Entrevista do jornalista Maurício Sabará sobre taekwondo na Academia Contra Ataque

Entrevista do jornalista Maurício Sabará sobre taekwondo na Academia Contra Ataque

MAURÍCIO SABARÁ: Explique a origem do taekwondo.
FLÁVIO AMARAL: O taekwondo surgiu na Coréia, no período da guerra, antes do ano 960. Com o passar do tempo foi tendo várias modificações.
No Brasil chegou em 1970, quando o grão mestre Sang Min Cho o trouxe e sua influência fez com que a modalidade se tornasse grande pelo nosso país. Começou na cidade de Cruz das Almas, na Bahia, sendo depois difundido nos demais centro, desenvolvendo fortes praticantes e competidores, principalmente no Estado de São Paulo.

MS: Qual é o significado da palavra taekwondo?
FA: Taekwondo significa pé, punho e caminho. Ele é o encontro do corpo e da alma, fazendo com que a prática de todos os membro se consolidem na grandiosa arte marcial que praticamos.

MS: Como é a divisão das faixas?
FA: As faixas do taekwondo são divididas da seguinte maneira: “O iniciante começa na faixa branca; depois vai para a faixa amarela; recebe uma faixa intermediária com a amarela e a verde; em seguida vem a faixa verde; mais uma intermediária, que é a verde ponta azul; na sequência é a faixa azul; após essa vem a azul ponta vermelha; seguimos com a vermelha; faixa vermelha com ponta preta; e por último as faixas pretas, com o primeiro, segundo e terceiro Dan; no quarto Dan é considerado mestre; e por último a classificação de mestre e grão mestre.

MS: Mencione os golpes mais importantes. Praticamente a maioria deles são aplicados com o uso das pernas e dos pés.
FA: 70% do taekwondo é praticado pelos membros inferiores, pernas e pés e 30% com os braços e socos. Os principais golpes que aplicamos nas lutas são os de tchagui, cada um os seus devidos nomes nas faixas, chutes com saltos e chutes parados.

MS: Cite as diferenças que a modalidade tem em relação à outras artes marciais semelhantes, como o kung fu chinês e o karatê japonês.
FA: Com relação ao kung fu, vejo semelhança, mas a arte chinesa usa muitas armas. No taekwondo tradicional também usamos o tchaco, espada e bastão, mas a prática mesmo é a luta corporal.
Já o karatê é bem semelhante. Mas dependendo do seu estilo, usa mais os braços que as mãos, sendo bem diferente nas pontuações, com golpeamentos parecidos, mas não iguais ao taekwondo.

MS: Contem como o esporte passou a fazer parte de suas vidas.
FLÁVIO AMARAL: Comecei a praticar taekwondo com12 anos de idade por causa de uma bronquite. Minha mãe me levou ao médico que aconselhou para praticar uma modalidade esportiva. Encontramos perto do bairro que eu morava o taekwondo, que era viável financeiramente. Foi em 1988 e desde lá não parei de praticar, curei a minha bronquite, participei de vários eventos, até hoje dou aulas, tenho minha turma aqui na Academia Contra Ataque, ministrando todos os dias durante os períodos da manhã, tarde e noite.
Teve um período da minha vida na prática do taekwondo que precisei parar pra poder estudar, ficando de 1996 a 2000 sem treinar, casei no último ano e minha esposa Mônica ficou grávida entre 2000 e 2001. Ela sempre deu aula de balé e ginástica, querendo que eu voltasse a praticar, já que me conheceu quando eu era atleta, pois na academia tinha espaço, bastando arriscar pra ver se dava certo novamente. Voltei começando com uma turma bem pequena de 5 alunos, indo pra 10, 15, se multiplicando e foi dando certo. Montei uma equipe que com o passar do tempo foi trocando por conta da idade, as crianças tendo que estudar e posteriormente trabalhando.
Depois da minha parada, estou dando aulas fixas desde o ano de 2000.

KAYQUE RAMOS: Minha primeira academia foi justamente a do Mestre Flávio Amaral, com 11 anos de idade. O motivo é porque eu era obeso e queria emagrecer. Meu Tio Ronaldo me trouxe aqui, ele já treinava com o Professor Flávio, pois vendo a minha situação resolveu que seria melhor iniciar no esporte. Comecei a treinar e gostar muito do taekwondo. Passei a ter sonhos, me tornando atleta juvenil com 15 anos. Graças ao Flávio Amaral, que me abriu as portas para que eu pudesse treinar com o Mestre Carlos Negrão, que participou de algumas Olimpíadas e foi treinador da Seleção Brasileira por muitos anos, excelente pessoa, técnico e amigo. Iniciei com ele no Baby Barioni, na Barra Funda.
Minha admiração por essa arte marcial aumentou ainda mais, sonhos maiores e comecei a viajar pelo Brasil, conquistando alguns títulos.
Infelizmente há um ano e meio tive uma cirurgia no joelho, rompendo o ligamento, fiz o tratamento e tive que me recuperar. O Flávio abriu a porta da sua academia para eu pudesse voltar, algo difícil de acontecer de um atleta retornar, pois geralmente sai por desentendimentos, o que foi diferente. Recentemente em setembro, graças à Deus, me tornei campeão bicampeão paulista universitário, primeiro campeonato pós-cirúrgico, devendo muito à ele e à sua esposa Mônica, que está aqui nos bastidores. Também devo muito ao Carlos Negrão, que continua acreditando em mim, me incentivando e apoiando. Ao Ronaldo, que não tenho muito contato atualmente, mas que me iniciou no esporte.
Devido à lesão, comecei a dar aula nessa academia por propostas e idéias do Professor Flávio. Estamos com um projeto muito legal, que se chama Contra Ataque do Takwondo, dando aula na APAE para crianças especiais, com Síndrome de Down e outros problemas, algo bem bacana, uma experiência nova na minha vida, muito produtiva e gratificante.
Volto a treinar e espero conquistar muitos títulos a partir de então.

