Alberto Helena Júnior

Jornalista, mais de 50 anos de história

Alberto Helena Júnior nasceu em 15 de novembro de 1941 e é, sem dúvida nenhuma, um dos grandes nomes da história do jornalismo brasileiro.

Em julho de 2014, Alberto Helena foi contratado pela Gazeta para ser comentarista dos programas "Gazeta Esportiva", "Mesa Redonda" e "Super Esporte".

Atuou como comentarista do SporTV, colunista do Portal IG e do jornal Diário de São Paulo. Em mais de 50 anos de profissão, assinou reportagens especiais em alguns dos principais veículos de comunicação de massa do país e esteve presente em todos os continentes do planeta.

"Eu devo ao jornalismo a oportunidade de ter conhecido boa parte do mundo, praticamente todo ele. Isso foi tudo muito positivo, embora, nessas viagens os trabalhos fossem tão absolventes que você acabava não podendo explorar turisticamente essas experiências. Mas foi muito bacana. Bom você ter contato com outras culturas e verificar o que é que poderia ser utilizado por nós aqui no Brasil", revela Alberto Helena, em entrevista exclusiva concedida ao Terceiro Tempo.

Apesar de ser um talento nato, a inspiração que lhe rendeu bons frutos à imprensa surgiu longe das redações. Foi dentro de casa, no que para muitos garotos poderia ser uma chatice, que o jornalista começou a desenvolver a técnica de contar uma história. "Minha mãe era professora de português e estimulava muito a leitura e a escrita. Ela tinha um método muito interessante que todo o dia, toda à noite - depois que terminava a tarefa da escola - ela botava um quadro na frente e mandava escrever sobre aquele quadro. Na outra semana, você tinha seis dias para mudar a história do quadro. Então, isso aí, foi um belo exercício que eu tive desde a infância, desde os sete, oito anos de idade".

Em 2013, Alberto Helena Júnior escreveu o prefácio da biografia de Milton Neves, lançada em 11 de novembro de 2013, no Shopping Frei Caneca.

 A música:

Deu certo. A tarefa de descrever a imaginação logo se tornou arte e fez da curiosidade pelo desconhecido o instrumento perfeito para a composição de uma carreira predestinada ao sucesso: "Eu pesquisava muito sobre música popular brasileira e tinha um programa na Rádio São Paulo que era conduzido pelo Moraes Sarmento, na época discotecário da rádio. Comecei a ir lá e fiz amizade com ele. Mais tarde eu fui para uma revista chamada Etapas, que era uma revista para a colônia árabe ? metade em português e metade em árabe -, e a parte em português eu fazia a revisão. Eu escrevia duas páginas, uma sobre música popular ? o cancioneiro do Brasil ? e outras sobre crônicas do cotidiano."

O reconhecimento pelo trabalho impresso o levou a um desafio ainda maior: a televisão. "O Show da Noite foi um resgate que a TV Record na época fez de programações ao vivo. Eu fui chamado pra dirigir o programa com o Wilson Fittipaldi apresentando, mas depois ele não pôde continuar e eu assumi o lugar dele e fizemos esse programa, que era um programa de fim de noite, como o do Jô Soares. Eu comandava, só que havia vários entrevistadores de cada área. Cada segmento tinha um correspondente".

Nos estúdios, Alberto Helena Junior mostrou à imprensa da época que era possível trabalhar em um veículo inovador e manter a mesma credibilidade conquistada em redações mais tradicionais. "Quando eu fui para a televisão, eu era basicamente um jornalista de mídia impressa. Eu fui um dos poucos caras da mídia impressa que foi pra televisão porque havia um certo preconceito por parte do pessoal da mídia impressa, de jornal e revista, com relação ao pessoal que trabalhava na televisão."

A televisão:

A mudança influenciou também na maneira de conduzir o próprio talento. "No início eu tinha pavor terrível de aparecer na televisão porque a mídia impressa, o trabalho que eu exerci a vida inteira de copy desk, de redator, de chefe de editor - essa coisa -, desenvolve um auto-policiamento muito grande com relação à linguagem. Então você fica pensando muito e é uma coisa você pensar diante do pecado que tem um tempo muito maior e um outro diante do microfone, que o tempo é nenhum. Então, é por isso que eu aprendi que aquilo que eu abominava como jornalista de mídia impressa que é o chavão, lugar comum, o advérbio, o adjetivo, isso aí é uma muleta pro cara que trabalha em rádio e televisão. Não tem como abrir mão disso. A mídia impressa execrava, é uma lástima. Agora, no texto falado, na televisão e no rádio, você tem que ter esse suporte se não você não consegue desenvolver o seu trabalho.

"Diante das câmeras, o jornalista participou diretamente da revelação de grandes nomes da música brasileira. "Na televisão eu fiz de tudo. Fui produtor de show musical, de programas musicais, do 1º Festiva da TV Record, do 2º Festival da Música Popular Brasileira, dirigida pelo Solano Ribeiro. Fui produtor. Eu fazia os textos daquele festival que lançou toda aquela geração maravilhosa de compositores e interpretes: Caetano, Gil, Paulinho da Viola, Chico Buarque. De todo mundo. Geraldo Vandré, enfim. Eu tive essa participação. Dirigi programa do Jair Rodrigues no Rio de Janeiro da TV Excelsior".

