No dia 13 de março de 2015 o UOL Esporte publicou uma entrevista do ex-jogador, confira:
Vagner Magalhães e Vanderlei Lima
Do UOL, em São Paulo
O ex-zagueiro Alceu, que atuou nos anos 80 por Guarani, Avaí e Atlético-PR, é contemporâneo do ex-meia Neto, que é apresentador e comentarista da Band. Juntos, defenderam a seleção brasileira de juniores. Tornaram-se amigos. Também eram daquela época o goleiro Gustavo Nery, Evair, João Paulo, Tozin e Mauro Silva.
Do Atlético-PR, Alceu foi para o Avaí, voltou para o Atlético-PR, passou por Inter de Limeira, Taquaritinga, Grêmio Maringá e Uberlândia, até interromper a carreira no final de 1995, após sofrer uma lesão no joelho.
Em 1999, voltou para Lages, sua cidade natal, e retomou a carreira no local Lages Esporte Clube. Atuou ainda pelo Internacional de Lages na segunda divisão catarinense até encerrar definitivamente a carreira.
Ainda no Atlético-PR, em 1992, no início de uma pré-temporada, conheceu a cocaína. Segundo ele próprio, foi "amor à primeira vista". "Nós descemos para a praia. Era um fim de semana de folga e eu fui com alguns jogadores profissionais. O pessoal estava usando e eu experimentei. Eu tinha medo da reação do meu organismo. Tive aquela sensação boa de bem estar que a droga provoca no início", relembra.
Ele conta que nem os dirigentes nem a comissão técnica desconfiaram. "Não dava para perceber porque a gente fazia festa e ficava virado. Ia direto para o treino e chegava com aquele cheiro de álcool. Uma coisa levava à outra".
Em 1994, chegou a passar dois meses na Grécia. "Nessa época eu usava droga esporadicamente. Eu não era um usuário habitual. Depois da lesão no joelho no Uberlândia, não tive suporte para fazer uma boa recuperação. Pediram para que eu ficasse em casa. Foi quando eu realmente me afundei. Em 1995, conheci o crack. Mas nunca joguei drogado. Eu sempre usava depois dos jogos. Durante a semana, o exame antidoping era raro. Nunca fui pego por nada, mas para jogar, nunca usei".
Ele conta que uma das ilusões daqueles que se envolvem com drogas é achar que pode se parar quando quiser. "Mas na verdade, quando a gente vê que realmente não e assim, é quando fala para si mesmo. "Vou parar. Não quero mais". Mas aí sente falta da droga e vê que o negócio está ficando bem sério. As coisas começam a dar errado porque o comportamento da pessoa não é bom. Ela começa a deixar suas responsabilidades pelo fato de ter passado uma noite em claro. Aí começam a vir as consequências".
Em 2004 foi internado pela família no Creta (Centro de Recuperação de Toxicômanos e Alcoolistas). "Chegou um dia que eu não aguentava mais. Decaí muito, pedia ajuda para a minha mãe e falei que precisava me internar. Eu percebi que não dava mais quando eu tirei duas latas de óleo pra levar ao traficante. Depois de passar a euforia do uso da droga, eu tomei consciência que realmente a coisa estava num estágio que não dava mais para continuar. Fiz um tratamento de nove meses. Depois disso, passei a trabalhar lá como voluntário, até 2011".
No período de recuperação, em 2010, conta que Neto passou a pagar um curso universitário de psicologia para ele, cursado por sete semestres. Neto também financiou uma escolinha de futebol para que ele pudesse trabalhar.
"Quando ele (Neto) soube o que estava acontecendo comigo, ele perguntou o que eu gostaria de fazer. Foi quando falei que gostaria de cursar uma faculdade. Fomos mantendo o contato. Eu sempre ia para São Paulo e ele começou a pagar a minha faculdade. Ele me ajudou a manter a escolinha de futebol. A escolinha era na cidade vizinha de Paulo Lopes. O Neto mandou uma mensagem incentivando, fizemos a inauguração e convidamos toda a sociedade local. Ele me indicou o hospital São Luiz e foi detectada a arritimia.
Alceu disse que recaiu no uso da droga quando descobriu o problema no coração e teve de parar com a escolinha, por não poder fazer esforço físico. "Foi quando parei a faculdade também. O Nego gosta de mim, quer ajudar, mas não quer que volte aquilo tudo. Graças a Deus hoje eu estou limpo novamente, voltei e fiz o tratamento novamente, há quase dois anos. Depois da recaída, o Neto falou que teve vontade de dar um soco no meio da minha cara. Ele disse isso não só por conta da ajuda financeira, mas por ele ter me levado para dentro da casa dele, com a família dele e eu ter dado essa decepção. Acabamos nos afastando por esse motivo".
Alceu diz se sentir envergonhado por tudo o que aconteceu, inclusive por ter quebrado a confiança do amigo. "O apoio que eu tinha dele era fundamental para mim. Eu sinto muito a falta de falar com ele. Tudo o que eu queria era rever o Neto e ele me ver bem de novo, como eu estou agora. Quando ele me viu pela última vez eu não estava bem e ele ficou meio sentido. Ele é uma pessoa muito especial para mim. Eu estou com mais de 100 kg de novo. Eu tinha emagrecido muito. Mas tenho fé de que ele vai me perdoar.
Ao saber da entrevista, Neto disse que tem com Alceu uma amizade de mais de 40 anos e que deixou de ajudá-lo financeiramente quando soube que ele teve uma recaída. "Senão ele ia usar o dinheiro meu para comprar drogas".
Neto lembra ter auxiliado o amigo quando ele apresentou o problema cardíaco. "Ele estava na minha casa e eu o levei ao hospital. O Alceu ficou três dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Ele estava morrendo de infarto e praticamente salvei a vida dele. Eu pagava R$ 1 mil por mês e montei duas escolinhas para ele. Eu sou amigo para caralho. A verdade é a seguinte: se ele parou de usar crack eu volto a falar com ele. Se ele continuar a usar, ele tem que se tratar. Não sou eu que tenho que me tratar. Eu estou a disposição dele, com o coração aberto", disse. "Ele desperdiçou uma coisa tão linda que ele tem, porque ele é amoroso, é um bom pai, ele é um grande amigo meu. O dinheiro não é nada. Eu dei mais para ele do que pra minha família, mas por mim ele está perdoado. Se ele sair das drogas ele está junto comigo para o que der e vier."
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