meu companheiro no exército G.E.C.A.N 40. O Cetalli era o único soldado que tinha o direito de repetir as refeições e mesmo assim achava pouco", contou.

Ainda sobre Cetale leia o belo texto do fantástico jornalista Roberto Porto com a colaboração Albino Castro Filho. Todo o trabalho e as fotos são do blog do jornalista Roberto Porto:

Cacetale Neles!

Grande no amor ao Botafogo e na garra com que defendia o manto alvinegro, merecendo o justo apodo de Cacetale, o paulistano Cetale, filho de pai argentino e mãe uruguaia, criado no então fabril bairro italiano da Vila Anastácio, em São Paulo, foi um dos símbolos do inesquecível bicampeonato carioca de aspirante, 1958-59, que premiou uma geração de botafoguenses, tendo como técnico Paulo Amaral, que não conseguia se firmar como titular numa equipe dominada por craques, como Nilton Santos, Garrincha, Didi, Paulinho Valentim, Quarentinha, Amarildo e Zagallo.
Era um aspirante de respeito. Começando por Adalberto, no gol, e mais a defesa formada por Marcelo, Cetale, Paulistinha e Ademar. O meio-campo tinha Aírton e Édson (o "Praça Mauá"). O ataque poderia ser titular em qualquer time: Neivaldo (ou Bruno), Amoroso, Rossi (ou Tião Macalé) e o "possesso" Amarildo. Aqueles últimos anos dourados de um mágico Rio de Janeiro, amada capital de um Brasil mais irreverente e feliz, marcaram para sempre Cetale que, hoje, aos 69 anos, carrega na carteira, em meio a reais e amassados documentos, duas fotos onde aparece entre os titulares daquele memorável Botafogo. Ele nasceu em 23 de fevereiro de 1939 e se chama José Ortiz Cetale. Ortiz pela mãe uruguaia, filha de espanhóis, e Cetale, pelo pai argentino, de origem italiana
Cetale voltou para São Paulo às vésperas da virada do milênio, em 1998, e viveu momentos difíceis. Chegou morar num albergue público, no bairro do Canindé, com duas mudas de roupa e uma mala de fotos dos tempos gloriosos do Botafogo... Nos momentos de desespero, e eram muitos, eu abria a minha carteira e só encontrava as duas fotos do Botafogo, recorda Cetale. Então, revirava a mala e ficava olhando minhas fotos com a camisa do Botafogo e isso ajudava a enfrentar as necessidades. Cetale já superou as dificuldades da volta a São Paulo e, hoje, é treinador das categorias de base do querido Nacional, clube da Lapa paulistana, onde recuperou a dignidade, como homem e profissional. Mas não me separo nunca de minhas fotos com a camisa do Botafogo, comenta Cetale.
Ele começou no infantil do Corinthians, em 1955, e, no ano seguinte, se tornou juvenil do Nacional, onde ficou até 1958, quando chamou a atenção de um olheiro do América, que o levou para o Rio. Treinou dois meses na velha cancha de Campos Salles e chegou a disputar um amistoso contra o Bonsucesso vestindo a camisa do diabo rubro. Tinha um estilo vigoroso que recordava Bellini, capitão campeão mundial, além de também ter sobrenome italiano e ser considerado um galã. O América, que já preparava Djalma Dias, vacilou e Cetale foi para o Botafogo levado por Nadim Marreis. Ficou até 1962 em General Severiano e em várias ocasiões foi titular, como em 1961, quando o clube conquistou o Torneio Rio-São Paulo. Excursionei o mundo inteiro com o Botafogo, lembra Cetale. Conheci mais de 50 países e naquelas viagens vivi meus melhores momentos no clube.
O jogo inesquecível da carreira dele foi um Milan e Botafogo, no Estádio San Siro, em Milão, no início de 1961. O Botafogo ganhou por 3 a 2 e Cetale anulou o brasileiro Mazola, campeão do mundo de 1958, chamado na Itália pelo sobrenome Altafini. Começou espanando e assustou a Mazola, que foi até Didi, companheiro da campanha da Suécia, e se queixou dele... Didi, malandramente, teria respondido ao Mazola que iria pedir ao Cetale para bater menos... E aí, quando o Mazola se afastou, o Didi chegou pra mim e disse velho, dá na orelha dele, foi o suficiente, diz Cetale. Anulei o Mazola e fiz o meu nome na Itália. Um ano depois, Cetale deixou o Botafogo e foi defender o Deportivo Cáli, onde foi campeão colombiano.
Desde então, praticamente até hoje, Cetale virou uma espécie de trottamondo, trocando de clube, de cidade e de país a cada ano. Mantendo, porém, uma única paixão no futebol. Uma paixão que já removeu montanhas na própria vida, ao encontrar forças para seguir adiante, e superar adversidades, abrindo uma mala cheia de fotos em preto e branco. Cetale nunca esqueceu o Botafogo e os botafoguenses não podem esquecê-lo. Nem que seja pelas cacetadas que dava nos adversários.
Mesmo não sendo torcedor do glorioso Botafogo, assino e dou fé, como leitor desse maravilhoso blog, de meu amigo Roberto Porto, e admirador, por mais de duas décadas, entre os anos 1950 e 70, de um dos maiores times da história do futebol em todo o planeta.
Saudações Botafoguenses,
Roberto Porto (portoroberto@uol.com.br)

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