Brasil estreia em estádio decadente

Chico Santo, Bastidores da Copa do Mundo
Paula Vares Valentim
jornalista responsável
Chico Santo, direto de Joanesburgo - Um estádio histórico, cercado por lendas e relatos de morte. Assim pode-se definir o Ellis Park Stadium, palco da estréia da Seleção Nacional de Futebol do Brasil na Copa do Mundo da África do Sul. Situado no centro de Johanesburgo, há poucos metros do decadente Park Station, o principal terminal rodo-ferroviário do país, o local por longas décadas sustentou o título de maior imponência do esporte sul-africano. Muito antes de receber sua primeira partida de futebol e entrar, posteriormente, para as páginas da FIFA ao sediar a final da Copa das Confederações de 2009, na partida vencida pela Seleção Brasileira diante dos Estados Unidos pelo placar de 3 a 2, o estádio já era bem conhecido pelos amantes do rugby. "É a casa do Golden Lions?, diz eufórico o torcedor Paul Stocker. "Foi aqui que nós ganhamos o nosso primeiro campeonato mundial?, relembra o jovem com entusiasmo. A competição foi realizada em 1995 entre os dias 25 de maio a 24 de junho. Ao todo, 16 seleções estiveram em campo. O Brasil não participou e a Argentina, única representante da América do Sul no mundial, foi eliminada na primeira fase. "Fizemos um grande torneio. Não perdemos nenhum jogo e saímos campeões em cima da Nova Zelândia?, orgulha-se Stocker. Construído em 1928 durante o presságio do Apartheid, o local  tem abrigado desde o início do século passado a Seleção de Rugby da África do Sul. Tida como uma das equipes mais fortes do mundo, uma espécie de "Brasil ou Itália? do Rugby, o time sul-africano carrega consigo uma grande multidão de fanáticos. Boa parte da torcida sequer sabe o que é futebol. "Não gosto. Claro que torço pela África do Sul na Copa do Mundo, mas não temos no futebol a mesma força e respeito adquirido no Rugby?, comenta o taxista Mojela Ridwan.
Força do acaso ou uma conseqüência da história, não é apenas a diferença técnica entre os dois esportes que marcam o ângulo de divergência das duas torcidas. Cerca de vinte anos após o fim do regime do Apartheid, a integração dos povos, no que diz respeito a qualidade técnica, ainda parece algo distante, quando o assunto é Rugby e Futebol. Prova maior não poderia ser dada dentro do próprio Ellis Park. Hipoteticamente, se as duas equipes sul-africanas de Rugby e Futebol dividissem o mesmo gramado, o contraste entre negros e brancos seria evidente. De um lado loiros de olhos azuis e cabelos à moda parisiense com seus tradicionais uniformes de Rugby. Do outro, os sempre alegres Bafanas Bafanas. Negros, com corpos enormes e 30 metros de altura para cima da cabeça. "É verdade. A nossa seleção de Rugby tem a sua base formada por brancos enquanto os negros tomam conta do futebol. Mas isso não importa. Hoje, somos a mesma África. A África de negros e brancos?, afirmou a recepcionista Chipo Matwell.
Apesar disso, indiferente ao tipo de torcedor que esteja nas arquibancadas, seja ele um admirador de Rugby ou um apaixonado do futebol, a verdade é que o Ellis Park Stadium driblou os limites de sua própria natureza. Com quase 100 anos de vida, foi totalmente reformado para receber, entre outros jogos da Copa, a estréia da Seleção Nacional de Futebol do Brasil. Entretanto, por trás de todo o glamour que marca a estréia do Brasil no Mundial da FIFA, ainda podem ser vistos os fantasmas que assombram, diante de um olhar mais apurado, o eco sombrio de cada um dos aproximadamente 60 mil lugares. Tudo isso porque na tarde de 11 de abril de 2001, 43 pessoas morreram. O incidente aconteceu durante a partida entre Kaiser Chiefs e Orlando Pirate, enquanto os torcedores tentavam entrar no estádio. Um exemplo triste, mas que serve para mostrar que, se tratando de esporte, o Ellis Park Stadium, centro das atenções do planeta, nesta terça-feira, pesa muito mais para o Springbok do Rugby do que para o futebol de Dunga.   



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