Impossível um time mais paulista

Impossível um time mais paulista

Voltando muito ao tempo (futebol amador brasileiro), farei uma homenagem a dois times já extintos, mas que tiveram uma grande contribuição em suas respectivas épocas. O primeiro é o Paulistano, o maior time brasileiro do período do amadorismo. E o segundo é o São Paulo da Floresta, que durou apenas 5 anos, mas que vinha da extinta equipe de Friedenreich e da Associação Atlética das Palmeiras (nenhuma ligação com a Sociedade Esportiva Palmeiras). Fiz questão de incluir os dois juntos para quebrar o mito de que o São Paulo da Floresta seja o mesmo clube que o São Paulo Futebol Clube, pois de parecido só tinham o nome (quase igual) e o símbolo, portanto o título paulista de 1931 não deve ser reconhecido na lista de troféus da agremiação do Morumbi.
 
PAULISTA: Referente a quem nasce no Estado de São Paulo. Os nascidos na cidade de São Paulo são considerados paulistanos.
 
PAULISTANO/SÃO PAULO DA FLORESTA DE TODOS OS TEMPOS
O Clube Atlético Paulistano foi fundado em São Paulo no dia 29 de dezembro de 1900. Por ser da elite paulistana, já disputou as primeiras edições do Campeonato Paulista, quando o SPAC do centroavante Charles Miller (quem introduziu o futebol no Brasil) foi tricampeão, sendo o seu grande rival, tanto é que quarta competição (1905) foi o vencedor. Ganhou outros títulos, sendo o único time que foi tetracampeão paulista, contando nos dois últimos com Arthur Friedenreich, o maior jogador da época e iniciando uma grande fase de conquistas. Em 1925 excursionou à Europa, tornando-se o primeiro time brasileiro a visitar o Velho Mundo. Por discordar do futebol profissional (ideia que já florescia desde 1929), encerrou as suas atividades futebolísticas, dedicando-se apenas aos esportes amadores.
 
No dia 26 de janeiro de 1930 foi fundado o São Paulo da Floresta. A iniciativa aconteceu principalmente para que muitos jogadores do Paulistano e A. A. das Palmeiras continuassem atuando, pois havia atletas que jogavam muito bem. Claro que Friedenreich foi o maior de todos.
 
TITULAR: Nestor, Clodô e Barthô; Sérgio, Rubens Salles e Abate; Filó, Mário, Friedenreich, Waldemar de Brito e Formiga. Técnico/Capitão: Rubens Salles.
 
NESTOR DE ALMEIDA (Santos, SP, 23/02/1907 ? São Paulo, SP, 03/08/1992) - Jogou no Paulistano de 1925 a 1929 e no São Paulo da Floresta em 1930/1931. Revelado pelo São Bento da capital, chegou ao Paulistano em 1925, participando de 5 jogos da vitoriosa excursão à Europa, sendo depois reserva de Júlio Kuntz, goleiro que foi campeão sul-americano de 1922. Virou titular no ano seguinte, quando a equipe disputava o Campeonato Paulista pela Liga LAF, enquanto que os seus dois maiores rivais (Corinthians e Palestra Itália) jogavam pela APEA. Foi bicampeão paulista em 1926/27 e 1929. Era um goleiro ágil, elegante e arrojado, que realizava defesas espetaculares. Quando o São Paulo da Floresta foi fundado, tornou-se o primeiro sócio-atleta do clube. Em 1930 era considerado o melhor goleiro do Brasil junto com Athiê (Santos), mas ambos não puderam ir à Copa do Mundo daquele ano devido a uma briga entre a Federação Paulista (que não quis ceder os seus jogadores) com a Carioca. No primeiro ano o novo time já se saiu muito bem. Na temporada seguinte os tricolores foram campeões paulistas, mas em uma partida contra o Palestra Itália (01/05/1931), Nestor se machucou gravemente, chegando a ficar em cadeira de rodas e encerrando a carreira com apenas 24 anos.
 
