O jogador diz não ter nada a ver com o caso e, por sua vez, afirma que um erro desse nível só pode ter ocorrido com o envolvimento de dinheiro

O jogador diz não ter nada a ver com o caso e, por sua vez, afirma que um erro desse nível só pode ter ocorrido com o envolvimento de dinheiro

Vagner Magalhães e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

Ainda que o nome do meia Souza, campeão mundial de clubes pelo São Paulo em 2005, não apareça no inquérito da investigação sobre a escalação irregular do atacante Héverton no Brasileiro de 2013, o nome dele é recorrente nas conversas entre os conselheiros da Portuguesa que investigam internamente o caso.

O jogador diz não ter nada a ver com o caso e, por sua vez, afirma que um erro desse nível só pode ter ocorrido com o envolvimento de dinheiro.

Contratado pelo Fluminense em 2011, Souza foi emprestado no ano seguinte ao Cruzeiro, que por sua vez o repassou à Portuguesa no início de 2013. O empréstimo se deu na negociação com o atacante Ananias, que trocou o Canindé pela Toca da Raposa.

Durante o período em que permaneceu na Portuguesa, os três times ficaram responsáveis pelo pagamento do salário do jogador: cada um deles ficou por um terço dos vencimentos.

Souza passou o ano de 2013 na Portuguesa. No primeiro semestre foi campeão paulista da Série A-2 e no segundo foi uma das bases do técnico Guto Ferreira para que, dentro de campo, a Portuguesa se mantivesse na Série A do Campeonato Brasileiro.

Souza conta que nas últimas rodadas jogou no sacrifício, com uma lesão na coxa. Na penúltima rodada, a Portuguesa venceu a Ponte Preta por 2 a 0, em Campinas. O resultado livrava o time do rebaixamento. Assim, o jogo seguinte, pela última rodada, contra o Grêmio, passava a ser tratado no clube como um mero amistoso.

Na sexta-feira, dia em que Héverton foi julgado no STJD e foi condenado a dois jogos de suspensão, Souza conversou com o técnico Guto Ferreira e pediu para não enfrentar o Grêmio. Até então, oficialmente, ninguém no clube sabia que Héverton estava sem condição de jogo para enfrentar o time gaúcho.

O próprio Souza conta o que aconteceu. "Eu estava com uma lesão de grau dois na coxa. Eu tenho um buraco na coxa e até hoje dá problema. Eu joguei três jogos machucado para não deixar o time cair. Eu tinha um acordo com o Guto Ferreira de jogar até o time se livrar do rebaixamento. Aí eu ia parar para me tratar", diz o atleta.

A ausência de Souza fez com que Héverton, que em várias partidas sequer era relacionado para o banco de reservas, fosse requisitado por Guto Ferreira. Outros jogadores importantes, como o atacante Gilberto e o volante Bruno Henrique também estavam suspensos.

A desconfiança vem justamente desse pedido para não jogar e da relação do atleta com o Fluminense. Um dirigente afirma que Souza, inclusive, teria sugerido que se desse uma força para Héverton, que ficaria sem contrato no final de 2013 e precisava "aparecer" para seguir a sua carreira.

Para o ex-vice-presidente de futebol da Portuguesa, Luís Iaúca, a única chance de Héverton ser relacionado para o jogo era a ausência de Souza.

Souza desmente com ênfase as suspeitas. "Eu sou sincero. Se sai um negócio desse eu processo todo mundo, porque eu estava dentro de campo, eu fiquei sem receber eu não recebi até hoje. Eu coloquei eles (Portuguesa) na Justiça. Eu fui um dos líderes para puxar a rapaziada para o time não cair e agora vou ser usado como bucha de canhão?", pergunta.

"Se eles estão tentando alguma coisa que envolva o meu nome, será até bom para mim. É um jeito de eu ganhar mais dinheiro sem fazer nada, né?", diz, ameaçando abrir um processo contra os seus acusadores. "Todo dia quando eu vou dormir, ponho a mão no travesseiro e durmo tranquilo."

Apesar disso, Souza afirma acreditar que alguém dentro do clube tenha recebido dinheiro para que as coisas chegassem ao desfecho de rebaixar a Lusa.

"Alguém levou um dinheiro, entendeu? Alguém levou dinheiro, porque não é possível (...) É inadmissível. A gente não pode afirmar uma coisa concreta, mas estão querendo colocar uma coisa porque eu joguei no Fluminense. Dos jogadores, alguém que tinha contato lá era eu. Não tem outra explicação que não seja isso. Mas se surgir isso eu vou ganhar um dinheiro bacana. Eles só vão me ajudar", disse o jogador.

Souza conta que tem um processo aberto contra a Portuguesa para receber quatro meses de direitos de imagem, que não foram pagos. "Ficaram de pagar se o time não caísse. O time não caiu, aí aconteceu o que aconteceu".

Souza completa: "atleta não faz parte desse negócio. Esse negócio é de gente fissurada em dinheiro. Eu não posso afirmar, como o Ministério Público não pode afirmar, mas eu tenho quase certeza que esse negócio está mal contado", diz.

Investigação

O presidente do Conselho Deliberativo da Portuguesa, Marco Antonio Teixeira, afirma que as investigações internas prosseguem e que até agora não foi colhido o depoimento de nenhum atleta. Teixeira diz que está aguardando o comparecimento do ex-presidente do clube, Manuel da Lupa, para ouvir o seu depoimento e concluir as investigações.

"Queremos fazer isso o mais rápido possível, mas o ex-presidente não parece disposto a colaborar. Disponibilizamos três datas para que ele compareça ao clube, ainda este ano, e caso ele não venha, vamos pedir uma reconsideração ao juiz que está analisando o caso", diz.

Em setembro, Da Lupa obteve na Justiça uma "antecipação de tutela" que impede que os conselheiros tomem qualquer decisão contra ele a partir do relatório da comissão. O juiz entendeu que o órgão não pode votar o relatório sem antes ouvir Da Lupa e suas testemunhas, sob pena de multa de R$ 50 mil por descumprimento.

FOTO: UOL

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