Uma das conclusões mais controversas da análise de Avallone reside no aproveitamento de troféus

Uma das conclusões mais controversas da análise de Avallone reside no aproveitamento de troféus

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

A primeira lembrança que o jornalista Roberto Avallone guarda de futebol foi a imagem da tia Dora comemorando efusivamente um gol do Palmeiras, escutando pelo rádio uma vitória decisiva sobre o São Paulo nos anos 50. Hoje, décadas depois, o comentarista diz olhar para o clube mais vencedor do século 20 como um gigante em um penoso processo de encolhimento.

"O Palmeiras é um caso de estudo científico, porque parece ter perdido a causa que o fez grande", afirma o jornalista, blogueiro do UOL.

A pedido da reportagem, Avallone fez uma reflexão sobre os dilemas que o Palmeiras enfrenta na chegada ao centenário, celebrado oficialmente na próxima terça-feira, dia 26 de agosto. Mesmo prestes a inaugurar uma nova e moderna arena, o clube lida com a ameaça de um terceiro rebaixamento neste século e o consequente distanciamento em relação aos principais rivais.

"O que será do Palmeiras, interrogação. Realmente foi o campeão do século… passado. Repito, passado. Porque neste século, meus Deus. Neste século, ganhou o que? Um Campeonato Paulista em 2008, quando teve um aporte financeiro de uma parceira, no caso a Traffic. E ganhou uma Copa do Brasil, em 2012, com gol de cabeça do Betinho! E Copa do Brasil muitos times ganharam, o Santo André… times não necessariamente de primeira linha", comenta o jornalista.

Uma das conclusões mais controversas da análise de Avallone reside no aproveitamento de troféus. Na opinião do jornalista, se não fosse a parceria com a Parmalat [entre 1992 e 2000], o Palmeiras poderia enfrentar jejum de títulos até hoje em dia. Na oportunidade em questão, turbinado por craques como Edmundo, Edílson e Roberto Carlos, o clube da Rua Turiassu se livrou de uma fila de 16 anos com a conquista do Paulistão de 1993. Em seguida veio uma coleção de vitórias estaduais, nacionais e internacionais.

"[A Parmalat] foi um divisor de águas para pior. Enquanto durou a Parmalat, tudo bem. Para o Palmeiras foi uma grande coisa. Acho até que o Palmeiras deveria ter sido mais vezes campeão do que foi (…) O Palmeiras foi muito grande. E foi um hiato. E se não fosse a Parmalat, o Palmeiras estaria mais de 40 anos na fila", opina Avallone.

"Porque o Palmeiras sofreu um processo de apequenamento desde o final dos anos 70. Houve um episódio com um presidente, que foi deposto. E isso permitiu a ascensão de outras pessoas, com outra mentalidade, do bom e barato. E o Palmeiras passou por anos terríveis. Nos anos 80, me lembro de um time que tinha Darinta, Benazzi… meus Deus, um horror! Era bem típico do pós-Parmalat", agrega, na análise sobre as última décadas alviverdes.

Avallone diz que atualmente prefere distância do complexo cenário político palmeirense, mas que na época de repórter conseguia identificar com facilidade todas as correntes: situação, oposição e dissidências. O jornalista diz considerar que o DNA italiano talvez possa explicar essa tendência de cisão e cita até Giuseppe Garibaldi, herói da unificação do país. No entanto, em sua opinião, a configuração do presente palmeirense é mais delicada.

"Só que havia uma diferença do que é hoje. Neste tempo da discórdia, brigava-se, mas tudo acabava em pizza. Porque havia um bem comum: Palmeiras. E hoje, a impressão que passa é que se briga, mas em vez de pizza acaba em ódio. E o Palmeiras sai prejudicado de tudo isso", afirma.

AVALLONE ELEGE OS MAIORES DO PALMEIRAS

Melhor time: a primeira Academia, de 1965

Jogo inesquecível: derrota de 7 a 6 para o Santos em 1958

"O maior jogo que eu ouvi"

Melhor jogador: Ademir da Guia

"Mas meu ídolo foi o Julinho (Botelho)"

Melhor goleiro: Marcos

"Mas com menção honrosa a Valdir Joaquim de Moraes"

Melhor centroavante: José Altafini "Mazzola"

Técnico: Osvaldo Brandão

Foto: UOL

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