CLODOALDO CALDEIRA ? CLODÔ (Botocatu, SP, 01/12/1899 -?) - Jogou no Paulistano de 1921 a 1929 e no São Paulo da Floresta de 1930 a 1932. Iniciou a sua carreira no Mackenzie em 1918, indo jogar no Paulistano no início da década de 20, tornando-se um dos melhores zagueiros-centrais do Brasil no período que esteve no clube do Jardim América. Era sempre convocado pelas Seleções Paulista e Brasileira, por ser um zagueiro seguro e excelente marcador. No vitorioso time dos anos 20 foi campeão paulista em 1921, 1926/27 e 1929. Quando jogou no São Paulo da Floresta era um jogador muito experiente, tendo importante contribuição na conquista do título estadual de 1931, encerrando em seguida a sua carreira.
 
BARTHOLOMEU VICENTE GUGANI (São Paulo, SP, 28/01/1899 ? 17/04/1935) - Jogou no Paulistano de 1925 a 1929 e no São Paulo da Floresta de 1930 a 1934. Grande zagueiro, tanto na altura como pelo futebol que jogava. Nos seus tempos de São Bento já era jogador da Seleção Paulista e Brasileira. Consagrado, chegou ao Paulistano para excursionar pela Europa, sendo chamado pelos franceses de Le Cardinal (O Principal). Atuava com um gorro vermelho. Passou a formar uma esplêndida zaga com Clodoaldo, que quando escalados juntos seus nomes eram pronunciados de forma parecida, já que eram o Clodô e o Barthô. Os dois juntos ganharam três vezes o Campeonato Paulista pelo Paulistano e uma vez como jogadores do São Paulo da Floresta. Morreu com apenas 36 anos, devido a uma infecção dentária.
 
SÉRGIO PEREIRA PIRES (São Paulo, SP, 16/05/1898 -?) - Jogou no Paulistano de 1915 a 1926. Após um rápido início no Anglo Brasileiro chega ao Paulistano, tornando-se uma referência na linha média do time. Atuava como centromédio e lateral-direito, posição que marcou mais. Marcava bem, era técnico e lançava com eficiência os seus companheiros de ataque. Fez parte do histórico time que foi tetracampeão paulista em 1916/17/18/19. Era o lateral-direito da Seleção Brasileira campeã do Sul-Americano de 1919. Voltou a ser campeão estadual em 1921. Jogou na Seleção Paulista bicampeã brasileira em 1922/23. E estava presente na excursão do Paulistano à Europa no ano de 1925. Um jogador muito importante no seu tempo, sem dúvida.
 
RUBENS DE MORAIS SALLES (São Paulo, SP, 11/10/1890 ? 21/07/1934) - Jogou no Paulistano de 1906 a 1921. Seus 15 anos de clube já é uma prova da sua importância. Chegou a atuar como lateral-esquerdo, mas foi na posição de centromédio (volante) que fez escola, considerado o pioneiro dos jogadores clássicos do meio de campo, dominando a bola com muita técnica, excelente marcador e armando as jogadas com inesgotável categoria. Campeão paulista em 1908, 1913 e 1916/17/18/19. Quando a primeira Seleção Brasileira foi formada em 1914 tinha que estar presente, sendo que no mesmo ano o Brasil ganhou o seu primeiro título (Copa Rocca) com o gol da conquista sendo dele. Era o capitão do time, apelidado de Sanfona de Ouro, foi ídolo de Arthur Friedenreich, pois era um dos primeiros craques do futebol brasileiro. Quando Friedenreich começou a jogar com Rubens Salles, recebeu muitos conselhos do veterano craque. Com o seu maravilhoso estilo de jogo influenciou outro grande centromédio, que foi Amílcar Barbuy. É o eterno capitão do Paulistano e foi treinador do São Paulo da Floresta de 1930 a 1934, vindo a falecer de pneumonia quando estava em atividade (seu último jogo foi no dia 08/07/1934, um empate de 0 a 0 com o Corinthians).
 
