Ivan é filho de Servílio de Oliveira, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos do México em 1968 pela categoria mosca, feito que o coloca como um herói do esporte nacional

Ivan é filho de Servílio de Oliveira, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos do México em 1968 pela categoria mosca, feito que o coloca como um herói do esporte nacional

Em abril deste ano o público fã de lutas acompanhou o reality show The Ultimate Fighter Brasil 4 no qual Maurício “Shogun” Rua liderava seus lutadores contra os de Antônio Rodrigo Nogueira, o “Minotauro”. Um dos destaques foi o treinador de boxe Ivan de Oliveira, 33, que com sua didática ajudou os atletas da equipe Shogun a superar os rivais com socos fulminantes. O que poucos sabem é que este tem berço na nobre arte e esteve no córner do quarto campeão mundial de boxe nascido no Brasil, Valdemir Pereira, o “Sertão”.

Ivan é filho de Servílio de Oliveira, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos do México em 1968 pela categoria mosca, feito que o coloca como um herói do esporte nacional. Após seu feito histórico Servílio passou a trabalhar como auxiliar técnico na equipe Pirelli ao lado de seu mentor Antônio Ângelo Carollo, técnico de boxe da equipe nacional em cinco edições dos Jogos Olímpicos. O pequeno Ivan aos cinco anos já era uma presença constante naquele ambiente que produziu valores respeitáveis do boxe nacional como Peter Venâncio, João Cardoso e outros.

Um grande apaixonado pelo pugilismo em 1995, aos 14 anos, passou a treinar com o cubano Francisco “Paco” Garcia e seu auxiliar João Carlos Barros que estavam implantando a metodologia da tradicional ilha conquistadora de diversas medalhas em Olimpíadas. Nesse período foi colega de atletas que se preparavam para as principais competições internacionais do boxe olímpico. No ano seguinte voltou à academia com o pai, então coordenador do time de São Caetano do Sul, que tinha o irmão Gabriel de Oliveira como treinador da mesma. Em 1997, Ivan assumiu o posto de auxiliar técnico, Servílio conseguira mais atletas para a equipe AD São Caetano e precisava de mais pessoas trabalhando.

Amadurecimento precoce

Era apenas “o garoto da água” no início como o próprio Ivan se define, mas com o tempo foi evoluindo e participando de uma das equipes mais vitoriosas dos esportes de luta no Brasil, os destaques desta fase foram os atletas Edilson Lima; Antônio Cruz de Jesus, o “Gibi”; Juliano Ramos; André Luiz Bispo; Wagner Vasconcelos; Alexsandro “Pit” Cardoso; Fábio Maldonado e Valdemir Pereira, o “Sertão”. Maldonado se tornaria o “Caipira de Aço” respeitado nome do UFC – liga de MMA – e Sertão ao lado de Ivan e empresariado por Servílio faria historia no boxe mundial.

Com tantas vitórias Gabriel de Oliveira passou a ser técnico da equipe nacional olímpica, então a responsabilidade de guiar os lutadores de São Caetano passou para Ivan, então com 21 anos. Era um dos mais novos na academia e não tinha experiência como atleta, portanto todo dia precisava mostrar seu valor diariamente e escutou um conselho de seu pai que o marcou: “trabalhe, dedique-se e estude. O futuro a Deus pertence, atletas passam, técnicos ficam”. Os dias passaram, foram se tornando meses e então anos, enquanto os títulos continuavam chegando à academia assim como na época de Gabriel.

Em 2006, Ivan de Oliveira conquistou sua maior glória ao conduzir Valdemir Pereira, o “Sertão”, ao cinturão mundial de boxe profissional da categoria pena da Federação Internacional de Boxe (FIB), uma das quatro renomadas instituições. Com o feito, Sertão eternizou seu nome no panteão do boxe brasileiro junto aos outros três campeões mundiais: Eder Jofre, Miguel de Oliveira e Acelino “Popó” Freitas. Ivan com 24 anos se tornou o técnico mais jovem a alcançar o título mundial.

Nesta mesma fase viu muitos rostos irem e virem como avisou seu pai, garotos que iniciavam sonhando em ser o próximo Rocky Balboa ou estar cercado de mulheres em Las Vegas e Hollywood, mas se incomodavam com a realidade árdua do esporte de luvas, outros até ficavam por um tempo, mas o pugilismo os elimina como uma peneira. Porém, um capixaba de 14 anos, pele bronzeada e cabelos negros foi seguindo nos treinos, seu porte não era intimidador, 57 kgs distribuídos em 1,70m, calçados tamanho 41, mas chamavam atenção o tamanho de suas mãos, avantajadas para o seu porte, o menino Yamaguchi Falcão conquistou a medalha olímpica no boxe dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, e hoje está invicto entre os profissionais. Ivan se lembra com orgulho deste início.

A prefeitura decidiu encerrar o esporte de alto rendimento em 2010, fechando um ciclo vitorioso não apenas no boxe, mas no futebol também, e de um investimento que teria muitos resultados em grandes competições como os Jogos Olímpicos do Rio em 2016 tivesse prosseguido. Ivan contabilizou nove anos como técnico principal da equipe AD São Caetano, além de cinco como auxiliar de Gabriel, no seu currículo tinha conquistas desde regionais até o cinturão mundial.

Um novo jogo

Após a saída de Sertão e Popó dos ringues, a má gestão de dirigentes e a falta de empresários competentes o boxe brasileiro perdeu seu espaço como esporte popular, enquanto o público já vinha vendo a ascensão do MMA com nomes como os irmãos Nogueira, Shogun, Wanderlei Silva, Anderson Silva e Vitor Belfort. Em 2012, Ivan passou a participar deste universo transmitindo seus conhecimentos para os gladiadores dos octógonos.

O finalista do primeiro TUF Brasil Daniel Sarafian, o lendário lutador de jiu-jítsu e dono do melhor jogo de finalizações dentro do MMA Demian Maia e os talentosos Elias Silvério e Luiz Cane “Banha”, são alguns dos que afiaram seus punhos sob os olhares de Ivan de Oliveira. Obtendo resultados e destaque chamou a atenção de um dos maiores nomes da modalidade, campeão do tradicional evento japonês Pride e do UFC, Maurício “Shogun” Rua, e assim se deu sua entrada para a equipe do mesmo no reality show gravado em Las Vegas.

“Foi uma experiência ímpar poder ajudar aqueles atletas que tem um sonho a conquistar ou pelo menos chegar o mais próximo disso”, avalia Ivan. A quarta edição do TUF brasileiro teve como campeão dos leves Glaico França, membro de seu time, e por fim em agosto Shogun venceu Minotouro, um dos técnicos da equipe rival.

Nos dias de hoje Ivan é coordenador do departamento de boxe da Vila da Luta – centro de treinamento situado na zona oeste de São Paulo – e também trabalha na formação de jovens pugilistas para competição em seu projeto “Garimpando o Ouro Olímpico”, tendo obtido resultados expressivos em competições estaduais e nacionais, porém segue sem apoio financeiro.

“O futuro é incerto, mas o objetivo é colocar esses jovens em condições plenas de estar nos grandes eventos com todas as chances de se destacarem no cenário mundial, lutando boxe, é claro”, finaliza o técnico campeão mundial.

Fotos: Ivan de Oliveira e seu projeto Garimpando Ouro - Arquivo pessoal

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