Entre a mesmice que cerca cada humilhação, apenas um se destaca e tem nome e número

Entre a mesmice que cerca cada humilhação, apenas um se destaca e tem nome e número

Danilo Lavieri e João Henrique Marques

Do UOL, em São Paulo

Há muitas semelhanças nas goleadas mais marcantes na história recente do Palmeiras. O que mais impressiona é que, por mais diferente que seja a diretoria e o elenco, o discurso é quase sempre o mesmo, nas mais emblemáticas, como a do 7 a 2 para o Vitória, em 2003, e as mais recentes, os revezes contra o Coritiba, por 6 a 0, em 2011, contra o Mirassol, por 6 a 2, em 2013, e contra o Goiás deste último domingo, por 6 a 0, em mais uma rodada do Brasileirão.

Entre a mesmice que cerca cada humilhação, apenas um se destaca e tem nome e número: Marcos, 12. O ex-goleiro é o único que conseguiu sair do comum nas goleadas em que esteve presente. Não poupava palavras para atacar companheiros, para admitir seus próprios erros e dizer frases marcantes que são lembradas até hoje.

Outra grande semelhança é a presença de Mustafá Contursi. Ele era o presidente em 2003 e homem forte nas eleições de Arnaldo Tirone, que governou no biênio 2011/12, e Paulo Nobre, atual presidente. A política do bom e barato prevaleceu em 2003 e também manda atualmente, como mostram os discursos.

Entre no túnel do tempo (ou nem tanto) com o UOL Esporte:

O QUE DIZEM OS DIRIGENTES:

NO PLANEJAMENTO PARA DISPUTAR A TEMPORADA 2003

"O time é bom, ele (Jair Picerni) tem de dizer que é difícil porque, se subir, vai se valorizar", disse presidente Mustafá Contursi, antes da goleada por 7 a 2 para o Vitória.
NO PLANEJAMENTO PARA DISPUTAR A TEMPORADA 2014

"Não quero decepcionar o torcedor, mas o Palmeiras não pode ser refém do centenário. Não faremos loucura. O que posso garantir é que teremos uma equipe que vai honrar a nossa camisa em 2014", disse Paulo Nobre no início da temporada de 2014.

"O time não é ruim. Não estou preocupado com rebaixamento, estou preocupado em chegar na Sul-Americana", disse Brunoro (diretor-executivo do Palmeiras) no início de setembro em 2014.

DEPOIS DA GOLEADA PARA O VITÓRIA, EM 2003

"Se depender de mim, não vamos ter reforços de peso. Acredito que os medíocres se destacarão. A política é não fazer loucuras", disse o diretor de futebol em 2003, Mário Giannini.

DEPOIS DA GOLEADA PARA O CORITIBA, EM 2011

"Foi um desastre, vamos conversar para saber o que aconteceu. E não adianta falar que o time é fraco. Até pouco tempo, todo mundo estava elogiando", disse o então presidente Arnaldo Tirone.

DEPOIS DA GOLEADA PARA O MIRASSOL, EM 2013

"Não vamos tirar um técnico e mudar todo nosso plano. A responsabilidade que tenho como presidente é muito grande, e vou lutar para seguir com esse trabalho. Não pode faltar comprometimento e raça. O Prass e Bruno deixaram claro que o grupo tem vergonha na cara, está envergonhado, e vai lutar por reação", disse o presidente Paulo Nobre.

DEPOIS DA GOLEADA PARA O GOIÁS, EM 2014

"Foi um desastre. Um placar adverso de 6 a 0, para um time como o Palmeiras, é totalmente fora de pensamento. Temos de tomar providências e reagir rápido. A rodada, em teoria, não foi tão ruim. Não nos deixou distante dos outros times. Temos de reagir como gente grande, como o Palmeiras. Não temos de ficar sentados no 6 a 0, temos de trabalhar muito para revertermos isso", disse Brunoro.

O QUE DIZEM OS TÉCNICOS:

DEPOIS DA GOLEADA PARA O VITÓRIA, EM 2003

"Não é só o técnico que tem de pagar o pato. A diretoria e os jogadores também. Nós vamos reagir, mas precisamos de reforços", disse Jair Picerni.

DEPOIS DA GOLEADA PARA O CORITIBA, EM 2011

"O Coritiba fez uma partida fantástica, nos bateu. Temos que valorizar nosso trabalho, que estava sendo maravilhoso até hoje. Vamos resgatar a autoestima do grupo e reagir", disse Felipão.

DEPOIS DA GOLEADA PARA O MIRASSOL, EM 2013

"Em momento algum estou colocando culpa em alguém, estou me isentando. Estou trabalhando, olhando para frente, tendo postura, pedindo para que possamos reagir", disse Kleina.

DEPOIS DA GOLEADA PARA O GOIÁS, EM 2014

"O jogo de hoje foi uma situação inusitada, pela maneira como acabou desenvolvendo. Agora temos que procurar soluções. A partir de hoje, vamos buscar isso. Com certeza, não pode continuar como está. Precisamos de uma mudança de postura. O Goiás fez o resultado, fez por merecer. Não tivemos forças para uma recuperação", disse Dorival.

O QUE DIZEM OS JOGADORES:

DEPOIS DA GOLEADA PARA O VITÓRIA, EM 2003
"O time não está rachado, não tem problema interno. O problema é que estamos errando demais. Foi o pior jogo da vida de todos aqui. Se fosse verdade que a gente cresce na derrota, nós tínhamos que ser gigantes", disse Magrão.

DEPOIS DA GOLEADA PARA O CORITIBA, EM 2011

"Faltou tesão, faltou vontade, faltou tudo hoje. Não tem como explicar o inexplicável. O pior jogo da minha vida", disse Kleber Gladiador.

DEPOIS DA GOLEADA PARA O MIRASSOL, EM 2013

"Nunca vi nada como isso. O que aconteceu foi inacreditável. Conseguimos o 3 a 2, mas o Mirassol estava numa noite incrível e a gente estava muito abaixo", disse Fernando Prass.

DEPOIS DA GOLEADA PARA O GOIÁS, EM 2014

"Nunca sofri uma goleada como essa. O elenco não é ruim . Agora, para jogar nesse time é preciso ser homem, é preciso ter vergonha na cara", disse o atacante Diogo. "Eu tenho mãe, tenho família, eles estão sofrendo", disse Diogo no último domingo.

"Nosso time não reagiu e tomou os gols muito fácil. Foi falta de atenção. De repente, nas duas primeiras bolas ali atrás surgiram os dois primeiros gols", disse Lúcio neste domingo.

O QUE DIZ MARCOS:

DEPOIS DA GOLEADA PARA O VITÓRIA, EM 2003
"Hoje, nosso time não impõe respeito. Fomos grandes, mas não somos mais. Estou até treinando para explicar derrotas", disse Marcos.

"A culpa não é só da defesa. Mas eles podiam ter avisado antes que eu nem entrava em campo. A próxima vez é mais fácil", disse Marcos.

DEPOIS DA GOLEADA PARA O CORITIBA, EM 2011

"Podiam me avisar no vestiário que estavam desanimados. Eu nem entrava em campo. Agora que cavamos o buraco eu quero terminar de enterrar", disse Marcos.

DEPOIS DA GOLEADA PARA O MIRASSOL, EM 2013

"Sabe o que me irrita quando acontece uma coisa dessa? É que o tempo passa, e a única pessoa lembrada no jogo é o goleiro. Todos esquecem que os outros também jogam. Experiência própria. Força, Prass!", disse Marcos, já aposentado.

Foto: UOL

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