A resposta de Sandunguita aos africanos

Chico Santo, bastidores da Copa do Mundo-2010
Paula Vares Valentim
jornalista responsável

Chico Santo, direto da África do Sul - O que Sandunguita, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Dunga tem em comum? A resposta é absolutamente tudo. Mas é preciso esclarecer. Antes de mais, vale ressaltar que o nome Sandunguita está longe de ser uma analogia sem graça de Dunga. Mesmo porque de Santo, Dunga não tem nada. Na realidade, Sandunguita esconde o segredo para o principal ponto de interrogação dos sul-africanos, afinal de contas, em toda a África do Sul, não há sequer um brasileiro que não tenha sido questionado sobre a ausência de Ronaldinho Gaúcho. "Por que ele não está aqui??, querem saber. Um mistério que pode ser compreendido através da história de Sandunguita. Vamos lá. Para quem não sabe, Sandunguita nada mais é do que uma luxuosa boate. Um reduto de boemia situado em Barcelona, na Espanha. Um lugar de descanso e curtição que jamais seria mencionado neste espaço se Ronaldinho Gaúcho e Adriano tivessem sido ao menos complacentes com o corpo da Seleção Brasileira velado pelo luto de 180 milhões de corações apaixonados durante o fracasso do hexa, na Copa do Mundo da Alemanha, conhecida, também, como a Copa dos Recordes. Coincidência ou não, justamente em Sandunguita, a dupla de brasileiros, menos de vinte e quatro horas após a derrota para a França, foi vista dançando até às 5 horas da manhã na primeira noite subseqüente à desclassificação do Brasil no mundial de 2006. Como se o gol de Thierry Henry fosse apenas mais um. Como se o humilhante show de Zinedine Zidane, no que foi considerado pela crítica internacional como uma das melhores atuações do craque francês, não tivesse um gosto amargo para os torcedores brasileiros que esperavam, no mínimo, em 2006, uma vingança do que teria sido um mal entendido em 1998. Não foi. Ronaldinho Gaúcho e Adriano aparentemente não sentiam nenhum tipo de dor. Estavam inteiros na balada. Se ao menos a boate tivesse outro nome. Que falta de sorte. Logo Sandunguita. Devem estar pensando: "Maldição. Sim, trata-se da Maldição de Sandunguita?. Ah se a farra tivesse acontecido em outro local... Poderia ser até no bar do Milton Neves em São Paulo. Ou no Shopping Frei Caneca. Qualquer lugar, desde que o nome da balada não fosse Sandunguita. Tenha paciência. A verdade é que ao assumir o comando técnico da Seleção Nacional do Brasil, Dunga deixou claro que quem quisesse estar na Copa do Mundo da África do Sul teria, acima de tudo, que respeitar a camisa verde-amarela. O mandamento número um do treinador foi dito várias vezes e registrado, também, pela equipe de reportagem do Portal Terceiro Tempo, em Tallin, na Estônia, na tarde de 12 de agosto de 2009.

"Desde que nós chegamos na Seleção, nós falamos que todos que estivessem aqui teriam que ter muita vontade e alegria. Os jogadores que temos aqui estão correspondendo com o compromisso, sacrifício e a vontade de estar na Seleção Brasileira. A gente leva em conta quem quer ir em jogos difíceis, Copa das Confederações, Copa América e férias. Copa do Mundo até eu quero jogar, mesmo sem uma perna?, afirmou Dunga, em um recado direto aos sandunguistas de plantão. Tudo bem que o treinador também não andou cumprindo com a palavra. Em 1997 disse ao repórter Leandro Quesada, da Rádio Bandeirantes, em entrevista concedida em Osaka, no Japão, que "jamais treinaria a Seleção Brasileira antes de adquirir a experiência necessária em um clube?. A afirmação, para não chamar de mentirosa, soou, como diriam os inglórios no Brasil ? longe da Copa do Mundo -, de no mínimo "esquisita?. Como o mundo dá voltas. Mas, entre nós, desrespeitar a cartilha do homem que convoca não parece nada inteligente.
Em Johanesburgo, os sul-africanos não perguntam sobre Adriano. Nem sabem quem é. Se indagassem a resposta seria: "Só faltou o Imperador chamar o treinador para uma noitada em Sandunguita . Ele fez de tudo para não ser convocado. Pediu para que isso acontecesse. Foi artilheiro do Brasileiro, levantou a taça, subiu o morro e encontrou no Rio de Janeiro uma versão nacional do que seria o Sandunguita do Cristo Redentor. Ronaldinho Gaúcho, em contrapartida, apesar da ausência de um substituto à altura do baleado Kaká, também pecou. Teve propostas para voltar ao Brasil e mostrar seu futebol quando a bola de seus pés parecia estar tão murcha quanto o futebol apresentado na Copa do Mundo de 2006. Recusou. Não apareceu. Não correspondeu quando convocado por Dunga. Deixou o gramado vaiado pela própria torcida brasileira em alguns dos jogos que realizou durante as Eliminatórias. Poderia ter feito como Robinho, que voltou ao Santos para salvar a Copa.
Aliás, que seja dita a verdade. Robinho foi o único jogador a deixar o gramado chorando após a derrota da Seleção Brasileira contra a França. Daí a diferença para os relacionados e os ausentes. Daí a explicação que o povo sul-africano não se cansa de pedir aos brasileiros aqui na África do Sul. A resposta é que bem ou mal, Dunga optou por aqueles que trocaram o conterrâneo Sandunguita pelo trabalho. Uma atitude que merece ser respeitada. Ainda que Kaká se machuque e o glorioso Julio Baptista ganhe a função de meia-armador. Só não vale perder a Copa e sair para comemorar no Mandelão de Soweto. Repetir o mesmo erro é burrice. 
ver mais notícias

Selecione a letra para o filtro

ÚLTIMOS CRAQUES