Arvydas Sabonis

Maior jogador de basquete da Lituânia

Salão da Fama do Basquete (Basketball Hall of Fame) em 12 de agosto de 2011Por Fábio Sormani, do Blog sobre basquete do iG esportes


Arvydas Sabonisn asceu em Kaunas, Lituânia, no dia 9 de dezembro de 1964. Começou a carreira no Zalgiris, um dos mais famosos e populares times do país. Tinha apenas 17 anos quando entrou em quadra pela primeira vez jogando entre os adultos.
Foi tricampeão soviético com o Zalgiris. Sim, soviético, pois na época em que Sabonis nasceu, cresceu, aprendeu a jogar e desenvolveu seu basquete a Lituânia era uma das 15 repúblicas da União Soviética.
Sabonis ficou no Zalgiris até 1989, quando transferiu-se para o basquete da Espanha. Tinha sido, no entanto, recrutado pela NBA em 1985.
GUERRA FRIA
Arvydas Sabonis foi selecionado pelo Atlanta Hawks na 77ª posição, numa época que não havia o limite de duas rodadas no "NBA Draft?. O recrutamento de Sabonis, no entanto, foi invalidado, pois ele não tinha completado 21 anos e a NBA exigia isso.
No ano seguinte, mesmo tendo rompido dramaticamente o tendão de Aquiles, foi selecionado pelo Portland na 24ª posição. As autoridades soviéticas, no entanto, proibiram Sabonis ir para os EUA.
A Guerra Fria já dava sinais de arrefecimento, mas ainda vigorava. Sabonis ficou no meio deste fogo-cruzado e não pôde ir para a NBA quando mais queria.
Acabou na Espanha.
EUROPA
O primeiro time de Sabonis na Espanha foi o Valladollid. Lá ficou por três temporadas.
Transferiu-se para o Real Madrid em seguida. No time merengue, foi bicampeão espanhol e em seu derradeiro ano no time da capital espanhola tornou-se campeão europeu ao bater na final o Olympiakos da Grécia por 73 a 61.
Na decisão, Sabonis anotou 23 pontos e foi eleito o MVP das finais. Mas não foi seu único prêmio individual. Foi eleito o melhor jogador europeu em oito de suas 14 temporadas europeias antes de ir para a NBA.
Deixou a Europa aos 31 anos. Depois de cruzar o Oceano Atlântico, desembarcou nos EUA para atuar pelo Portland.
Mas não era mais aquele menino cheio de sonhos e seus dois tendões já haviam sido operados. Foram duas contusões graves. E os joelhos também o traíam.
Mesmo assim, a expectativa era grande nos EUA. Afinal de contas, além dos títulos pelo Zalgiris e Real Madrid e dos oito prêmios de melhor jogador da Europa, com a camisa da União Soviética Sabonis havia conquistado o campeonato mundial de 1982 (Colômbia), o europeu em 1985 (extinta Alemanha Oriental) e a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1988 (Seul).
Além desses ouros, houve uma prata no Mundial da Espanha em 1982 e dois bronzes dos europeus disputados na França (1983) e na extinta Iugoslávia (1989).
LIMITADO
Como disse, Sabonis chegou à NBA com 31 anos. Chegou com os tendões comprometidos e os joelhos doendo demais. Segundo os que o acompanhavam, Sabonis chegou à NBA jogando apenas 30% do que jogava no auge de sua carreira na Europa.
Mesmo assim, em seu primeiro ano com o Portland, ajudou a levar a equipe aos playoffs. Na primeira rodada, o time do Oregon pegou o Utah Jazz: foi batido por 3-2 (naquela época, a primeira rodada dos playoffs era em melhor de cinco), mas mesmo derrotado, Sabonis deixou o confronto com médias de 23,6 pontos e 10,2 rebotes por partida.
Mesmo atuando apenas um terço do que podia, Sabonis impactou a NBA em seu primeiro ano. E aos 31 anos, ironicamente acabou eleito para o time dos "rookies?.
Foi motivo de piadas, claro; mas todas numa boa, zoando apenas a idade e não o jogador.
BEBIDA
Na mesma proporção em que fazia cestas, pegava rebotes e dava tocos, Sabonis bebia. E bebia feito um gambá.
Adorava vodka. E no verão, sua bebida favorita era a cerveja.
Nas ocasiões em que estive nas finais da NBA, conversando com jornalistas espanhóis, eles me contaram que Sabonis chegava para os treinos do Real Madrid carregando aquelas caixinhas de seis cervejas. Uma em cada mão.
Deixava a bebida em uma das geladeiras do vestiário. Quando o treino acabava, tomava todas. Não repartia com ninguém.
