Da arquitetura ao conforto, passando por iluminação, gramado e acústica, clubes e torcidas defendem os atributos da casa onde mandam seus jogos, naturalmente

Da arquitetura ao conforto, passando por iluminação, gramado e acústica, clubes e torcidas defendem os atributos da casa onde mandam seus jogos, naturalmente

Thadeu Melo 
Especial para o UOL, em São Paulo

É difícil resistir à tentação de comparar as novas arenas paulistanas. Da arquitetura ao conforto, passando por iluminação, gramado e acústica, clubes e torcidas defendem os atributos da casa onde mandam seus jogos, naturalmente.

Mas quando o assunto é água, qual desses imóveis está melhor preparado para lidar com a crise de abastecimento que afeta a região metropolitana de São Paulo?

Com menos de um ano de operação, as novas casas de Corinthians e Palmeiras têm projetos hidráulicos modernos e mais sustentáveis. Foram construídas mais de 50 anos depois de lançada a pedra fundamental do estádio são-paulino, que entra nessa disputa em aparente desvantagem.

Mesmo sendo capaz de acolher grandes volumes de chuva, o Morumbi, construído entre 1953 e 1970, na zona sul da capital paulista, sequer possui sistema adequado para captação de água pluvial. A construção de reservatórios com capacidade para armazenar 6 milhões de litros está prevista no projeto de reforma do estádio, que inclui a cobertura e um conjunto de placas de energia solar.

Já as novas arenas contam com reservatórios que acumulam água da chuva e atendem à maior parte da demanda em suas dependências, no período chuvoso.

Na Arena Corinthians, em Itaquera (zona leste da capital), um reservatório com capacidade para 300 mil litros acumula água da chuva para irrigação do gramado, limpeza geral, uso nos sanitários.

Torneiras e chuveiros do Itaquerão são abastecidos pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Volume significativo é consumido da rede apenas nos dias de jogos, tendo se mantido na média desde o início das operações, em maio de 2014.

Inaugurado em novembro do ano passado, o Allianz Parque, nova casa do Palmeiras, na Água Branca (zona oeste da capital), possui sistema semelhante ao da arena de Itaquera. A chuva que cai sobre a cobertura alimenta 20 reservatórios, capazes de acumular 1 milhão de litros, também destinados para limpeza e irrigação.

Segundo a assessoria de imprensa da WTorre, empresa que administrará o novo Palestra Itália por 30 anos, os reservatórios estão atendendo a 76% da demanda. Além disso, o sistema de captação estaria contribuindo para reduzir o volume de água que costuma se acumular na região do estádio, nos momentos de chuvas fortes.

O breve histórico do Allianz Parque ainda não permite identificar variações relevantes no consumo de água do imóvel.

Enquanto as arenas corintiana e palmeirense são independentes das sedes sociais, o imóvel são-paulino reúne estádio e clube sob a mesma administração.

Para compensar a falta de dispositivos modernos de sustentabilidade hídrica no Morumbi, o clube teve que intensificar as ações para uso racional da água. E, até o momento, conseguiu.

Entre outubro de 2014 e janeiro deste ano, o São Paulo reduziu em mais de 50% o consumo de água na área que inclui o estádio Cícero Pompeu de Toledo e a sede social.

A diretoria de meio ambiente do clube acredita que a redução se deva às novas práticas de limpeza, como a substituição do uso de água pela simples varrição. Também foi adotada uma máquina que retira a folhagem dos caminhos e calçadas com jatos de ar, movida a gasolina. Não estariam mais sendo utilizadas mangueiras nem pressurizadores de água para limpeza.

O sistema automático de rega dos jardins foi temporariamente desligado, sendo tarefa do jardineiro decidir o momento adequado de aguar as plantas. Uma mina d'água, recuperada e filtrada, passou a alimentar perenemente uma das piscinas.

Com o aumento dos volumes utilizados na área social durante as férias de verão, o clube também teve que fazer campanha de conscientização entre os sócios, além de implantar redutores de vazão nos bebedouros, torneiras e chuveiros.

Até o início da atual temporada de chuvas, que reduziu a necessidade de irrigação artificial, a água utilizada no gramado do Morumbi era proveniente da Sabesp. Desde então, outra mina d'água revitalizada, atrás do gol do setor sul do estádio, passou a abastecer reservatórios que podem servir para irrigação do gramado.

O consumo no estádio é menor entre o fim do ano e o mês de janeiro, por conta do calendário do futebol profissional e dos índices pluviométricos. No entanto, o campo passou por uma reforma nesse período, o que demandou intervenção frequente.

Demanda firme

A redução significativa alcançada pelo São Paulo não pode ser recompensada pelo programa de bônus criado no ano passado pela Sabesp para estimular a economia de água entre seus clientes, uma vez que o clube já participa do programa de demanda firme da empresa.

As sedes sociais de Corinthians e Palmeiras, também participam do programa de demanda firme da Sabesp e recebem descontos de cerca de 30%. A iniciativa a que os três clubes aderiram oferece abatimentos que podem chegar a 70%, para clientes que se comprometem a consumir volumes elevados de água da rede.

Recentemente, Corinthians e Palmeiras apareceram em uma lista que reúne alguns dos clientes que mais consomem água da concessionária na capital paulista.

O São Paulo não figura entre os 298 clientes listados no documento – entregue pela concessionária a uma comissão de investigação da Câmara Municipal paulistana –, pois a relação traz apenas os nomes de clientes que aderiram mais recentemente ao programa.

Segundo a lista, o consumo médio mensal de água da Sabesp na sede social do Corinthians foi de 5.233 m3, em 2014, enquanto a sede do Palmeiras consumiu, em média, 3.285 m3 de água da companhia, a cada mês.

O complexo do Morumbi demandou uma média mensal de 4.546 m3 da Sabesp, ao longo do segundo semestre de 2014, segundo a Diretoria de Meio Ambiente do Clube.

Economia em risco

O Morumbi deve aumentar o consumo de água da rede durante o período mais seco do ano, entre os meses de maio e setembro, quando cresce a necessidade de irrigação artificial do gramado. A abertura de um poço artesiano também é cogitada para suprir a demanda.

Se a estiagem perdurar e seus reservatórios se esgotarem, as modernas arenas paulistanas também devem ter que recorrer à água da rede para irrigação do gramado e as demais necessidades de limpeza.

A Sabesp informa que seus clientes deixaram de consumir mais de 100 bilhões de litros d'água, desde fevereiro de 2014. O volume é equivalente a cerca de 10% da capacidade total do sistema Cantareira, maior conjunto de reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo.

Foto: UOL

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