Chygrynskiy, que atuou pelo Barcelona, hoje tenta se recuperar no Brasil

Chygrynskiy, que atuou pelo Barcelona, hoje tenta se recuperar no Brasil

Gustavo Franceschini
Do UOL, em São Paulo

Dmitro Chygrynskiy, zagueiro de nome quase impronunciável, foi contratado a peso de ouro pelo Barcelona de Guardiola. Hoje, está no Corinthians. O que leva um jogador que esteve no topo do futebol mundial a buscar o, em tese, decadente futebol brasileiro, tão criticado pelo 7 a 1 sofrido para a Alemanha na última Copa do Mundo.

"Há cerca de três anos ele vem sofrendo problemas constantes no aparelho muscular. Posterior, adutor, nas duas pernas quase que igualmente. Passou por vários tratamentos. Chelsea, Porto, Cabreton, que é um centro especializado na França. Na Bélgica, na Ucrânia...", conta Bruno Mazziotti, fisioterapeuta do Corinthians e um dos responsáveis pela passagem do ucraniano no CT Joaquim Grava.

"Ele começou a acompanhar atletas na mesma situação que ele, como o Pato. Ele viu que quando o Pato voltou ao Brasil ele resolveu os problemas dele. O fato positivo foi ter bastante brasileiro no clube dele, se estreitou o contato e ele queria conhecer quem trabalhou com o Pato os profissionais do Corinthians", diz Mazziotti.

Chygrynskiy tem 27 anos e movimentou 43,9 milhões de euros em transferências ao longo da carreira. Em compensação, fez só 28 jogos nos últimos três anos, sempre envolvido em diferentes lesões musculares que já o acompanhavam nos tempos de Barcelona.

O clube catalão já era dono do mundo quando contratou o zagueiro em 2009 por 25 milhões de euros. Um ano depois, o revendeu por menos da metade do preço para o mesmo Shakhtar Donetsk, de quem o havia comprado no verão anterior. Desde então, Chygrynskiy nunca conseguiu ter uma sequência em campo.

A peregrinação a que se refere Mazziotti se refere aos departamentos médicos dos grandes clubes europeus. Porto e Chelsea abriram as portas para o zagueiro, que também tentou tratamentos alternativos como o de placenta de cavalo, na Sérvia. Nada funcionou.

Em junho, ele foi ao Corinthians fazer testes biomecânicos. A aparelhagem alvinegra identificou que o corpo do ucraniano demora a reagir aos estímulos e esse desequilíbrio favorece o surgimento de lesões. Chygrynskiy se impressionou e resolveu passar mais tempo no clube, com autorização do Shakhtar, para tentar resolver o problema.

É por isso que um barbudo de 1,90 m ocasionalmente aparece no gramado do CT Joaquim Grava. Mazziotti tem acompanhado de perto a recuperação do zagueiro, que precisa readaptar a musculatura e corrigir, com fisioterapia, o desequilíbrio que possui.

Chygrynskiy não pode falar com a imprensa porque não foi autorizado pelo seu clube. Mazziotti, que convive com ele diariamente, explicou ao UOL Esporte que o ucraniano estranhou a rotina de treinos e a comida, mas que se encaixou bem no ambiente do Corinthians (é amigo de Jadson dos tempos de Shakhtar) e está na fase final de recuperação.

"Hoje já faço simulações de jogos, para que eu possa ver a repercussão dele executando um ato específico da sua atuação. Posteriormente é criar situação de jogo, para que eu possa dar uma alta monitorada em uma situação de segurança, pra que o atleta se sinta confortável", disse Mazziotti.

O mantra do fisioterapeuta para Chygrynskiy é de que ele não pode mudar três anos em dois meses. Por isso, deve acompanhar o zagueiro à distância quando ele voltar à Ucrânia, o que deve acontecer no fim deste mês. Possivelmente, deve até enviar profissionais de sua confiança para um acompanhamento presencial.

O retorno aos gramados é um processo delicado e Mazziotti compara à situação vivida por Pato o ano passado. Fragilizado pelas seguidas lesões que sofreu, ele demorou a confiar no tratamento que lhe era oferecido. O fisioterapeuta relembra um episódio que ilustra bem a relação e mostra um pouco do desafio que o ex-zagueiro do Barcelona tem pela frente.

No primeiro semestre, em um jogo contra o Tijuana, pela Libertadores, o atacante reclamou de dores musculares. Mazziotti o orientou a ficar em campo e o tirou assim que ele marcou um gol. Tudo para convencer o atleta e prepara-lo psicologicamente.

"Eu já sabia, porque as ações dele me revelavam, que não era uma questão grave. Você reconhece o gestual. Ele me reclamou com 5min, o gol saiu aos 20min e pouco. Ali, com a anuência do Tite, eu tiro ele do jogo em uma situação positiva, porque ali estava se estabelecendo uma relação de confiança e eu queria provar naquele momento que a minha opinião era a correta e que ele podia confiar numa próxima vez", conclui Mazziotti.

FOTO: UOL

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