Idolatrado pelos atleticanos, Sicupira completa 50 anos de Furacão nesse final de semana

Idolatrado pelos atleticanos, Sicupira completa 50 anos de Furacão nesse final de semana

Napoleão de Almeida
Colaboração para o UOL

Quando o Atlético Paranaense entrar em campo para encarar o Bahia, neste domingo (02), às 16h na Arena da Baixada, terão se passados 50 anos desde que seu maior ícone pisou em campo pela primeira vez com a camisa rubro-negra. Em 1 de setembro de 1968, Barcímio Sicupira Júnior, ou apenas Sicupira, fazia o primeiro de seus 154 gols pelo Furacão, contra o São Paulo, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Detalhe: de bicicleta.

Sicupira já havia defendido o extinto Ferroviário, o Botafogo carioca com Garrincha e Didi, e o Botafogo de Ribeirão Preto quando decidiu voltar para casa. "Eu estava em Curitiba. O Atlético estava envolvido no Campeonato Paranaense e em uma noite não ganharam do Britânia e depois de empatar com o Coritiba perderam um título que era praticamente uma barbada", relembra, citando a equipe que tinha Djalma Santos, Bellini, Nilson Borges e Zé Roberto, e procurava quebrar um jejum então de 10 anos sem taças. "Eu até sofri um bullying de um torcedor, que acho que nem sabia quem eu era. Eu estava numa farmácia e um torcedor do Coritiba passou com a bandeira na minha cara. Mal sabia que dali a uma semana eu ia entrar em cena."

E entrou. Contratado para a disputa do Robertão, o Brasileiro da época, Sicupira via o São Paulo vencer por 1 a 0. "E aí me preparei, o time já vinha montado, tanto que eu comecei no banco, e lá pelas tantas eu entrei e, como aconteceu sempre na minha carreira, eu entrei e fiz o gol." O jogo deu 1 a 1. Foi o início de uma história de idolatria, paixão e alguma mágoa. Nunca do Atlético.

Sicupira quase foi coxa-branca

Antes de assinar com o Furacão, o lapeano Sicupira, nascido a cerca de 100 quilômetros de Curitiba, quase acertou com o Coxa. "Eu quando era pequeno joguei no Coritiba. Então era para ser torcedor do Coritiba. Mas não, quando eu fui pro Rio (defender o Botafogo-RJ) eu me desliguei do Paraná. Não sabia como ia ser a minha vida. Depois de ir para o Botafogo de Ribeirão, resolvi voltar. Aí, quando apareceu a chance, eu vinha para o Coritiba", relembra, "Mas eu cheguei aqui me deram uma baita esnobada, disseram, `vamos conversar depois´. Eu digo, `então não vamos mais conversar!´"

Longe do Coxa, foi um torcedor que o levou para o Atlético. "Um atleticano chamado Airton Araújo me chamou na casa dele. `Seguinte, sou torcedor do Atlético, quer ir pro Atlético?´ Eu disse, `eu quero quero sair de Ribeirão Preto. Então como faz?´ E ele viu o que era para ser feito. Pedi uma luva, 15% e fui pro Atlético, porque um atleticano comprou meu passe e deu pra o Atlético."

Foram oito anos, o título paranaense de 1970 (quebrando um jejum de 12 anos) e a marca de ser o maior artilheiro da história do Furacão. "O nosso time era bom, aconteceram vitórias que animavam, como aquelas com o Coritiba. Estava completando 12 anos sem título nenhume conseguiu em 70, ganhou até com um pouco de sorte, por que o Coritiba era muito bom. Foi inesquecível, uma festa de Paranaguá para Curitiba que eu nunca vou esquecer enquanto eu viver."

A hegemonia do Coritiba, que levantou um hexacampeonato entre 71 e 76, impediu mais alegrias. "Foi uma fase mais difícil, até que assumiu uma pessoa que era mais político que administrador de clube, que não tinha nada a ver, e foi nessa hora que eu parei. Eu tinha 31 anos, poderia jogar mais um pouco, mas aí parei e fui tratar da vida", relembrou, citando a passagem de Aníbal Khury, histórico político paranaense. Sicupira parou de jogar, mas não parou de viver o Atlético. Depois de rápida tentativa de ser técnico, passou a ser radialista.