FRANCISCO ABATE (São Paulo, SP, 22/09/1902 -?) - Jogou no Paulistano de 1922 a 1929 e no São Paulo da Floresta em 1930. Jogava pelos dois lados das laterais. Foi campeão da Copa Rocca de 1922 pela Seleção Brasileira. No Paulistano estava na excursão de 1925 pelo continente europeu. Campeão paulista em 1926/27 e 1929. A linha média formada por Mestre, Franco e Abate foi muito elogiada. Jogou no São Paulo da Floresta, mas não atuou no time campeão estadual de 1931. Pelo Corinthians chegou a jogar uma partida no dia 22/05/1932.
 
AMPHILÓQUIO MARQUES ? FILÓ (São Paulo, SP, 26/12/1905 ? 08/06/1974) - Jogou no Paulistano de 1925 a 1929. Filho do segundo presidente da história da Portuguesa de Desportos (Sr. Manoel Augusto Marques), foi revelado pelo clube em 1922, já alcançando no ano seguinte um bom destaque. Logo que chegou ao Paulistano foi excursionar com o time à Europa, encantando os franceses, pois era um ponta-direita veloz, driblador, que chutava e centrava muito bem. Foi apelidado de Maquininha e por ser magro e baixinho era considerado um dos primeiros Pequenos Polegares do futebol brasileiro. Em 1925 formou com Mário Andrada uma ala-direita tão perfeita que fez com que os dois fossem chamados (sem maldade alguma) de Os Namorados. No Paulistano foi bicampeão paulista em 1926/27 pela LAF. Havia na equipe um ponta-direita muito bom, que era o Formiga, tanto é que em muitos jogos um ou outro era deslocado para a ponta-esquerda e meias. Dois excelentes ponteiros esquerdos que atuaram com Filó no Paulistano foram o Netinho e Zuanella. Pela Seleção Brasileira jogou apenas em 1925, no Sul-Americano da Argentina. Já na Seleção Paulista foi campeão brasileiro em 1926 e 1929. Por ter jogado algumas partidas do Campeonato Paulista de 1929, pode também ser considerado campeão pela LAF, pois a partir de setembro do mesmo ano começou a jogar pelo Corinthians, vencendo o Estadual pela APEA.  Com o time corintiano repetiu a façanha em 1930, portanto não foi jogador do São Paulo da Floresta quando começou. Muitos lamentaram por não ter ido jogar na primeira Copa do Mundo, devido à briga entre paulistas e cariocas, quando era considerado o melhor ponta-direita do Brasil junto com Ministrinho. No ano seguinte, junto com Del Debbio, Rato e De Maria, foi jogar na Lazio Italiana. Por ser oriundi, foi o primeiro jogador brasileiro a ser campeão do mundo, pois jogou a primeira partida pela Seleção da Itália na Copa de 1934, quando era chamado de Guarisi. Retornou ao Brasil em 1937, indo jogar novamente no Corinthians, sagrando-se mais uma vez campeão paulista. Encerrou a carreira no Palestra Itália. Mesmo tendo boas passagens por todos os clubes que atuou, é no Paulistano que viveu a sua melhor fase, tanto no futebol estadual, nacional quanto internacional, jogando no time de Arthur Friedenreich.
 
MÁRIO DE ANDRADA DA SILVA (São Paulo, SP, 1900 ? 1957) - Jogou no Paulistano de 1916 a 1925. Muita ligação com o Paulistano desde criança, quando jogou nos quadros inferiores. Foi estudar em Itu e Araraquara, retornando à capital paulista em 1915 para já fazer parte do time principal do Paulistano no ano seguinte. Foi tetracampeão paulista em 1916/17/18/19, reconquistando o título no ano de 1921. Mário de Andrada formou uma grande dupla com Arthur Friedenreich, sendo responsável por muitos dos seus gols, pois lançava muito bem, além de ser um bom driblador. Quando Friedenreich marcou 33 gols no Paulistão de 1921, deu-se ao luxo de anotar 26 tentos, sendo o vice-artilheiro da competição. Nunca jogou na Seleção Brasileira porque quando estava no auge outro meia-direita se destacava muito, que era justamente o corintiano Neco.  Em 1925 formou uma excelente ala-direita com o ponteiro direito Filó. No final do ano abandonou o futebol com apenas 25 anos, pois jogar na época em que o esporte não era pago tratava-se de uma tarefa complicada. Na década de 50 seu nome foi muito comentado quando afirmou ao jornalista De Vaney que teria a lista completa dos gols do amigo Fried, que chegava à contagem de 1239 gols, mas morreu pouco antes de entregá-la, sendo que a sua esposa jogou fora uns papéis que achava ser de pouca importância, o que fez com que o comunicador se confundisse na divulgação, quando alterou sem querer os números, mudando a contagem para 1329, fazendo do El Tigre ser reconhecido por muitos anos pela FIFA como o maior goleador da história do futebol, superando inclusive Pelé com os seus 1282 gols. Jamais confundi-lo com o poeta e escritor Mário de Andrade.
 