O esporte:

Alberto Helena Junior apresentou ainda o Nosso Jornal na TV Gazeta. Foi quando o esporte apareceu na sua vida: "Fiz o Na Linha do Gol que já era um programa esportivo, fui comentarista de futebol da Rede Bandeirantes e participei de vários programas esportivos. Em 69 eu era editor da Última Hora dominical, o primeiro jornal em cores e o sétimo no Brasil. Nós pedimos demissão. Nós todos pedimos demissão e eu voltei para o Jornal da Tarde onde eu havia trabalhado como crítico musical no início do jornal, quando o jornal foi lançado. E aí eu voltei pra lá. A única vaga que tinha era de esporte. Foi muito engraçado porque todo mundo me conhecia como um cara ligado à área de cultura e o Murilo Felisberto, que era o diretor de redação do jornal, marcou um jantar comigo e disse:

- Alberto Helena, você não sabe nada de futebol. Por quê você vai se meter nisso?

- Pô, eu tenho que trabalhar. Só tem essa vaga no jornal.

- Então escale a sua Seleção Brasileira!

Era véspera da Copa do Mundo de 1970. Então eu escalei:

- Bate com a minha! Então, você está contratado!

Mas o Murilo não sabia nada de futebol, não sabia nem como era a forma da bola. Mas, enfim, aí comecei a trabalhar lá no esporte do Jornal da Tarde como copy, depois virei sub-editor, pauteiro, e em 1974 passei a ter a coluna Bola de Papel".

Com a Seleção Brasileira de Futebol, Alberto Helena Junior possui uma coletânea de histórias: "Eu tive coisas bacanas. Eu me lembro na Copa de 1974, na Alemanha. Eu fui pra lá dirigindo a equipe do Jornal da Tarde. Eram oito pessoas, se não me engano. E de repente aconteceu o seguinte. Estava aquele clima terrível ainda por causa do rescaldo do atentado de Munique, em 1972, nas Olimpíadas, e mais a ditadura no Brasil. Então a Seleção ficava lá quartelada em um hotel cheio de polícia com metralhadora e ninguém conseguia falar com ninguém. Era um inferno. E um dia eu fui lá e pedi uma entrevista com o Zagallo, exclusiva. Mandaram eu falar com o Zagallo. Se ele quisesse dar, tudo bem. Fui no Zagallo e disse:

- Quero fazer uma entrevista exclusiva com você.

E ele disse:

- Está bom. Sábado agora.

Aí eu chego lá no sábado e todos os repórteres brasileiros estavam na porta da concentração, tomando chuva, frio e ninguém podia entrar. Ficavam todos na calçada, na porta, na rua. Conforme eu fui chegando no portão a turma começou a me gozar. E eu cheguei lá, abriram o portão e eu fui no quarto do Zagallo e fiz uma entrevista de duas horas com ele, exclusiva. Foi uma entrevista espetacular e quando eu saí todo mundo estava em pânico. Aí dei um baile na última página do caderno especial do Jornal da Tarde. Foi uma das tantas experiências bacanas que eu tive em Seleção".

Para o jornalista, tanto o futebol quanto a música fazem parte de um casamento inseparável: "O samba e o futebol estão interligados desde sempre. Vários clubes nasceram de escolas de samba, de grupos de samba, e vários grupos de sambas e escolas de samba saíram de clubes de futebol da várzea. O brasileiro encantou o mundo exatamente por essa capacidade de criação, de improvisação e de dar um toque artístico no jogo da bola, que é uma coisa que está muito interligada com a nossa dança, com o nosso som, com a nossa música."

O futuro do jornalismo:

E em tempos em que o jornalismo cada vez mais busca uma identidade, o comentarista relembra com saudosismo o passado da profissão. "Antigamente as redações eram um ponto de encontro das pessoas importantes, dos literatos, dos músicos. Todo mundo ia para a redação, passava um tempo lá, batia um papo. Você sentava na mesa, fumava. Aquilo era uma lixeira. O cara gritava, falava alto, discutia, brigava. Hoje você entra numa redação e aquilo parece uma UTI. Você tinha discussão, você saia da redação e ia jantar e ficava discutindo jornalismo. Era uma coisa realimentada sem parar. Hoje eu não sei. Eu vejo a coisa toda muito bem organizada."

Em relação a queda do diploma de jornalismo, Alberto Helena Junior defende a tese de que o curso deveria ser uma especialização. "Eu sempre fui contra o diploma. Isso eu acho ideal: você vai ter um sujeito com uma formação universitária, embora a nossa formação universitária seja muito fraca. Depois a gente vai ter esse cara com vocação pra jornalismo porque hoje a molecada entra no jornalismo porque é o curso mais fácil. E chega lá eles querem ser é repórter da Globo, aparecer na Globo. Ele não tem essa visão de jornalismo."

Somente com o jornalismo na alma, reportagens históricas e memoráveis, como a que Alberto Helena Junior publicou em o Cruzeiro, permanecerão presentes na atualidade do jornalismo brasileiro. "Eles aprovaram um projeto que eu tinha que fazer uma reportagem com LSD. Eu acabei indo. Nós tomamos a droga sob orientação médica e eu transcrevi essa experiência que eu tive em texto. Essa reportagem teve um sucesso muito grande no Brasil inteiro. Eu saí pelo Brasil dando palestras. Foi um negócio muito interessante."

Confira em áudio a entrevista completa, concedida por ele à redação do Portal Terceiro Tempo.

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