Às vezes fico me perguntando a respeito do nível de inteligência das pessoas que tomam conta do nosso futebol. Ou, no mínimo, se essas pessoas realmente gostam do futebol. Ultimamente tenho visto um monte de dúvidas das TVs em relação à queda da audiência nas jornadas esportivas e dos dirigentes a respeito da vertiginosa diminuição de público nos estádios, e cada vez mais tenho certeza de que eles é quem fazem por onde.

É incrível, estapafúrdia e esdrúxula a nova determinação da CBF de protocolos (Ofício 180.14) para a entrada dos times em campo. Dentre uma série de perfumarias que não interessam em nada ao torcedor, como a banalização da execução do hino nacional em todos os jogos da série A, jogador entrando lado a lado com a arbitragem, uma em especial chama atenção: apenas 22 crianças por clube podem entrar em campo com os atletas, 2 por jogador.

Gente, se hoje eu sou um apaixonado pelo futebol, se gasto dinheiro com futebol, se gasto tempo em frente à TV, ao computador e ao rádio para consumir futebol e se paro para ler futebol é porque, quando eu era criança, eu pude ter acesso ao estádio, eu pude ter acesso ao divertido ambiente de estádio, eu pude entrar com o time em campo e isso marcou a minha vida de torcedor.

Já é uma idiotice sem tamanho os clubes não terem uma política de ingressos diferenciada para as crianças. Ok, entendo que em virtude da diminuição do número de ingressos à venda nos estádios, da necessidade (via Estatuto do Torcedor) de se fazer um seguro para o torcedor, dentre outros custos, existe a impossibilidade da criança entrar gratuitamente como era há alguns poucos anos, no velho Mineirão, quando eu, até os 12 anos, entrava de graça. Mas gente, cobra mais barato daquele que vai ser o seu consumidor daqui 5, 10, 15 anos. Senão, daqui 5, 10, 15 anos, esse torcedor não vai ter criado a cultura de consumir o futebol. Não vai ter absorvido como cultura a ida semanal ao estádio.  E a TV? Vai reclamar de que, se para atender ao bel prazer dela de ter uma entrada bonitinha de Copa do Mundo ou de Champions League compactua com essa palhaçada de apenas 22 crianças entrando em campo? Quando não tiver mais consumidor de futebol, vai ficar chorando pitanga.

E outra, é essa criança que vai chegar dentro do estádio e pagar 10 reais em uma porcaria de um picolé ou em um saco de chips, que em qualquer outro lugar não passaria de 4 reais. Ou alguém acha que um adulto vai ficar chupando picolé de 10 contos o jogo inteiro? Só mesmo um pai, na emoção de ver um filho torcendo pelo time do seu coração, aceita ser roubado tão descaradamente quanto acontece com o preço dos produtos nos estádios.

Os clubes não podem permitir isso. Essa cultura de sugar o torcedor até o limite vai acabar com o futebol em pouco tempo. Não é à toa que hoje temos menos gente nos estádios que a liga dos Estados Unidos, da China, do Japão, e quase sendo ultrapassados pela AUSTRÁLIA!!! CARAMBA!!! EUA, CHINA, JAPÃO E AUSTRÁLIA!!!

Os clubes são subservientes às Federações, que por sua vez são servis à CBF. Não existe questionamento, não existe debate. Essa turma que dirige o futebol brasileiro nunca deve ter enfrentado uma fila para comprar ingresso e visto a dificuldade de gente pedindo R$ 0,50 para inteirar uma Geral. Não sabem o que o futebol representa para a gente, para o povo brasileiro.

A cobrança tem que começar no quintal de cada um. Você tem que cobrar do presidente do seu clube, da sua Federação. A mudança tem que começar debaixo do nosso nariz.

A única explicação que encontro é: quem comanda o futebol nunca sentou em uma arquibancada. Nunca entrou em um gramado com um jogador. Nunca sentiu o coração batendo mais forte ao chegar no primeiro degrau de um estádio, lotado, e escutar sua torcida cantando o hino. Esses filhas da mãe que comandam o futebol, aposto, nasceram antes de Charles Miller chegar com a redondinha ao Brasil.

Saudações Alvinegras,
 
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Foto: UOL