Imagem aérea da Arena Corinthians; Odebrecht tenta acordo para deixar o negócio

Imagem aérea da Arena Corinthians; Odebrecht tenta acordo para deixar o negócio

Dassler Marques, Diego Salgado e Rodrigo Mattos

Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro

Em meio à crise da Operação Lava Jato, a Odebrecht começou a tentar um acordo com o Corinthians para a dívida da arena, que soma R$ 1,4 bilhão. Houve esboço de uma proposta de boca feita a dirigentes do clube para a saída da empreiteira da operação, mas a operação é bastante complexa, tem entraves e os efeitos para o clube são incertos.

Centro das denúncias da Lava Jato, a empreiteira tem tentado se livrar de negócios que fogem do seu ramo principal de atuação que é construção, petroquímica, entre outros. É o que faz, por exemplo, no Maracanã e tenta repetir na arena corintiana. Em ambos os casos, há denúncias de pagamentos ilegais feitos pela empreiteira relacionados às obras.

No caso corintiano, a Odebrecht é a responsável por toda a estruturação financeira e maior credora do clube. A dívida de R$ 1,4 bilhão é dividida em R$ 450 milhões com o BNDES, R$ 500 milhões em debêntures da Caixa, R$ 70 milhões em garantias da empreiteira e R$ 365 milhões diretamente com a construtora.

O acordo esboçado pela empreiteira propõe que ela assuma a dívida das debêntures com a Caixa. Em troca, ficaria com os títulos das CIDs (Certificados de Icentivo ao Desenvolvimento), que valem algo como R$ 420 milhões. O clube, por sua vez, assumiria sozinho a conta do BNDES que hoje é paga com renda da arena.

Além disso, a empreiteira negociaria o perdão de parte da dívida direta do clube. Na versão da Odebrecht, a empresa sairia com um prejuízo de R$ 200 milhões da operação dos quais abriria mão. Em uma das versões da proposta, a dívida do clube poderia cair a R$ 700 milhões - sem ter mais os CIDs para abatê-la. Só que a empreiteira ia querer um documento assinado pelo clube reconhecendo perdão de parte da dívida.

A questão é que o Conselho Deliberativo do Corinthians está de posse de auditoria que aponta diversas irregularidades da empreiteira na obra. Só em obras não realizadas foram R$ 200 milhões, segundo o documento. Há ainda acusações de acordos paralelos entre Odebrecht e fornecedores que prejudicaram o clube.

Com um eventual acordo, o Corinthians perderia a possibilidade de processar a empreiteira para cobrar prejuízos por obras não feitas e rendas comprometidas no estádio. Em delação premiada, Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empresa, admitiu que ficaram obras por fazer e que houve prejuízos na obtenção de renda do estádio.

Outra questão é como seria estruturado um acordo com o BNDES, já que toda a operação foi feita em torno da Odebrecht e o fundo Arena Itaquera, estruturada por seus executivos. Se entrassem em acordo, clube e empreiteira teriam de convencer a Caixa Econômica Federal e o banco público a mudar o modelo. Hoje, as garantias são em parte da empreiteira e em parte do clube: teriam de ser apresentados novos bens.

Antes disso, a diretoria do clube teria de levar uma proposta para ser aprovada pelo Conselho Deliberativo. Até agora, nenhum dos conselheiros envolvidos na apuração dos problemas da arena ouviu falar de um acordo com a empreiteira. Consultado pela reportagem, um dos envolvidos explicou que o órgão sequer consegue avaliar se a rescisão proposta pela Odebrecht é boa, pois possui poucas informações sobre o estágio real da obra e como foi feita a opinião financeira.

Questionado sobre o assunto, o ex-presidente Andres Sanchez negou que já exista uma proposta da Odebrecht na mesa, mas admite uma negociação no futuro: "Isso vai acontecer um dia, mas não tem nada a ver. Isso é balela. A Odebrecht não senta com ninguém se não for comigo, esquece. Não chegou nada. Vai acontecer, é questão de tempo para sair todo mundo", afirmou ele.

Perguntado se aceitaria um acordo, ele afirmou: "Depende, se for bom para o Corinthians, sim". Planilhas da Odebrecht apontam pagamento de Caixa 2 de R$ 3 milhões para Andrés na eleição de 2014. Isso o coloca em uma situação delicada para negociar um acordo com a própria empreiteira. O presidente Roberto Andrade também foi procurado pela empreiteira com sondagens, mas sempre ouve Andrés sobre o tema.

Foto: Alexandre Schneider/Getty Images

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