E sabe por que existe muita gente corajosa nas redes sociais?

E sabe por que existe muita gente corajosa nas redes sociais?

Por Ursula Nogueira

Rede social não é um mundo sem lei. Calúnia, difamação e injúria são crimes, e têm penas previstas para o mundo digital. Leis existem e, talvez por falta de conhecimento, não são acionadas. Por aqui, se depender de minhas ações, ninguém vai ofender, difamar, caluniar ou ameaçar moralmente a mim, as mulheres ou qualquer outro profissional da minha equipe, sem ter que assumir as devidas consequências jurídicas.

Poucos sabem da minha história de vida e, até por isso, não tem o direito de difamá-la. Vim de uma família muito humilde, que, por muitas vezes, tinha o mingau de fubá com couve como almoço e janta por dias. Partíamos uma bisnaga de pão para cinco irmãos, que Dona Clarice criou com muito trabalho. Andava quilômetros a pé para chegar à escola. Levava meu material escolar num saco de arroz plástico para não molhar em dias de chuva. Nossas mochilas, minha e dos meus irmãos, eram feitas por minha corajosa mãe, com o restante dos tecidos das pernas de calças jeans que os clientes dela pediam para cortar e fazer bermuda. Sempre estudei em escola pública e me dedicava para estar entre os melhores alunos. Em 96, entrei para Rádio Itatiaia como telefonista. Eu queria aprender mais. Fui atendente de estúdio, secretária do departamento de esportes, estudei jornalismo, graças à total ajuda da diretoria da emissora, Srs. Emanuel e Claudio Carneiro. Por Emanuel fui convidada a ocupar o cargo de coordenadora de Esportes e, agora, assumo o posto de diretora de Esportes.

Sem nenhuma modéstia, sou um exemplo de quem quer e vai à luta, almeja uma carreira, enfrenta barreiras e ultrapassa as dificuldades. Humildade ou “pobreza” não podem limitar alguém a fazer o que quer. O mundo e as oportunidades são iguais para todos. Fui e sou muito abençoada por Deus, e me esforcei demais. Aproveitei as oportunidades! Abri mão dos finais de semana com a família, me ausentei das festas com os amigos, perdi um pouco do crescimento do meu filho e, quando muitos estavam se divertindo com suas namoradas, maridos, esposas, amigos, em shows, eu estava longe da minha família para “provar” todos os dias que eu era e sou capaz de assumir o cargo que ocupo. Aqui tem mérito!

Honro minha família. Sou casada há 23 anos e tenho um filho de 18 anos que hoje cursa a faculdade de direito. Tenho orgulho em dizer que cheguei aqui por muito esforço e trabalho. Não preciso da aprovação de muitas pessoas. A diretoria da emissora, meus amigos e minha família me bastam para isso. Não tenho como controlar o pensamento de ninguém. Uma coisa é o que eu digo, outra é o que o outro interpreta.

No último mês de maio fui ofendida por um seguidor nas redes sociais. Ninguém tem o direito de publicar no Twitter ou qualquer outro lugar referências ofensivas à sua moral. O usuário que utilizar as redes sociais para disseminar ataques pessoais ou espalhar conteúdo falso ou ofensivo comete ilegalidade: temos direito à honra. E sabe por que existe muita gente corajosa nas redes sociais? Porque os ofendidos não correm atrás de seus direitos. Deixam para lá. Não acham que o transtorno vá compensar. Me deu muito trabalho. Perdi tempo indo à delegacia, precisei da ajuda de alguns amigos, perdi noites de sono, passei por constrangimentos e contei com a burocracia e morosidade que cercam nossas vidas, mas não desisti. Não ganhei e nem queria dinheiro por isso. Só uma retratação do indivíduo na mesma rede social que ele usou para tentar manchar minha honra.

E de coração, peço desculpas à mãe e à família desse senhor de 48 anos. Não que a idade faça o caráter de um homem. Eu não tinha qualquer intenção de deixar que os pais desse “camarada” sofressem por isso. Sei que a mãe, já idosa, estava adoentada quando recebeu a primeira intimação do filho, que ainda mora com ela. Imagino como deve ter se sentido. Perdoe-me, mas eu não podia deixar passar em branco. Seu filho é um homem que tem namorada, filho e nem por isso se sentiu constrangido em ir publicamente ofender uma outra mulher que ele nem conhecia. Ele não pensou na vergonha da mãe, ou se fosse a namorada dele, a ofendida. Não pensou no filho vendo um exemplo vergonhoso do próprio pai.

É inegável que as redes sociais têm se firmando como meio dinâmico e eficiente da comunicação, possibilitando a divulgação de todo e qualquer tipo de informação, em tempo quase real em âmbito global, de forma irrestrita. Infelizmente, ultimamente elas têm virado “rede antissocial”, com inúmeros discursos de ódio, rancor e ofensas gratuitas. Se sua posição sobre qualquer assunto é contrária à do outro, já é motivo de você ser crucificado nas redes. Principalmente no nosso meio de jornalistas esportivos. Se a ética e os valores individuais vêm se mostrando insuficientes, o Poder Judiciário tem de entrar em cena. É bom que a Justiça deixe o recado de forma clara: quem usa as redes sociais para agredir, difamar, caluniar ou injuriar pode, sim, ser punido por esses crimes.

E consegui a retratação. Já está no Twitter. Acredito que vá servir de lição pra muitos machões de redes sociais. Porque, normalmente, quando esse tipo de pessoa é confrontado cara a cara, como esse foi, a coragem passa longe. E parte do que escrevi aqui eu falei para ele. Fiz isso por mim e por todas as mulheres que, de alguma forma, já passaram por isso. Denunciem. Corram atrás de seus direitos. Encorajem-se. Não tenham medo. Não podemos ser desrespeitadas por sermos mulheres, nem na vida e nem em redes sociais. Se nós mantivermos essa atitude de procurar as autoridades, certamente o número de assédio vai diminuir. O lugar da mulher é onde ela quiser estar. E sendo respeitada. Basta!

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