Apresentação:
É impossível traçar qualquer tipo de paralelo entre o futebol e o tráfico de drogas da Colômbia sem levar em consideração a violência praticada fora dos campos.
Sobretudo quando o foco central da reportagem nos leva a Medellín, aos pés da Cordilheira dos Andes.
Cidade, sede do antigo Cartel de Drogas de Pablo Escobar, hoje com pouco mais de dois milhões de habitantes, cujo passado sobrepuja a própria insolência do Vale de Aburrá.
Terra Natal de um outro Escobar.
Zagueiro, ícone do principal time local, vencedor da Taça Libertadores de 1989 e vítima de um erro cometido contra os Estados Unidos na Copa do Mundo de 1994.
Andrés Escobar Saldarriaga, que também disputou o mundial de 1990, foi considerado o principal responsável pela eliminação da Seleção Colombiana.
Teve a cabeça colocada à prêmio e, cotado como se fosse apenas mais uma transação de pó, acabou assassinado em 02 de julho de 1994, justamente no momento em que os carteis de Cali e Medellín disputavam o controle do narcotráfico mundial.
Na Rota do Tráfico, o futebol por trás do Cartel de Medellín, apresenta muito mais do que os bastidores da partida entre Atlético Nacional e São Paulo.
Trata-se de um velho problema, conhecido in loco, pela reportagem do Terceiro Tempo na Colômbia.
Uma oportunidade para tentar entender o motivo que levou o tetracampeão e capitão da Seleção Brasileira de 1994, Mauro Silva, a abandonar a Família Scolari em 2001, durante o embarque para a Copa América da Colômbia, com a alegação de que o país não apresentava a segurança necessária para sediar uma competição de futebol.
A ROTA DO TRÁFICO
Os números são atuais e foram divulgados pela BBC de Londres.
Noventa e cinco porcento de toda a cocaína consumida nos Estados Unidos ainda é produzida na Colômbia.
Parte dela distribuída pelo Brasil, o segundo maior negociador mundial da coca.
A droga segue da Colômbia por rotas alternativas - fluviais e aéreas - no coração da Floresta Amazônica ou por meio de aeroportos e estradas convencionais que interligam a Venezuela, Equador e o Peru.
A Rodovia Pan-Americana é o principal corredor do tráfico terrestre.
É tida como a maior rede de estradas do planeta e se estende do Ushuaia ao Alasca.
No território colombiano está situada na parte central da Cordilheira dos Andes.
As autoridades não recomendam a presença de estrangeiros nesse trecho.
Principalmente, diante da Guerra contra as Drogas, financiada pelos Estados Unidos.
O clima de tensão é sentido logo de cara, ao se aproximar da fronteira entre San Cristobal, na Venezuela, e Cucuta, na Colômbia.
A sensação de estar em uma das regiões mais perigosas do planeta se estende até a divisa entre Ipiales  e Tulcán, no Equador, em mais de 10 dias de estrada.
Durante à noite, os veículos são obrigados a circular em comboios, escoltados pelo exército armado com fuzis de guerra. 
Nos terminais de ônibus, a revista é obrigatória.
As paradas para fiscalização se estendem por todo o país.
Três japoneses, funcionários de uma montadora de carros de Tóquio, ficam assombrados com a realidade quando no meio da madrugada, juntos com os demais passageiros, são obrigados a descer do ônibus e mostrar suas malas.
Como eu, eles desafiaram a segurança.
Nos últimos anos, os turistas têm sido o alvo principal  das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
O grupo, considerado uma organização terrorista pelo governo colombiano, se habituou a queimar ônibus com passageiros dentro.
Daí a precaução.
Os argentinos Martin Gomez Amar e Erika San Martin são testemunhas do terror.
Os dois estavam hospedados em uma hotelaria na região sul da Colômbia quando foram surpreendidos por militantes da Farc que queriam usar o local para se alimentar e dormir.
O casal fingiu ser colombiano e não foi deletado pelos demais hóspedes e funcionários.
Em dez anos, estima-se que cerca de seis mil pessoas tenham sido sequestradas e mantidas de forma sub-humana pela facção.
Na região de Santander os conflitos com o exército são ainda maiores.
Em uma ação militar, a rodovia precisou ser fechada na carreteira que liga Medellín a Cali.
Rajadas de metralhadoras podiam ser ouvidas em meio à escuridão.
Somente no último mês de agosto, dezoito pontos de estrada foram fechados por camponeses na Colômbia.
Apesar de ter oficialmente condenado o narcotráfico, as Farcs estão associadas à produção e tráfico de cocaína, utilizada para sustentar a guerrilha de ideologia esquerda bolivariana.
Em um comunicado divulgado em setembro, a organização afirmou que "o narcotráfico é uma realidade sócio-econômica gerada por um modelo capitalista que produz hoje mais de 600 bilhões de dólares por ano."
Estimativas oficiais, no entanto, dizem, que o montante total da coca pode ser superior a US$ 1 trilhão.
E a liberação do cultivo da papoula já foi pedida pela facção como condição sine qua non para as negociações de paz.
Hipótese descartada pelas autoridades internacionais.
A operação ilícita começou a se expandir no final da década de 70 com George Jacob Jung.
Foi ele o responsável pela "profissionalização" do tráfico de cocaína para os Estados Unidos. 
Primeiro como sócio de Carlos Lehder, que construiu seu império nas Bahamas; depois, como amigo pessoal de Pablo Escobar.
A amizade com o "Padrinho" lhe rendeu mais de US$ 100 milhões e hoje lhe custa uma sentença de 21 anos de prisão, com a pena estipulada até 2015.
Se estiver vivo, "Boston Jung", como também é conhecido no submundo, deixará a cadeia aos 73 anos de idade.
Terá a oportunidade de ver a Colômbia devastada por aquilo que considerava apenas "um sonho americano", transformado, hoje, no interminável pesadelo colombiano.
Motivos que deram à nação sul-americana o título de um dos países mais perigosos do mundo.
E, por essa razão, as viagens terrestres pela Rodovia Pan-Americana, no território colombiano, se tornam extremamente perigosas.
Uma antítese irônica com um povo caloroso, acolhedor e receptivo, porém, ainda escravo da insegurança.
Seguindo pela Rota do Tráfico, desembarcaremos - na próxima reportagem da série, nesta terça-feira - nas cidades de Cali e Medellín, com a guerra entre os carteis e o atentado ao Voo Avianca 203 que deixou 110 mortos.
Mais um capítulo da história, vista por um ângulo diferente, por trás dos bastidores de Atlético Nacional e São Paulo.
A partida será realizada quarta-feira, 06 de novembro de 2014 às 21h50, no Estádio Atanasio Girardot, uma das sedes da Copa América de 2001.
Competição descartada por Mauro Silva no Aeroporto Internacional de Guarulhos durante o embarque da Seleção Brasileira de Luís Felipe Scolari.










Fotos: Chico SanTTo/Portal TT
Imagem: CowboySL

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