ARTHUR FRIEDENREICH (São Paulo, SP, 18/07/1892 ? 06/09/1969) - Jogou no Paulistano de 1917 a 1929 (chegou a jogar duas partidas em 1916) e no São Paulo da Floresta de 1930 a 1935. Para quem nasceu nas esquinas da Rua da Vitória com Rua do Triunfo tinha que ter uma carreira consagrada. Era em tudo diferenciado, por ser filho de pai alemão e de mãe negra, nascendo assim um mulato de olhos verdes, que só conseguiu destaque em uma época que ainda havia muito preconceito (mesmo não existindo mais a escravidão) por ter um talento único no futebol. Na várzea se destacava por ser o melhor driblador, chutava com um efeito só dele, possuía um toque de bola próprio, batia pênaltis com perfeição, tinha muita malícia e era quem mais marcava gols de todos. A origem alemã fez com que tivesse chance no clube do Germânia, indo jogar depois no Ypiranga. Nascia aquele que foi, para muitos, o maior e melhor centroavante brasileiro de todos os tempos. Em 1912 foi convidado pelo time do Americano para participar da primeira excursão de uma equipe brasileira ao exterior, jogando na Argentina e Uruguai. No mesmo ano, atuando pelo Mackenzie, tornou-se artilheiro do Campeonato Paulista pela primeira vez. Quando a Seleção Brasileira foi formada em 1914 acabou sendo convocado, ganhando a Copa Rocca no final do ano. No Ypiranga tornou-se artilheiro do Paulistão em 1914 e 1917. Quando foi contratado pelo Paulistano iniciava a maior fase da sua carreira no clube do seu coração. O time era muito forte, ganhando títulos paulistas em 1918/19, 1921, 1926/27 e 1929. Foi artilheiro nos Estaduais de 1918, 1919, 1921 (com 33 gols, um recorde que seria ultrapassado por Feitiço), 1927, 1928 e 1929. Suas 9 artilharias foram superadas apenas por Pelé, que conseguiu 11. Titular absoluto da Seleção Paulista e Brasileira e autor do gol do título Sul-Americano de 1919 (sendo chamado pelos uruguaios de El Tigre), vencendo também o de 1922, ambos disputados no Brasil. No Paulistano foi rei, tornando-se o maior artilheiro da história do time e sendo saudado como um monarca pelos funcionários do clube quando entrava pelos seus portões. A maior prova aconteceu na excursão ao continente europeu em 1925, quando os jogadores foram considerados os Reis do Futebol, sendo que os franceses nunca haviam visto um jogador como Arthur Friedenreich. Quando a tradicional agremiação encerrou as suas atividades no futebol, fundou com seus companheiros o São Paulo da Floresta, onde também teve uma brilhante carreira. Mesmo sendo um jogador de quase 40 anos, ganhou mais um Campeonato Paulista (1931) e tornando-se também o maior goleador da história do time com 98 gols. Sempre fez questão de lamentar da Seleção Brasileira não ter ido com a sua força máxima em 1930, pois acredita que fatalmente o Brasil teria sido campeão. Com quase 42 anos foi lembrado para a Copa de 1934, mas mesmo ainda jogando bem, preferiu não ir. Em 1933 o maior jogador brasileiro do futebol amador foi autor do primeiro gol do profissionalismo. Após a extinção do São Paulo da Floresta em 1935 foi jogar no Santos e Flamengo, mas como já estava em final de carreira resolveu abandonar o futebol no mesmo ano. Por muitos anos ficou aquele mito que teria feito mais de 1000 gols, mas uma consulta precisa do escritor Alexandre da Costa fez com que a contagem diminuísse para 554 gols em 561 partidas, uma marca mais lógica, já que a quantidade de jogos era bem menor que na época de Pelé. Em pesquisas mais recentes foram encontrados 561 gols em 563 partidas. Acredito que tenha marcado mais de 600 gols pelo o que não foi encontrado, o que não deixa de ser uma estupenda marca para a época. Morreu pobre, esquecido por muitos e com problemas de memória.
 
