Aos 33 anos, ele virou um jogador mais sereno, maduro e consciente das próprias limitações e daquilo que precisa fazer para superá-las

Aos 33 anos, ele virou um jogador mais sereno, maduro e consciente das próprias limitações e daquilo que precisa fazer para superá-las

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

Luís Fabiano já não é aquela pessoa explosiva, rebelde e agressiva que o torcedor são-paulino se acostumou a ver em campo. Aos 33 anos, ele virou um jogador mais sereno, maduro e consciente das próprias limitações e daquilo que precisa fazer para superá-las. Quem atesta essa mudança são as pessoas que têm se relacionado com o atacante diariamente, nesses dois últimos meses em que ele esteve fora de campo, vítima de duas lesões musculares na coxa.

Ele começou a treinar com o elenco do São Paulo no começo da semana e alimentava a expectativa de entrar em campo no domingo, contra o Sport. Não vai acontecer. O técnico Muricy Ramalho acredita que ele "não tem a mínima condição de jogar agora" e precisa treinar mais. Foi um baque para alguém tão competitivo como Luís Fabiano, mas depois de tantos baques na vida ele já está calejado.

A primeira lesão foi no dia 20 de junho, durante um amistoso de intertemporada nos EUA. Ele voltou ao Brasil, fez tratamento e foi a campo em um treino achando que estava recuperado. Nos primeiros movimentos, sentiu outra dor na mesma coxa, a alguns centímetros da primeira.

Desde então, se fechou no centro de treinamento do clube, junto a médicos e fisioterapeutas, longe dos outros jogadores, exceto aqueles que também estavam machucados. É uma rotina cansativa, repetitiva e odiada por todos os atletas que não podem fazer aquilo que nasceram para fazer: jogar bola. Desde junho, Luís Fabiano aparece para trabalhar das 9h ao meio-dia, para só para almoçar e volta às 14h. Sai do clube perto das 18h. Treina todos os dias, de segunda a segunda, incluindo feriados, e tem folgas aos domingos apenas eventualmente.

Foi trabalhar também no dia dos pais, o que agradou o médico José Sanchez, um dos responsáveis por sua recuperação muscular. Ele garante que a sequência de lesões que vêm atormentando Luís Fabiano desde que ele voltou ao Brasil em 2012 o ajudaram a se tornar uma pessoa mais dedicada, madura e consciente.

"Às vezes percebo que ele fica triste, pode se fechar um pouco, ficar mais calado, mas nunca deixa de fazer o que precisa ser feito, nunca reclama, nunca demonstra impaciência. As porradas que a vida te dá te ajudam a ficar uma pessoa melhor", diz o médico.

Luís Fabiano não é um caso único. Sanchez, que trabalha no São Paulo há quase 30 anos, não hesitaria em arrolar uma lista de jogadores que, por conviver desde cedo com lesões sérias, se sentem muito mais preparados emocionalmente para lidar com elas.

Mas a metamorfose na cabeça de Luís Fabiano é notável porque ele é o jogador que já trocou socos com um adversário durante um jogo. Ele também já deu um chute em outro. E também uma cotovelada. É o jogador que encanta a torcida pelos gols que faz e irrita a mesma torcida pelos cartões vermelhos que coleciona. É o jogador que projeta a imagem de bad boy pelo jeito de olhar, de falar, de se vestir e até de andar.

Luís Fabiano é o jogador que, em 2004, disse em entrevista que seu time inteiro deveria "partir para cima e dar porrada" em toda a equipe rival.

Um profissional do São Paulo que convive com ele diariamente diz que, no fundo, Luís Fabiano é tímido. E humilde. Esse mesmo profissional, que conheceu o atacante em sua primeira passagem pelo São Paulo, quando ele tinha 20 e poucos anos, afirma que parecem duas pessoas diferentes.

O Luís Fabiano de hoje, dizem aqueles que o conhecem, está sinceramente contente com a ascensão de Alan Kardec, o atacante contratado para ser seu reserva e contra quem ele terá de brigar por posição no time titular. Como o time tem jogado bem e conseguido bons resultados, não há pressão, nem pressa, para Luís Fabiano voltar a campo. O São Paulo precisa dele, mas não com urgência.

O Luís Fabiano de hoje é aquele que, logo após se lesionar, foi a um hospital e carregou no colo um bebê de dez meses chamado Pedrinho, que nasceu com o intestino curto demais, jamais conseguiu deixar o hospital e cuja família tenta arrecadar dinheiro para uma cirurgia no exterior. Um assessor próximo disse que a história de Pedrinho ajudou o jogador a aceitar melhor sua própria situação.

O Luís Fabiano da última sexta-feira participou de um treino coletivo junto a reservas e garotos da base, para os quais ele deve ser um ídolo. Jogou sério e fez dois gols. Ele também aceitou o tratamento preventivo que os médicos planejaram para ele, tratamento que vai acompanhá-lo pelo resto da carreira, porque seu histórico muscular inspira mais cuidados do que os demais.

Hoje, Luís Fabiano conhece muito melhor suas fraquezas, suas limitações e o que precisa fazer para voltar a jogar bola. Mesmo que isso signifique horas e mais horas longe dela.

FOTO: UOL

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