Idolatrado pela massa, renegado pelo clube

Sicupira é amado e reconhecido pela torcida atleticana. Mas a relação com a atual diretoria – leia-se Mario Celso Petraglia – é a pior possível. A posição de radialista o faz ter de agir de forma crítica com o clube, o que iniciou o conflito. Depois, uma série de homenagens prestadas pela gestão do ex-presidente Marcos Malucelli, que foi indicado e depois rompeu com Petraglia, despertou uma rusga política. Nem por isso ele se mantém longe da Baixada ou deixa de reconhecer o crescimento do clube.

"Eu cheguei no Atlético e peguei um clube com muitos problemas. O Atlético tinha caído para a segunda divisão e ia jogar a segunda do Paranaense. Aí veio o (falecido presidente) Jofre Cabral e um dinheiro foi gasto e ali começou a dívida do Atlético. E eu peguei esse começo. E não tinha dinheiro para nada. Outro dia eu falei que eu dobrava a meia com esparadrapo ali para tocar. Não quero dizer que eu seja responsável nem nada, mas se o Atlético hoje tem o que tem, ele dependeu muito daquele começo lá. Porque se o povo daquela época abandona o Atlético não existiria. Eu estou falando de jogadores, de dirigentes, de torcida, principalmente. Que é muito vibrante, espetacular", comentou.

Aquele Atlético de 1968 só manteve as cores, na visão de Sicupira – o que não é necessariamente algo bom. "É difícil. A estrutura mudou tudo. E o comportamento dessa diretoria, ou de algumas diretorias, deixou a desejar no trato com a torcida. Quando você só tem futebol, e maltrata sua torcida, você não procura trazer ela para você, você vai acabar se dando mal. Agora, na situação em que está o Atlético, se faz uma parceria entre a diretoria e sua torcida, o Atlético pode pintar daqui a pouco como candidato a campeão brasileiro, cara. Uma parceria que não deveria ter sido interrompida após o título brasileiro. Eu vejo o Atlético num recomeço."

O rompimento faz com que o clube raramente o cite em qualquer referência histórica. Ele separa a relação. "Com o Atlético vai muito bem. Com a diretoria não tenho conversa, não tem a mínima chance de ter conversa. Com a torcida é ótima, é a minha torcida, o jeito que eu sou tratado até hoje, se eu levantar uma palavra eu seria muito ingrato. Eu torço demais para o Atlético por conta da sua torcida, por que na diretoria tem gente que não merece", disse, sem citar nenhum nome.

Radialista atuante, a palavra de Sicupira tem peso para os atleticanos. E ele não se furta de usar essa força contra o que entende ser errado. "O Atlético fez muita besteira ultimamente. Claro, fez coisas boas e bem intencionadas, nunca deixei de reconhecer. Mas o que fez de bobagem também é uma grandeza. Por teimosia de algumas pessoas. Você não pode abandonar nunca a torcida do Atlético. É uma das melhores, das mais empolgadas do Brasil. Um time de um coração enorme, e você afasta essa torcida. Ao invés de trazer para te fortalecer, você afasta. Eu acho uma bobagem muito grande."

Neste domingo, Sicupira estará na Arena da Baixada, escalado pela Rádio Banda B para comentar o duelo entre Atlético e Bahia. De certa forma, vestindo a camisa do clube. "É o time do meu coração é o Atlético, eu sou atleticano e vou morrer atleticano. Torço para os demais (clubes do Paraná) por que sou da imprensa e eles indo bem é bom para todos nós do lado de cá. Mas o meu coração é do Atlético."

Agradecimentos especiais a José Marcos Lopes (Metro Curitiba), Pedro Melo e Greyson Assunção (Rádio Banda B).

Foto: Reprodução/Facebook Sicupira 8

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