WALDEMAR DE BRITO (São Paulo, SP, 16/05/1913 ? 21/02/1979) - Jogou no São Paulo da Floresta de 1933 a 1935. No time titular é o único que não atuou no Paulistano. Irmão de Petronilho de Brito (o primeiro jogador do Brasil que executou os lances de bicicleta), Waldemar de Brito estreou na equipe principal do Sírio em 17 de maio de 1930, um dia depois de ter completado dezessete anos, com os dois jogando juntos no Campeonato Paulista daquele ano e nos de 1931 e 1932, formando uma grande dupla de ataque, até que Petronilho foi vendido ao San Lorenzo Argentino, tornando-se um grande ídolo e campeão em 1933. Quando o futebol brasileiro se profissionalizou, Waldemar foi contratado pelo São Paulo da Floresta, tendo grande destaque na temporada, tornando-se artilheiro do Paulistão com 21 gols e somando-se com o Rio-São Paulo anotou, no total, 33 tentos. No mesmo ano de 1933 foi convocado pela Seleção Paulista pra jogar o Campeonato Brasileiro, sagrando-se campeão. Um dos melhores jogadores brasileiros na época, era um estilista, driblava como um malabarista, formidável cabeceador, exímio cobrador de penalidades e chutava muito bem com ambos os pés. Era tão espetacular que fez com que Friedenreich ficasse no banco pela primeira vez na sua carreira. Convocado para a Copa do Mundo de 1934 ficou marcado por ter perdido o pênalti contra a Espanha, com Zamora defendendo, desclassificando o Brasil do Mundial em apenas uma partida. Jogou todo o ano pela Seleção Brasileira, viajando pela Europa e no território brasileiro. Boas passagens no Botafogo, Flamengo, San Lorenzo de Almagro (mesmo time que jogou o irmão), São Paulo Futebol Clube, Palmeiras e Portuguesa de Desportos. Na Argentina foi apelidado de El Bailarin. Após encerrar a carreira foi morar em Bauru, fundou o Baquinho e descobriu Pelé para o mundo, ensinando-lhe muitos segredos do futebol. Muitas vezes ele é só lembrado por causa da descoberta, algo injusto pelo grande jogador que foi.
 
AFRODÍSIO CAMARGO XAVIER ? FORMIGA (São Paulo, SP, 09/03/1895 ? 30/07/1974) - Jogou no Paulistano de 1921 a 1929 e no São Paulo da Floresta em 1930. Teve uma longa carreira no Ypiranga de 1912 a 1920, com passagens pela Seleção Paulista e Brasileira (jogando a primeira partida da sua história em 1914). Atuava nas duas pontas, em especial a direita, com muita velocidade, vasto repertório de dribles e precisos cruzamentos. Quanto chegou ao melhor time do Brasil, já era considerado o grande ponta-direita da época. Venceu com brilhantismo o Sul-Americano de 1922, sendo que na final contra o Paraguai marcou dois gols na vitória de 3 a 0, com Neco anotando o outro. No Paulistano foi campeão paulista em 1921, 1926/27 e 1929. Chegou a revezar com Filó, que o considerava o seu mestre, muitas vezes um ou outro jogando em outra posição, já que com ambos em campo era certeza de um espetáculo melhor. Jogou apenas quatro partidas pelo São Paulo da Floresta em 1930.
 
