A história do raro encontro em campo é só uma das que unem os dois comentaristas. Foto: Arquivo histórico/São Paulo FC

A história do raro encontro em campo é só uma das que unem os dois comentaristas. Foto: Arquivo histórico/São Paulo FC

Walter Casagrande Jr. e Caio Ribeiro são os principais comentaristas da Rede Globo, em São Paulo. Há exatos 23 anos, porém, ambos estavam em campo, um contra o outro. Em uma eliminatória recheada de craques que fariam história, o São Paulo do jovem Caio Ribeiro bateria o Corinthians nos pênaltis, no duelo do último gol da carreira de Casagrande.

A história do raro encontro em campo é só uma das que unem os dois comentaristas. Antes de empunharem o microfone global, os dois tiveram carreira futebolística destacada e com muito em comum: jogaram em grandes clubes (São Paulo, Corinthians, Botafogo, Flamengo, Santos, Fluminense, Grêmio), na Europa (Porto, Napoli, Internazionale, Ascoli) e na seleção brasileira.

A diferença de idade (Casagrande tem 54 e Caio, 42) permitiu que se encontrassem apenas duas vezes em campo. Foi na semifinal da Copa Conmebol de 1994, quando o Expressinho do São Paulo, que tinha Caio, eliminou, em dois jogos (4 a 3 e 2 a 3 (5-4 nos pênaltis), o experiente Corinthians de Casagrande.

Cada um ganhou um jogo. Cada um fez um gol. E Caio eliminou Casagrande nos pênaltis. Nota: Caio errou e Casão acertou. O primeiro encontro foi em 2 de dezembro de 1994 e o último, uma semana depois, há exatos 23 anos.

E os dois têm lembranças fortes das partidas. Por motivos diferentes: "Foram meus últimos jogos pelo Corinthians. E fiz meu último gol. Minha carreira terminou aí", diz Casagrande. "Foi meu primeiro titulo como profissional. Nosso time era muito forte nas categorias de base, era sempre a primeira ou segunda substituição do Telê no time principal, e conseguimos eliminar o Grêmio e depois o Corinthians, que eram favoritos".

"O Corintihians era favorito, mas levou o jogo muito a sério", lembra Casagrande. "No ano anterior, eu estava no Flamengo e tinha enfrentado o São Paulo. O Juninho Paulista entrou e jogou muito. Então, a gente já sabia como o time deles era bom, apesar de ser de garotos".

O primeiro jogo

No primeiro jogo, no Pacaembu, o Corinthians saiu na frente, com um gol de Casagrande. "Foi o último da minha vida. A bola veio da esquerda, sobrou na área e eu chutei cruzado. O Rogério não teve chances. Depois, eles vieram  com tudo", lembra Casagande. Juninho fez dois, Catê fez um e terminou o primeiro tempo. Branco diminuiu, de falta, Juninho fez mais um e Marques diminuiu. No fim, vitória são-paulina por 4 a 3 no jogo de ida.

"Era o primeiro torneio do Denílson também, lembra Caio. "O time foi crescendo, ganhando confiança e passamos pelo Corinthians.

O segundo jogo

A outra partida foi no Morumbi e, por jogar em casa, Caio acredita que o Expressinho teve um certo relaxamento. "A gente era muito forte em casa. Saímos na frente, com um gol meu. O Corinthians empatou, fizemos mais um e o time deu aquela relaxada e o Corinthians virou", relembra Caio.

"No fim, eu lembro de disputar uma bola com o Rogério Ceni no alto e ajeitar para o Viola marcar. O Rogério reclamou de falta, mas não foi nada não", disse Casagrande, relembrando do gol que decretou o 3 a 2 alvinegro.

Em um tempo em que o gol fora de casa não era critério de desempate, a decisão foi para os pênaltis. Casagrande marcou a primeira para o Corinthians. Rogério Ceni defendeu a cobrança de Gralak e coube a Caio definir, na última cobrança. "Eu era o batedor oficial, o homem da última cobrança. Eu sempre bati no meu canto direito, mas o goleiro era o Ronaldo, experiente, pegador de pênaltis. Resolvi mudar o canto e acabei batendo fraco, no meio. Ele defendeu". Depois, Rogério defendeu o pênalti de Leandro Silva e o zagueiro Nelson, que agora é auxiliar de Ceni no Fortaleza, fez o último.

Os atletas em campo

Além de Caio e de Casagrande, o jogo reuniu muita gente que continua no futebol: Ronaldo, Zé Elias e Marques são comentaristas, Juninho é dono do Ituano, Branco é supervisor, Rogério Ceni e Nelson são treinadores. E teve Catê (diminutivo de categoria), o gaúcho Marco Antonio Leme Tozzi, que morreu em um acidente automobilístico em 2011, com 38 anos. "Ele era muito bom, um verdadeiro ponta-direita do tempo antigo. Foi muito decisivo naqueles jogos", lembra Casagrande. "Ele era um driblador, homem do mano a mano, muito rápido", recorda Caio.
Na final, o Expressinho venceu o Penãrol com uma goleada por 6 x 1 no Morumbi e uma derrota por 3 x 0 no estádio Centenário. O time ficou na história do São Paulo.

"Foi o primeiro título do Muricy, ninguém vai esquecer da gente. Teve um jogo em que eu estava fora, vendo ao lado do Alemão, que tinha jogado a Copa de 90, e quando o Denílson pegou a primeira bola e deu uma pedalada, o Alemão começou a rir. Ele vibrava e falava esse moleque é muito bom, é craque, vai ganhar muito dinheiro. Foi um ano muito bom para nós, era nosso início no futebol", diz Caio.

Casagrande também se lembra do Expressinho. "Nosso time era experiente, era um bom time, encarava qualquer equipe veterana, mas não deu contra os garotos. Eles corriam muito, tinham velocidade e técnica. Era um inferno jogar contra eles".

E o encontro Caio x Casagrande nem era para ter acontecido. "Vocês lembram que o Telê ganhou os dois Mundiais com o Cerezo, que tinha voltado da Europa? Depois, ele trouxe o Alemão? Ele gostava de jogadores experientes, com passagem por lá. E me chamou em 93. Mas eu tinha dado minha palavra para o Flamengo, queria jogar lá. Era para eu estar junto com o Caio e não contra ele", revela Casagrande.

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