MS: Quem são os principais nomes do taekwondo no cenário esportivo nacional e internacional?
FA: Na minha opinião, no cenário esportivo internacional, é o Steven López, que com a sua família representou a hegemonia do taekwondo por muito tempo. Eles deixaram uma marca e registro muito grande para nós. Apesar de não estarem atualmente no auge, foram referência mundial.
Um atleta brasileiro que não está mais em destaque, mas que foi octacampeão do Brasil é o Carlos Costa. Ele lutou muito por um período bem grande, mantendo sua hegemonia. Agora temos os atletas que estão se destacando através do Maicon Andrade, medalha de bronze na Olimpíada do Brasil, uma das novidades que temos.
Ultimamente estão surgindo vários atletas brasileiros e internacionais, fazendo com que o quadro esteja se renovando, com que nós conheçamos em cada momento atleta novos e figuras com grande potencial.

KR: Como atleta nacional importante cito o nome do Diogo Silva, que tive e tenho a oportunidade de treinar junto no Núcleo de Alto Rendimento Esportivo (NAR), comandados pelo Mestre Carlos Negrão. Outros nomes brasileiros importantes no cenário nacional e internacional são o Márcio Wenceslau e o Marcel Wenceslau, que foram atleta consagrados, dos quais tenho como espelho e que eu possa traçar caminhos iguais aos deles, com muitos títulos conquistados.

MS: Além da Coréia, destaquem outras forças do cenário esportivo internacional.
FA: No meu entender, além da Coréia, a Turquia é um país que vem se destacando. Os Estados Unidos também. A escola mexicana de taekwondo tem uma referência muito boa mundialmente.
KR: Os atletas de Cuba são altos e muito experientes, que também destaco como potências internacionais.

MS: Como é a prática feminina? Percebo que as mulheres praticam muito, dando a impressão de ser a arte marcial que tem mais atletas do sexo feminino.
FA: Ah, com certeza, o taekwondo tem um chamativo muito grande para as mulheres, por ser uma modalidade que a competidora não se machuca, usa os coletes e proteções, fazendo com que tenha uma segurança maior. O número do público feminino praticamente vem aumentando. Não só tais proteções fazem esse chamativo, mas a essência e ensinamento que o taekwondo traz pra nós também tem uma influência muito grande.

MS: Foi nas Olimpíadas de Seul, Coréia do Sul, em 1988 que o taekwondo passou ser esporte olímpico, justamente por ser de onde surgiu o esporte?
KR: Surgiu como esporte demonstrativo. Mas foi em 1992, nos Jogos Olímpicos de Barcelona (Espanha), que se tornou modalidade olímpica.

MS: Sei que o taekwondo surgiu na Coréia. As duas Coréias reivindicam a sua criação? Ambas costumam se enfrentar em competições internacionais? Qual delas você considera mais forte?
FA: A origem do taekwondo é onde se localiza atualmente a Coréia do Sul. Sabemos que existe uma separação política entre as duas Coréias. O fato da Federação Mundial do Taekwondo (WTF) estar no território sul-coreano faz com que sua participação seja maior. A Coréia do Norte é um país fechado, de regime socialista, então dificilmente existe a participação de atletas em competições internacionais.

MS: O que acharam da participação brasileira nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016?
KR: A participação brasileira, na minha opinião, não foi boa. Tivemos uma medalha com o Maicon Siqueira, que treina em São Caetano com a equipe Two Brothers. Mais seis atletas participaram, não conseguindo medalhas. A culpa não é deles, pois falta investimento nacional e incentivo para que o nosso país se torne uma potência no taekwondo internacional.
FA: Só para concluir o que disse o Kayque, se nós tivéssemos políticas de incentivo ao esporte, melhor administração, com certeza o atleta teria um desempenho superior, porque hoje ele precisa ser competidor, estudar e trabalhar. Então aquele praticante que precisa fazer todas essas coisas ao mesmo tempo, nem sempre consegue ter um alto rendimento, só para aquele que só se dedica ao esporte. Pra se viver só dele aqui é difícil, porque uma bolsa de 880 ou 1600 reais consegue se transportar e se locomover da sua casa até o centro de treinamento.

Maurício Sabará e Flávio Amaral

Maurício Sabará e Kayque Ramos

Maurício Sabará e Caio Carreiro

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