A Globo está fragilizada, mas tem de partir dela uma solução para o futebol brasileiro

A Globo está fragilizada, mas tem de partir dela uma solução para o futebol brasileiro

Guilherme Costa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

A Globo está fragilizada, mas tem de partir dela uma solução para o futebol brasileiro. As afirmações podem parecer contraditórias, mas falam muito sobre o atual momento do esporte mais popular do país. Ambas foram ditas por Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. Em rápida conversa por telefone, interrompida abruptamente por causa do iminente início de uma reunião, o polêmico dirigente falou sobre a crescente e assustadora dívida dos clubes e como isso tem relação com a divisão de cotas de direitos de transmissão.

"O problema é o seguinte: desde que foi implodida a mesa do futebol brasileiro, a decadência entrou com força total. Ou a televisão retoma os clubes e faz todo mundo sentar na mesma mesa de novo, ou vai continuar a queda de audiência brutal porque só sabem de jogo de futebol de Corinthians e Flamengo. O futebol brasileiro foi para o saco", opinou o presidente do Atlético-MG.

As declarações fortes de Kalil são importantes para entender o atual contexto político do futebol brasileiro. Desde a implosão do Clube dos 13, em 2011, os clubes passaram a negociar individualmente os contratos de direitos de transmissão. O faturamento de todos cresceu com o novo modelo, mas a concentração de receita também.

O descontentamento da maioria com as cotas de TV ganhou corpo neste ano por causa da situação financeira conturbada vivida por muitos clubes. Com dívidas e em fase de lobby para aprovar a lei de responsabilidade fiscal do esporte (LRFE), as equipes subiram o tom sobre contratos com a Globo.

A emissora agendou para este mês uma série de reuniões para discutir o atual momento e o futuro do futebol nacional. Kalil vai conversar com a Globo na semana que vem, e a parceira de transmissão do Campeonato Brasileiro já pode começar a se preparar para um discurso verborrágico: "Se for para fazer gracinha eu levanto e vou embora. Meu amigo, a Globo tem de dar uma solução para nós".

Veja a íntegra da entrevista com Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG:

UOL Esporte: O que o senhor pensa sobre a lei de responsabilidade fiscal do esporte? O Atlético-MG precisa disso para sobreviver?

Alexandre Kalil: Todo mundo precisa. Não é só o Atlético-MG, mas o futebol que precisa dessa lei. Por que pode dar incentivo para multinacional do Vale do Ribeira e não pode dar para o futebol? Por que ninguém achou ruim quando houve incentivos para o setor automobilístico? Sabe por que acham ruim para o futebol? Porque falam isso para fazer gracinha e dar Ibope. Os que são contra são todos moralistas e se julgam os honestos do mundo. A imprensa tem disso: uns caras que se julgam honestos, mas acham que todo o resto é bandido e tem de ser preso. Eles andam de carro importado e exibem tudo que têm na vida, até dente de ouro, e foi o futebol que deu tudo, mas eles querem a desgraça do futebol. A partir de 31 de dezembro eu vou cuidar da minha empresa, mas as pessoas ficam aí com falso moralismo. Se o futebol acabar eles morrem de fome. Fica todo mundo fazendo gracinha para a torcida, mas eles esculhambam o futebol. Só sabem fazer b... e querem que os clubes vão para p... que os pariu.

UOL Esporte: A Globo agendou reuniões com clubes para falar sobre o futebol nacional, e o Atlético-MG foi chamado. O que o senhor espera da conversa? A emissora pretende falar sobre vários tópicos relacionados ao futebol nacional. Até uma possível volta dos pontos corridos...

Alexandre Kalil: Pelo amor de Deus! Isso seria andar para trás. Hoje o Atlético-MG tem autoridade para falar isso porque é o terceiro clube do Brasil em venda de pay-per-view. A única coisa que eu espero que seja discutida é a "espanholização" do futebol brasileiro, porque eles só querem passar jogos de Flamengo, Corinthians, Corinthians e Flamengo. Só que a maior audiência da Globo no ano passado foi o Atlético-MG na Libertadores, e nós precisamos entender que acabou essa história de que Corinthians e Flamengo dão audiência. Dão p... nenhuma! Quem dá Ibope é quem está na frente e quem disputa títulos. Você acha que alguém vai ver jogos do Flamengo com o time caindo? Você acha que o Flamengo no meio da tabela dá mais resultado para a TV do que o Internacional tentando ser campeão, por exemplo? A Globo deve ter visto isso. Ela se f... quando deu 52% da renda para cinco times. Acabou com a praça da Bahia, vai acabar com a praça de Belo Horizonte e vai detonar todas as outras. A Globo está fragilizada porque a audiência está indo para o c..., e é só isso.

UOL Esporte: A Globo é a maior culpada pelo atual momento do futebol brasileiro, então? Só ela?

Alexandre Kalil: Eu disse e repito que quem tem poder para arrumar o futebol brasileiro é a Rede Globo de Televisão. A mesa que nós tínhamos para debater isso foi implodida por alguns clubes que ajudaram a dar fim ao Clube dos 13. Aliás, o Botafogo foi um dos principais artistas da explosão. Olha o que deu. Agora a Globo tem de promover uma mesa para os clubes aceitarem isso. O Bahia não pode disputar mais, o América-MG não consegue subir para a Série A. A praça da Bahia é importante, e Minas Gerais é a segunda economia do país, mas é tratada como lixo e hoje tem o campeão brasileiro e o campeão da Libertadores. Hoje, no momento em que eu falo com você, o Atlético-MG ainda é o campeão da Libertadores, e o Cruzeiro ainda é o campeão brasileiro.

Foto: UOL

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