A análise superficial em cima apenas de resultados cria heróis e vilões de maneira muito rápida

A análise superficial em cima apenas de resultados cria heróis e vilões de maneira muito rápida

O futebol brasileiro é dominado pelo imediatismo. Pela pressa. Pelas conclusões precipitadas. Para o bem e para o mal. A análise superficial em cima apenas de resultados cria heróis e vilões de maneira muito rápida.

Não quero aqui tirar a importância do resultado para balizar as análises. Pelo contrário. Tanto o sucesso como o fracasso não são frutos do acaso. Eles são conquistados pouco a pouco e deixam rastros, deixam pistas. Porém a avaliação tem que partir de processo, de contexto e de circunstâncias para traduzir a realidade da maneira mais fidedigna possível.

O São Paulo, por exemplo, já recebe elogios aos quatro cantos. Com o time tendo chegado a liderança do Campeonato Brasileiro já se exalta a expertise do trio Raí, Lugano e Ricardo Rocha em conduzir o futebol do clube. De fato, o Tricolor foi muito mais assertivo nas últimas duas janelas de transferências, tanto para comprar quanto para vender, e a montagem do atual elenco foi bem mais criteriosa em termos de idade e valências físicas - o São Paulo não tem nem um time velho nem um time jovem demais e nem um time lento e nem um time pesado demais. Mas lembro que o Tricolor, já com Diego Aguirre, não chegou a final do Paulistão, caiu na Copa do Brasil diante do Atlético-PR e perdeu o jogo de ida da segunda fase da Copa Sulamericana para o Colón em pleno Morumbi. É claro que a equipe vem evoluindo nas mãos do técnico Diego Aguirre. Mas não podemos pontuar que o `Campeão voltou´ por conta da liderança momentânea do Brasileirão.

Do outro lado, vejo o Flamengo recebendo um caminhão de críticas. Há duas semanas, o clube do Rio de Janeiro estava na crista da onda mostrando a todo mundo que sua superioridade financeira e de torcida finalmente iria fazer com que o futebol brasileiro tivesse um novo dono. Hoje, porém, após perder a liderança do Brasileirão e estar em uma situação delicada na Libertadores, ouço muito que o técnico Maurício Barbieri ainda não está pronto, que a diretoria do clube só entende de finanças e não sabe nada de bola, que os jogadores não são cobrados e que não demonstram atitude, etc.

Insisto que a vitória e a derrota são construídas e não simplesmente acontecem, como em um passe de mágica ou um golpe de sorte. Mas não consigo concordar em hoje achar que está tudo correndo de maneira perfeita e amanhã nada mais presta, por conta de dois ou três jogos. É claro que o São Paulo tem méritos em ser o líder do Brasileirão e o Flamengo teve um desempenho pífio contra o Cruzeiro pela Libertadores. Mas daí até cravar que o Tricolor já resgatou sua identidade vitoriosa e que o Mengão precisa rever toda a sua política de futebol tem uma distância gigante. Entender de processo, metodologia de treinamento, construção de modelo de jogo, aquisição de comportamento e temperar tudo isso com a complexidade do caos imprevisível que é o futebol não faz mal para ninguém.

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