O jornalista Marcos Sérgio Silva relata o tamanho do narrador que construiu o imaginário dos jovens amantes do esporte na década de 80

O jornalista Marcos Sérgio Silva relata o tamanho do narrador que construiu o imaginário dos jovens amantes do esporte na década de 80


Por Marcos Sérgio Silva, jornalista da Revista Placar

Eu poderia postar aqui um monte de coisa. Uma tacada do Rui Chapéu, a famosa partida Brasil x URSS no Maracanã ("HOMENS!"), os gols de Brasil 2 x 3 Itália, no Sarriá, os três minutos da luta Maguilla x Hollyfield, o Mundial de Basquete de 1986, a Copa Pelé de 1987 (quem assistiu entende o quanto aquilo foi importante, sobretudo a tentativa de bicicleta de Pelé contra a Itália, talvez o único momento em que pude dizer que, sim, eu o vi jogar), os gritos de GÊNIO AMARAL em meio a um Brasil x Espanha horroroso em 1978, a bandeirada final de Emerson vencendo pela primeira vez em Indianápolis em 1985.

Até mesmo as transmissões impagáveis do Verão Vivo da Band, DIRETO DE PORTO DE GALINHAS. Essas imagens falam muito sobre a construção do gosto por assistir esporte - e esporte de qualquer tipo. Vasculhando ainda mais, eu posso dizer que cada memória afetiva nos anos 1980 teve alguma ligação com o velho Bolacha.

Porque, veja bem, nos anos 1980 a Globo não dava a mínima para o futebol - exceções ao monopólio da Copa de 1982, na voz do próprio, e à Copa União de 1987, quando a emissora achou que era uma boa bancar um torneio enxuto e só com grandes clubes. As lembranças dessa época sempre tinham a voz do Luciano do Valle. E como não era uma época muito doce para o time que torço e para o Brasil, elas vieram embebidas na libertação fail de Falcão em 1982 (Paolo Rossi a enterraria), na final cansada do vôlei olímpico de 1984, no pênalti perdido por Zico em 1986 e, sim, na pancada tomada por Maguila em 1989 (foi o dia em que deixei de ser um pouco ingênuo).

Ninguém era páreo para esse cara. Eu ainda acredito que parte do clima febril da Copa de 1982 vinha de suas narrações. Era impossível não se contagiar - e a narração ainda era precedida por uma vinheta que impunha tensão aos 90 minutos seguintes e ao sonho de ver o Brasil campeão pela primeira vez, coisa que minha geração só pôde ver em 1994. Crianças dos anos 1980 chorarão. Só elas conseguem entender o tamanho do Bolacha.

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