COMO JOGARIA O TIME DO PAULISTANO/SÃO PAULO DA FLORESTA?
Pelo fato de ambos serem de uma época que o futebol jogava com três jogadores na defesa (goleiro e dois zagueiros) e na linha média (geralmente formada pelo lateral-direito, volante e lateral-esquerdo), além de ter cinco jogadores no ataque (ponta-direita, meia-direita, centroavante, meia-esquerda e ponta-esquerda), eu optei por preservar a formação clássica. O goleiro Nestor seria uma segurança no arco, com suas fantásticas defesas, arrojo e boa colocação. A zaga, bem entrosada, continuaria forte, com a segurança de Clodô e a técnica de Barthô. Na lateral-direita, Sérgio preservaria a sua técnica, ótima marcação e boa distribuição das jogadas. Rubens Salles seria o centromédio (volante) próprio daqueles tempos, marcando bem e lançando os companheiros com maestria. Abate continuaria sendo um lateral-esquerdo duro na marcação. Os pontas Filó e Formiga, com sua técnica e velocidade, distribuíram os cruzamentos para os formidáveis Arthur Friedenreich e Waldemar de Brito (os cobradores de pênaltis e faltas) completaram para o gol. E Mário de Andrada seria mais um meia goleador e preparador de jogadas.
 
RESERVA: Júlio Kuntz, Sylvio Hoffmann e Mariano; Raffa, Zarzur e Orozimbo; Luizinho, Siriri, Armandinho, Bibi e Netinho.
 
JÚLIO KUNTZ FILHO (Novo Hamburgo, RS, 03/09/1897 ? 19/08/1938) - Jogou no Paulistano de 1923 a 1926. Goleiro gaúcho revelado pelo clube Floriano Novo Hamburgo. No ano seguinte já disputava os seus primeiros Grenais pelo Grêmio. Chegando ao Flamengo, no início dos anos 20, foi o principal arqueiro dos Campeonatos Sul-Americanos de 1920, 1921 e 1922, sagrando-se campeão no último. Chamado de El Colosso e Gato Selvagem, Kuntz passou a ser o melhor da posição no Brasil, superando a Marcos Carneiro de Mendonça, do Fluminense. Foi legendário no Paulistano, mesmo não sendo campeão, mas tendo uma boa participação na excursão à Europa, atuando em 5 das 10 partidas, com Nestor nas outras, que viria a ser o seu substituto. Tinha uma agilidade infernal, era corajoso e sóbrio.
 
SYLVIO HOFFMANN MAZZI (Rio de Janeiro, RJ, 15/05/1908 ? 15/11/1991) - Jogou no São Paulo da Floresta de 1933 a 1935. Já era um jogador rodado, com passagens pelo Vasco, Fluminense, São Cristóvão, Santos e Peñarol. Beque central que tinha muita elegância, excelente domínio de bola, sabia sair jogando, lançava bem e era um líder na defesa. Em grande fase no São Paulo da Floresta, foi convocado pra defender a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1934. Foi campeão carioca em 1935 pelo Botafogo.
 
MARIANO - Jogou no Paulistano por doze anos (1910 a 1922), sendo campeão paulista em 1913/ 1916/17/18/19 e 1921. Infelizmente não encontrei muitos dados dele, não sendo possível descrever a sua carreira.
 
RAFFA - Jogou no São Paulo da Floresta de 1933 a 1935. Talentoso lateral revelado pelo Juventus da Mooca. Fez uma bela campanha no Paulistão de 1932 pelo Moleque Travesso ao lado de Brandão e Hércules, ficando em terceiro lugar no campeonato com um dos melhores times da sua história. No São Paulo da Floresta formou uma excelente linha média com Zarzur e Orozimbo.
 
