A metralhadora de Dunga

Chico Santo, bastidores da Copa do Mundo-2010

Paula Vares Valentim
jornalista responsável

Chico Santo, direto da África do Sul - A Seleção Brasileira apanhou. Saiu de campo machucada. Levou pontapés de todos os lados. Inclusive da arbitragem. Stephane Lannov foi amigo da onça. Deu uma mãozinha para Luis Fabiano e depois uma mãozona para o Kaká. Aliás, de francês, em Copa do Mundo, não dá para esperar outra coisa. Você se lembra do beijo do Zidane na careca do Roberto Carlos? Depois deu no que deu. Até chapéu em Ronaldo o carrasco brasileiro meteu. Foi uma das mais exuberantes atuações de um jogador em todos os tempos. E todo mundo aplaudiu. Até o Dunga que já estava de olho na cabeça do Carlos Alberto Parreira.  Mas a realidade é que Stephane Lannov deixou o jogo correr e assistiu uma outra partida. Nem mesmo a charmosa Demi Moore, famosa por seu quadril um pouco mais voluptuoso, digamos, assim, engoliu a expulsão do Kaká. Saiu em defesa do meia brasileiro que ao deixar o gramado desabafou: "as imagens vão falar por mim?. O ex-são paulino não consegue bater nem em barata. É verdade que o nosso camisa 10 baleado deu um chega pra lá no lance do primeiro cartão. Mas quem expulsa Kaká merece um troféu. Em Copa do Mundo, então, nem se fala. Nem mesmo o Dunga, que tem cara de mal e coração de leão, colocou o Kaká para fora. E olha que o craque brasileiro merece o banco faz tempo. E o Dunga, por sua vez, é o Dunga. Mas, pensando bem, até que a expulsão que o tal do Lannov arrumou foi bom pra todo mundo. Só não foi para o Kaká, que não precisa provar nada para ninguém. Mas que o Dunga deve estar comemorando... Imagine a alegria do treinador em saber que vai poder testar o seu reserva de luxo em paz. Ninguém vai poder falar nada. E será que vem o Julio Baptista? Mas e o Elano? Também saiu machucado. Os elefantes surpreenderam com suas pisadas. A Costa do Marfim foi mais perigosa que a temida Coréia do Norte. E olha que quando se fala em ataque norte-coreano, de cara, se pensa em armamento pesado. Faltou pouco para o Elano voltar para casa e assistir o restante da Copa ao lado do Emerson. Aliás, o Emerson poderia ter deixado para brincar depois da Copa. Agora, se alguém duvidava do amadurecimento do Luis Fabiano, o mais batedor de todos, ficou provado que os tempos mudaram. Que ele sabia fazer gol, era inquestionável. Os números falam por si. Ficou um tempo sem balançar as redes com a Seleção, mas ele é o Luis Fabiano. Como dizem os comentaristas mais precavidos, falar mal de camisa 9 é querer dar um tiro no pé. Ainda mais se for Luis Fabiano. Os dois gols contra os africanos não foram motivos de surpresa. A novidade é o ex-são paulino apanhar e não revidar. Em outros tempos ele teria quebrado a perna de uns quatro. Claro, neste caso, seria em legítima defesa, afinal de contas, não dá para apanhar toda hora.
E o recado vale pro Dunga. O treinador continua entrando com as duas solas para cima da imprensa. A última foi falar que os jornalistas não queriam Luis Fabiano com a 9. Isso não dá para engolir. Nem mesmo o Zagallo ficaria calado. Diz o mestre que "a vitória costuma apagar os erros?. Tudo bem. Mas a história não pode esconder as verdades. Faz tempo que o Dunga vem com o papo que a derrota de 2006 foi culpa da imprensa. OK. É preciso esclarecer alguns pontos. Quem batizou de "Oba-oba? a concentração em Weggis não foi o atual treinador e ex-capitão de 94. O Dunga até que parece querer esse título, mas foi a imprensa que mostrou "pessoal, tem alguma coisa errada. O trabalho virou bagunça?. É bom que o torcedor saiba que quem vendeu os treinos para o mundo inteiro, incluindo televisões de guerra, como a Al Jazira, foi a CBF e que nenhum jornalista ganhou luvas por isso. Quem dançou com o Ronaldinho Gaúcho no gramado não foi nenhum repórter. Também não foi nenhum comunicador que jogou o Robinho na lata de lixo. Será que o Dunga se lembra disso?
Mas, vale dizer, que foram os fotógrafos - e lamentavelmente, esse título não pertence ao Brasil ? que flagraram meio time da Seleção Brasileira em uma balada em plena Copa do Mundo. Kaká e Cafu não estavam entre os baladeiros. Agora, que o Dunga tem que parar de entrar com as travas da chuteira, isso é uma coisa óbvia. Não cola a tese de que a imprensa joga contra. Todos querem a vitória do Brasil. De preferência com show. Mas se vier aquele jogo sem graça que dá resultado com pênalti do adversário batido pra fora, tudo bem. Melhor do que nada. Mas que fique clara a frase que me foi dita pelo técnico Vanderlei Luxemburgo, hoje com a perna quebrada, em 2002 durante a minha primeira Copa do Mundo. "Quando o Brasil vence é bom para todo mundo. É bom para o jogador que fica mais valorizado. É bom para o treinador que abre portas na Europa. É bom para o torcedor que comemora o título. E é bom para você que está começando a sua carreira e que vai ter muitas outras oportunidades?.
Então, Dunga, imprensa que joga contra a seleção só lá no Afeganistão. Por lá os jornalistas devem estar cansados de coberturas de guerra. Não que na África do Sul, no Hadpark Golf, em Joanesburgo, a coisa seja diferente. Mas Dunga, menos. Ou a gente vai ter que chamar o Ronaldo para relembrar os rolinhos que fizeram do Fenômeno o maior artilheiro da história das Copas.  Só faltava você ter batido nele também.

 

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