Combativo, ele denunciou a morte de Vladimir Herzog pela ditadura. Foto: Bruno Poletti/Folhapress

Combativo, ele denunciou a morte de Vladimir Herzog pela ditadura. Foto: Bruno Poletti/Folhapress

Morreu nesta quarta-feira (30), em São Paulo, aos 88 anos de idade, o jornalista Audálio Dantas, um dos maiores nomes da imprensa brasileira, premiado pela ONU (Organização das Nações Unidas) com o Prêmio dos Direitos Humanos por sua luta contra a ditadura militar no Brasil, sobretudo no episódio em que denunciou a morte do jornalista Vladimir Herzog em 1975 nos porões do DOI-CODI, orgão subordinado ao Exército, responsável por torturas e mortes.

Audálio lutava contra um câncer no intestino desde 2015. A doença atingiu também o fígado e os pulmões, e ele estava internado no Hospital Premiê, na capital paulista.

Alagoano do município de Tanque D´Arca, Audálio Dantas começou no jornalismo na "Folha da Manhã", do Grupo Folha, e passou pelas revistas "O Cruzeiro", "Veja" e "Realidade".

Em 1978 foi eleito deputado federal por São Paulo, pelo único partido de oposição legal da época, o MDB. Foi considerado o melhor deputado do período em que esteve na Câmara Federal.

Foi presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo e escreveu os seguintes livros: Graciliano Ramos (2005); O Menino Lula (2009); A Infância de Ziraldo (2012); As Duas guerras de Vlado Herzog (2012) e O Tempo de Reportagem (2012).

Audálio Dantas era casado com Vanira Kunc, com quem teve quatro filhos. O casal tinha quatro filhos e netos.

Abaixo a Nota de Falecimento enviada pelo jornalista Sérgio Gomes do Oboré

O jornalista Audálio Dantas, 88 anos, faleceu na tarde desta quarta-feira (30/05) no Hospital Premier, em São Paulo, onde estava internado desde abril deste ano, vítima de complicações devido a um câncer de intestino.

Dantas completaria 89 anos no próximo dia 08 de julho. Deixa esposa e quatro filhos.

O velório será realizado amanhã, 31/05, das 12h às 20h, no Espaço Vladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, situado na Rua Rego Freitas, 530 - sobreloja.

O maestro Martinho Lutero junto com o Coro Luther King apresentará um concerto de despedida às 19:30. Em seguida o corpo seguirá para o crematório da Vila Alpina, onde ocorrerá a cerimônia de despedida às 11h de sexta-feira, 01/06.

Nascido em Tanque D ’arca, em 8 de julho de 1929, Audálio Ferreira Dantas veio para São Paulo ainda menino – uma primeira vez com os pais, aos cinco anos, e depois aos 12, para encontrar-se com a mãe.

Autodidata, Audálio Dantas foi jornalista de profissão. Sua história como repórter começou quando ele trabalhava em um laboratório de fotografia na Folha da Manhã (atual Folha de S. Paulo), revelando fotos do italiano Luigi Mamprin, em 1954. Aos poucos ele começou a acompanhar repórteres nas ruas fazendo as legendas das próprias fotos e, posteriormente, escrevendo reportagens sobre temas do cotidiano.

Certa vez, em 1956, foi escalado para viajar até Paulo Afonso, na Bahia, onde deveria escrever sobre a inauguração da nova hidrelétrica do São Francisco. Voltou de lá não apenas com a reportagem sobre o impacto econômico da nova construção como também com quase dez outros textos e fotos sobre assuntos apurados no local.

Seu espírito compartilhador se revela em suas produções jornalísticas. Foi com a ajuda do repórter que a escritora e poetisa Carolina Maria de Jesus tornou-se conhecida. Audálio organizou os escritos da moradora da favela do Canindé, em São Paulo. Essa reportagem é a que ele considerava a mais importante de sua vida.

Audálio passou por quase todos os principais veículos de jornalismo de sua época, como O Cruzeiro, revista Quatro Rodas e VejaSP. Também produziu uma série de reportagens sobre Canudos (BA), que estava fadada a desaparecer com a represa do rio Vaza-Barris.

Em 1975, quando exercia o cargo de presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), foi peça chave na denúncia do assassinato brutal de Vladimir Herzog, seu colega de profissão. O ato ecumênico ocorrido na catedral da Sé em 31 de outubro de 1975 foi fundamental no caminho de redemocratização do país.

Ele também foi presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o primeiro eleito por voto direto.

Além do jornalismo, Dantas foi escritor e leitor ávido de grandes nomes da literatura brasileira, como Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e Graciliano Ramos.

Foi também deputado federal em 1978, considerado um dos mais influentes do país. Recebeu o prêmio de Defesa dos Direitos Humanos da ONU e, em 2013, foi presidente da Comissão Nacional da Memória, Justiça e Verdade dos Jornalistas Brasileiros.

Em 2008, recebeu o título de Cidadão Paulistano pela Câmara Municipal de São Paulo. Foi agraciado com o prêmio Intelectual do Ano (Troféu Juca Pato) em 2013 e vencedor do Prêmio Jabuti de 2016. No ano passado foi homenageado com o Prêmio Averroes - Pioneiro e Compartilhador, dedicado a valorizar a trajetória e pioneirismto de grandes personalidades brasileiras.

CLIQUE AQUI E VEJA A PÁGINA DE AUDÁLIO DANTAS NA SEÇÃO "QUE FIM LEVOU?".

Últimas do seu time