Emerson, inclusive, não tem dado tanto trabalho em 2014

Emerson, inclusive, não tem dado tanto trabalho em 2014

Em pouco menos de três anos de Corinthians, Emerson Sheik se caracterizou por duas coisas: as polêmicas e o bom futebol. Prestes a ser emprestado ao Botafogo, o atacante vê seu mau comportamento e o histórico de confusões ser apontado como explicação para o fim de sua passagem no Parque São Jorge. Não foi. Em má fase há meses, o camisa 11 deixará o elenco comandado por Mano Menezes porque seu desempenho parou de compensar os problemas.

A análise é feita desde o início do ano pela diretoria e pela comissão técnica. Emerson, inclusive, não tem dado tanto trabalho em 2014. Mais pontual, tem seguido à risca as orientações que recebe e não foi notícia por nenhuma polêmica. O problema é que, em campo, ele não tem rendido.

Emerson não marca desde agosto da temporada anterior, fez só nove jogos neste ano e foi titular em apenas três. A despeito de ser um dos poucos atacantes do elenco corintiano, é o sétimo melhor do time em finalizações e a quarta opção do técnico, que prefere Romarinho, Luciano e Guerrero. Se continuasse em queda, poderia perder a briga até para Malcom, jovem recém-promovido da base.

Só que Sheik nem sempre foi assim no Corinthians. O atacante chegou do Fluminense em 2011 e, depois de um começo claudicante, foi protagonista na conquista do Brasileiro daquela temporada, jogando ao lado de Liedson.

No ano seguinte, o ápice veio na conquista da Libertadores. Emerson marcou contra o Santos na semifinal, deu o passe para Romarinho no primeiro jogo contra o Boca e fez dois na grande decisão no Pacaembu. Em uma noite, entrou para a história do Corinthians, mas sempre sem se enquadrar no padrão politicamente correto.

Emerson chegou demitido do Fluminense por cantar uma música do Flamengo na concentração, respondia a um processo sobre compra de carro ilegal e havia adulterado sua identidade (ele se chama, na verdade, Márcio Passos de Albuquerque) no começo da carreira. O Corinthians, portanto, sempre soube das polêmicas que acompanham o Sheik.

No clube, ele somou outras à lista. Chegou seguidas vezes atrasado, já foi multado por isso e mais de uma vez usou um helicóptero para chegar ou sair do treino. Emerson provocou rivais em redes sociais, deu um "selinho" em um amigo e nunca escondeu seu gosto por baladas. Só que tudo isso, na verdade, tornou-se uma espécie de folclore do jogador.

"[A gente] vai fazer uma despedida aqui [no CT]. Uma pena que não vai poder ser na casa dele, porque minha mulher não vai liberar", disse Fábio Santos na última sexta, brincando justamente com o lado "festeiro" do colega.

Emerson era o exemplo de uma política que deu certo no Corinthians. Em sua versão vencedora, o clube conviveu com outros jogadores com histórico de indisciplina, como Jorge Henrique e Chicão. O autocontrole do grupo, porém, sempre evitou medidas mais drásticas.

A conduta suave do elenco tinha o dedo de Tite, que chegou a se incomodar com Sheik, mas nunca rompeu a relação com o jogador, que é querido pelo elenco e pelos funcionários pelo bom trato diário.

Só que Emerson parou de corresponder. Em 2013, deixou de ser titular absoluto e passou a brigar por posição com Alexandre Pato e Romarinho. Sua última grande atuação foi na Recopa do ano passado, quando liderou o Corinthians no título contra o São Paulo, um dia depois de renovar seu contrato até o meio de 2015.

O novo compromisso já foi feito a contragosto. Àquela altura, o clube já entendia que Emerson era um investimento arriscado, mas tinha poucas opções de elenco, tinha acabado de liberar Jorge Henrique e não podia prescindir de um atacante desse porte sem reposição à altura.

Em 2014, nem esse papel Emerson conseguiu cumprir. Sua lesão na reta final do Paulista, justamente quando o Corinthians precisava vencer para se manter vivo, foi a gota d'água. Em seus momentos finais, o Sheik ainda deu trabalho para ser negociado por sentir-se confortável com um bom salário no ambiente familiar do Corinthians.

Para que o atacante topasse a mudança para o Botafogo, foi necessário que o presidente Mário Gobbi negociasse o empréstimo pessoalmente, deixando claro a Emerson que ele não estava mais nos planos. Com a garantia de que não perderia dinheiro e poderia voltar a atuar, o Sheik finalmente topou, e o negócio deve ser selado nos próximos dias.

Na nova casa, Emerson terá uma nova chance de mostrar que tem futebol para, se necessário, compensar as polêmicas que arrasta consigo.

FOTO: UOL

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