Amyr Klink, o Cabo da Boa Esperança

Chico Santo, bastidores da Copa do Mundo-2010
Paula Vares Valentim
jornalista responsável
Chico Santo, direto da África do Sul - Uma terra marcada por contos e façanhas históricas. Esta é, sem dúvida nenhuma, a melhor definição para a Cidade do Cabo, uma das mais preciosas sedes da história das Copas. Palco da partida de estréia da atual campeã do mundo, no jogo entre Itália e Paraguai que será realizado no charmoso Green Point, no próximo dia 14 de junho, Cape Town, como é conhecida mundialmente, tem tudo para agradar aos seus visitantes e se tornar a exceção dentro de uma regra que lamentavelmente se destaca diante da desorganização e a falta de segurança das demais regiões da África do Sul.  "Eu não sei se acontece isso ou não, mas eu acho que a cidade de Cape Town tinha que ser uma cidade irmã do Rio de Janeiro ou de alguma cidade bonita como Florianópolis. Na minha opinião, como capital, como uma pequena metrópole, eu acho que ela está entre as três mais bonitas do mundo. A cidade tem um pouco de tudo o que o Brasil tem como problema e tudo o que tem também como solução. Então, na época do Apartheid era a região, digamos, mais relaxada socialmente. Digamos, bem mais do que qualquer outra cidade africana?, afirma o velejador desbravador de mares e oceanos Amyr Klink. Apontada pelo Guinness Book, o Livro dos Recordes, como uma das 5 cidades mais bonitas do mundo, Cape Town guarda em seus pouco mais de 2500 km quadrados uma das mais preciosas histórias da civilização mundial. Berço de cobiça de portugueses e espanhóis durante o período das Grandes Navegações, na chamada procura por uma nova rota às Índias, a cidade esconde entre seu manto sagrado uma autêntica epopéia de contos de monstros marinhos, polvos gigantes e muitos naufrágios. Prova maior não poderia ser dada além da inesperada descoberta de Pedro Álvares Cabral. O português que ao acaso, em uma dessas intermináveis jornadas, retornou à Europa com o Brasil debaixo dos braços.     

"Para explicar como funciona no mar é preciso dizer que o Atlântico Norte é uma grande roda de ventos que gira no sentido horário enquanto o Atlântico Sul gira no sentido antihorário. Isso explica porque os navegadores eram obrigados a passar muito próximo da costa do Brasil. Não tem nada a ver com calmarias, essas coisas. Os naufrágios não ocorriam nessa região entre Europa e América do Sul. Quando você sai da Europa para a África você vai contornando o ciclone do Atlântico Norte, pega o lado favorável do Carrossel do Atlântico Norte e depois pula para o Atlântico Sul. Quando se sai da proximidade do litoral brasileiro se pega a parte inferior desse ciclone do Atlântico Sul e aí se vai em direção a África do Sul. E é exatamente na região do Cabo da Boa Esperança que as condições são muito difíceis. Os ventos são bem menos regulares, as tempestades são freqüentes e principalmente a passagem do Cabo da Boa Esperança tem épocas apropriadas para quem passa do Atlântico para o Índico e do Índico para o Atlântico?, explica Klink, um dos mestres dos mares.
O Cabo da Esperança, chamado também de Cabo das Tormentas, nada mais é do que o ponto de encontro entre os oceanos Atlântico e Índico. Está situado dentro da Cidade do Cabo e escondia em si o tão desejado segredo que determinou o fim do monopólio turco de Constantinopla com a chamada Nova Rota para as Índias.  "Os portugueses tiveram um mérito extraordinário que foi o de compreender esses grandes mecanismos circulares do oceano e foi o grande segredo deles também. Eles chamavam o anticiclone de os grandes rodeios, os rodeios do mar. E eles usaram isso como uma maestria notável. Vale à pena dizer que Bartolomeu Dias já tinha compreendido que era impossível descer a costa africana. Você contorna a África até a Guiné. De Angola a Namíbia para baixo, descer a costa africana até o Cabo, era impraticável. Por isso era necessário dar a volta nesse grande rodeio do mar. Foi esse o conhecimento importante que os portugueses trouxeram para a gente?, acrescenta o velejador brasileiro.

O Cabo da Boa Esperança, onde também está situado o Cape Point, foi dobrado pela primeira vez por Bartolomeu Dias em 1488. Jan van Riebeeck, holandês de outras aventuras, foi quem iniciou o povoamento da Cidade do Cabo, estabelecendo em 6 de abril de 1652 o que nada mais era do que um posto de abastecimento para marinheiros e tripulantes. "A cidade tem praias maravilhosas e um histórico de receptividade grande. É uma cidade dominada por um conjunto de montanhas como a Pedra da Mesa, que é magnífico, e por último tem um urbanismo maravilhoso?.
Uma das regiões mais bonitas de Cape Town é conhecida como Walterfront. Um bairro moderno e charmoso que oferece aos seus visitantes uma arquitetura portuária absolutamente diferente do que se está acostumado a ver no Brasil e América do Sul. "Cape Town tem um porto no centro da cidade, como acontece em várias cidades brasileiras. Esse porto estava totalmente degradado e foi introduzido na parte econômica, social e cultural da cidade, transformado-se num centro de vida da Cidade do Cabo. Eu tive o privilégio de conhecer as pessoas que idealizaram a restauração do porto e fizeram uma transformação que hoje economicamente é importante não só para a África do Sul como para o continente africano?, finaliza Amyr Klink.

Home - Bastidores da Copa do Mundo 2010
ver mais notícias

Selecione a letra para o filtro

ÚLTIMOS CRAQUES