Na premiação nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, Sabonis não conseguiu subir no pódio para receber a medalha de bronze. Estava completamente bêbado.
Isso porque a partida que definiu o terceiro colocado foi antes da decisão entre o Dream Team e a Croácia. "Era muito tempo para ele esperar?, disse Donnie Nelson, filho de Don Nelson, que trabalhou como assistente técnico da Lituânia em Barcelona.
Sabonis comemorou a valer a vitória por 82-78 diante da CEI (o que restou da União Soviética). Sabonis não apenas celebrou o bronze, mas o fato de ir ido à forra diante do regime que o impediu de jogar na NBA no auge de sua forma, impediu-o de realizar seu grande sonho, numa época em que, para muitos, ele era o maior pivô do planeta.
MAIOR DE TODOS?
Certa vez, conversando com Claudio Mortari, ex-treinador da seleção brasileira e daquele timaço do Sírio que foi campeão do mundo, ele me disse: "Sabonis foi o maior pivô da história do basquete?.
Isso foi no final dos anos 1980. Patrick Ewing estava no auge; David Robinson também.
Maior do que Ewing e Robinson?, cutuquei Mortari. "Não tenha dúvida disso?, respondeu ele, convicto de que seu depoimento não o faria cair no ridículo.
"Ele jogava muito mais do que esses caras, porque eu vi, ninguém me contou; eu vi?, disse-me Marcel Souza, um dos maiores jogadores da história no nosso basquete. "Vi o Sabonis acabar com esses caras no mano-a-mano?, completou Marcel, que chegou a enfrentar Sabonis em algumas ocasiões com a camisa da seleção brasileira.
"A primeira vez que eu vi o Sabonis jogar foi no Mundial de 1982, na Colômbia?, recorda-se Marcel. "Ele tinha apenas 22 anos e era reserva do (Vladimir) Tkachenko. Não jogava muito, mas quando entrava em quadra, barbarizava?.
Oscar Schmidt também jogou contra Sabonis. Não apenas com a camisa da seleção, mas também quando estava na Europa jogando pelo Caserta e o Sabonis no Real Madrid.
"Era um craque?, definiu este outro gênio do basquete brasileiro. "Se não tivesse tido problema nos dois tendões e tivesse ido cedo para a NBA, teria sido seguramente o maior pivô de todos os tempos, maior do que (Kareem Abdul) Jabbar, (Wilt) Chamberlain, (Bill) Russell, (Patrick) Ewing, maior do que todos esses?, decretou Oscar.
Bill Walton, certa vez, definiu assim Sabonis: "É o Larry Bird com 2,21m?.
E o que ele quis dizer com isso? Que Sabonis sabia fazer de tudo em quadra: apanhar rebotes, dar tocos, enterrar, pontuar dentro do garrafão, arremessar de meia e de longa distância. Suas bolas de três pontos eram mortais.
"A saída de contra-ataque dele, depois de pegar o rebote, era uma das coisas mais lindas que eu vi como jogador de basquete?, disse-me Oscar. "O passe longo que ele dava era perfeito?.
"Ele jogava como se tivesse apenas dois metros?, definiu Marcel.
EPÍLOGO
Arvydas Sabonis, infelizmente, enfrentou problemas ao longo de sua carreira. Seus dois tendões não deram sossego ao longo de toda a sua carreira. E o regime totalitário soviético, lamentavelmente, impediu-o de chegar à NBA no melhor momento de sua carreira.
Mas quem o viu jogar não vai esquecê-lo jamais. Quem o viu jogar no auge, a maioria dessas pessoas, garante que ele foi o maior pivô da história do basquete mundial.
Eu nunca vi Sabonis ao vivo; lamento muito por isso. Em Atlanta, 1996, onde trabalhei como repórter do SporTV, não consegui ver nenhum jogo da Lituânia.
Mas não vou me esquecer jamais do único momento em que Sabonis esteve a poucos metros de mim: foi no aeroporto internacional de Atlanta, eu voltando para o Brasil e Sabonis para a Lituânia. Sabonis passou bem do meu lado, acompanhando de Sarunas Marciulionis, que era armador do Golden State Warriors e também o seu melhor amigo.
Parei de empurrar o meu carrinho com as duas malas que abrigava roupas dos mais de 30 dias em que "morei? em Atlanta. Fiquei alguns minutos olhando para Sabonis, quase que petrificado, mal podendo acreditar que estava a alguns metros desta lenda do basquete mundial.
Parece que foi ontem.
* Foto de 12 de agosto de 2011, no Basketball Hall of Fame, em Springfield, Massachusetts.
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