No metrô, a televisão mostrava o gol perdido por Guerrero contra o Fluminense. Um torcedor em pé logo bradou: "Esse mercenário tem que vazar mesmo do Timão."
Ódio e paixão. No futebol e na vida, estão sempre muito próximos, mas se é compreensível que o torcedor, que até outro dia idolatrava o autor do gol do Mundial contra o Chelsea, esteja na bronca momentânea, o papelão da diretoria corintiana é imperdoável.
Aliás, outro papelão porque o Timão é mestre em maltratar ídolos, basta lembrar quanto tempo levou para que Rivellino fosse enfim homenageado. O Reizinho do Parque foi responsabilizado pela derrota na final do Paulista de 74 para o Palmeiras, foi mandado para o Fluminense e nunca escondeu a mágoa por ter pago sozinho pelo jejum de títulos que só se encerraria três anos depois.
A lista é extensa. Antes de voltar, em 94, por obra e agradecimento da torcida, Casagrande foi para Portugal porque sem Sócrates e sem os ares da Democracia Corinthiana já não tinha mais espaço no Parque São Jorge. Neto, o comandante do primeiro título brasileiro, foi praticamente chutado para o futebol colombiano. Voltou depois, mas sem a mesma forma física teve o nome colocado em uma lista de dispensáveis quando Luxemburgo assumiu o Corinthians pela primeira vez.
Rincón, que levantou a taça do primeiro Mundial, e se transferiu para o Santos logo depois, virou até nota de dólar na primeira vez em que enfrentou o ex-clube. Edílson, outro campeão do mundo, já era embaixador da Fiel quando foi cercado por torcedores enfurecidos com a derrota para o Palmeiras na Libertadores e também saiu pela porta dos fundos.
Guerrero foi embora sem despedida, sem festa, sem carinho. Aceitou uma proposta melhor, depois de esperar até o último minuto por uma resposta corintiana, que não conseguiu pagar o que ele acha que merece. É do jogo, é da vida, mas faltou grandeza para os dirigentes.
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