ALBERTO ZARZUR (São Paulo, SP, 02/12/1912 ? 07/07/1958) - Jogou no São Paulo da Floresta de 1933 a 1935. Muito bom centromédio (volante), tinha grande vigor, excelente técnica e armava bem o jogo. No seu tempo de São Paulo da Floresta era junto com Brandão (na época jogador da Portuguesa de Desportos) o melhor da posição no futebol paulista. Teve também uma ótima passagem pelo Vasco da Gama.
 
OROZIMBO DOS SANTOS (Ribeirão Preto, SP< 22/07/1911 -?) - Jogou no São Paulo da Floresta de 1932 a 1935. Um dos melhores laterais-esquerdo da sua época, tanto é que foi convocado pela Seleção Brasileira (24/02/1935). Habilidade, classe, garra e forte marcação eram as suas virtudes. No São Paulo da Floresta era o jogador mais marcante da linha média. Jogou muito bem no Fluminense no final da década de 30, sendo tricampeão carioca em 1936/37/38.
 
LUÍZ MESQUITA DE OLIVEIRA ? LUIZINHO (Rio de Janeiro, RJ, 29/03/1911 ? São Paulo, SP, 27/12/1993) - Jogou no Paulistano em 1929 e no São Paulo da Floresta de 1930 a 1935. Ponta-direita que teve uma das melhores escolas, com craques como Formiga e Filó, sendo campeão paulista em 1929. Ganhou novamente o título estadual no ano de 1931, já como jogador do São Paulo da Floresta, passando a ser conhecido o melhor ponteiro direito do Brasil, algo que se estendeu por toda a década de 30. De fato Luizinho era fantástico, considerado melhor que Garrincha pelo ex-goleiro Oberdan Cattani, pois driblava pelos dois lados, centrava com precisão cirúrgica, tinha muita técnica e velocidade e chutava com violência ao gol adversário. Atuando pelo Esquadrão de Aço, serviu a Seleção Paulista e esteve presente na Copa do Mundo de 1934. Também jogava muito bem na meia-direita. Foi jogador do Palestra Itália de São Paulo, ganhando os títulos paulistas de 1936 e 1940 e atuando na Copa de 1938. No São Paulo Futebol Clube, experiente, viveu uma das melhores fases da sua carreira, sagrando-se campeão paulista em 1943 e 1945/46, quando a equipe tinha um histórico ataque, formado por Luizinho, Sastre, Leônidas, Remo e Teixeirinha.
 
SIRIRI - Jogou no São Paulo da Floresta de 1930 a 1932. Tem uma bela história no Santos Futebol Clube, quando fez parte do ataque dos 100 gols de 1927 ao lado de Feitiço e Araken Patuska. Mas só conseguiu ser campeão paulista em 1931, quando atuava no novato São Paulo da Floresta.
 
ARMANDO DOS SANTOS ? ARMANDINHO (São Carlos, SP, 03/06/1911 ? Santos, SP, 26/05/1972) - Jogou no São Paulo da Floresta de 1930 a 1934. Iniciou no futebol junto com o novo clube. Era clássico e habilidoso. Além de ser goleador, também armava o jogo com ótimos lançamentos e técnica nos dribles. Campeão paulista de 1931, três anos depois estava presente na Copa do Mundo da Itália. Também teve boas passagens no Estudante Paulista e São Paulo Futebol Clube.
 
BIBI Jogou no Paulistano de 1908 a 1910. Artilheiro do Campeonato Paulista de 1909 com 11 gols. Bibi foi o mais importante goleador do time antes da chegada de Arthur Friedenreich.
 
ALFREDO PUJOL FILHO ? NETINHO - Jogou no Paulistano de 1921 a 1927. Trinta anos antes de Canhoteiro dominar a bola com o bico da chuteira, Netinho já fazia tal jogada no Paulistano. Atuava nas duas pontas, principalmente na esquerda, com um futebol veloz, goleador, de excelentes cruzamentos e chutava forte com ambos os pés. Disputou a posição com jogadores de qualidade, como Formiga, Filó e Zuanella. Campeão paulista em 1921 e 1926/27. Teve grandes atuações na vitoriosa excursão do Paulistano à Europa, em 1925.




Fotos: Arquivo pessoal do colunista
Imagem: @CowboySL

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