"Sou mineiro, né? Então sou muito viciado em doce, pão de queijo e refrigerante"

"Sou mineiro, né? Então sou muito viciado em doce, pão de queijo e refrigerante"

José Edgar de Matos

Do UOL, em São Paulo

Até em casa, Moisés age com o pensamento direcionado para a disputa do Campeonato Brasileiro. Um dos destaques da competição nacional, o meio-campista titular do líder Palmeiras abdica até de duas paixões para encarar a reta final da Série A da melhor forma possível.

Mineiro de Belo Horizonte, o jogador de 28 anos conversou com o UOL Esporte sobre o atual momento na equipe palestrina, a ótima fase vivida no Brasileiro e a superação dos problemas físicos.

Pelo título de campeão ao final do ano, vale até esquecer os doces e o pão de queijo tão tradicional na capital mineira.

"Sou mineiro, né? Então sou muito viciado em doce, pão de queijo e refrigerante. Álcool não tenho problema, nunca gostei, então não precisei cortar. Refrigerante e doce abdiquei para estar na melhor forma possível", contou à reportagem.

Confira na íntegra a conversa com o meio-campista Moisés:

UOL Esporte: Impossível frear a empolgação do torcedor. Como lidar com essa pressão pelo título?
Moisés: A pressão, só de vestir a camisa do Palmeiras, já vem. Uma pressão por títulos, para jogar bem em grandes jogos, por se tratar da grandeza do clube; você ainda pega o histórico de há tempos de não ganhar o Brasileiro e vê o torcedor ficar louco. Faz parte da ansiedade do torcedor viver esta expectativa, nós sentimos também. Não dá para falar que não estamos ansiosos, mas sabemos controlar, sabemos que isso pode atrapalhar. Isso motiva ainda mais a correr atrás para que no final do ano a gente possa entrar na história.

Questão psicológica surge como mais importante neste momento?

Tão importante quanto. Todo o conjunto é importante. Você tem que estar bem preparado tecnicamente, taticamente, fisicamente e mentalmente. Isso faz muita diferença. Se você conseguir unir esse conjunto de coisas, estando no seu melhor. A tendência é que você consiga executar um grande trabalho. O Palmeiras tem trabalhado em todas as áreas; tenho certeza que seguindo nesta batida iremos continuar.

Você está ansioso com esta possibilidade de título?

Não tem como dizer que não. Faz parte do nosso dia a dia, seria um título tão marcante depois de tanto tempo. Não tenho como dizer que não faz parte, estou fazendo até uma dieta particular para ficar o melhor fisicamente possível para essa reta final. Vale todo o sacrifício nestes últimos dois meses e meio para que no final a gente seja coroado.

O que tirou do cardápio?

Sou mineiro, né? Então sou muito viciado em doce, pão de queijo e refrigerante. Álcool não tenho problema, nunca gostei, então não precisei cortar. Refrigerante e doce abdiquei para estar na melhor forma possível.

Palmeiras está próximo de atingir a cara de time campeão?

Vejo desta forma. Palmeiras tem amadurecido muito dentro da competição, há de se ver os tabus que foram quebrados. Muitos jogos que não ganhávamos e ganhamos de um adversário que há muito tempo não perdia no seu estádio [Corinthians]. Isso mostra a grandeza e como esse Palmeiras tem amadurecido para ser forte na briga para o título. Se vai acontecer ou não? Não podemos confirmar. Só posso garantir que vamos brigar até o final, porque também temos um grupo muito humilde, pés no chão. Sabemos que tem que trabalhar duro no dia a dia para ser campeão.

O que tem de diferente esse elenco?

Além de ser um plantel recheado de grandes jogadores - isso é importante para este momento, quando jogadores se machucam -, o mais importante é o respeito e a amizade que tem no grupo. Quantos jogadores renomados e de qualidade, que vem fazendo bons jogos e estão tendo poucas chances. Este respeito deles com os outros é legal e fortalece o time.

A quem você atribui essa boa fase?

Primeiramente, a Deus. Sem ele nada disso estaria acontecendo. Depois é uma sequência de fatores: família que dá o suporte extracampo, a amizade entre os jogadores que permite a você se soltar em campo e à diretoria e comissão técnica, que passam muita confiança; jogador com confiança é outro. Estes são os motivos para o meu crescimento e desempenho no Palmeiras. Tem outra coisa também, o fato de o time estar encaixado, quando chega em um time assim, como agora o Palmeiras, as coisas ficam mais fáceis, as peças individuais começam a aparecer.

Você também ficou surpreso pelo entrosamento meteórico com o Tchê Tchê?

Surpreende pela forma como foi, estava há dois meses e meio parado e o Tchê Tchê tinha acabado de chegar do Audax. Logo que a gente começou a jogar junto, deu liga muito rápido por se tratar de um jogador de qualidade, técnico; a gente se completou bastante. O mais gostoso de a gente jogar bem, se entrosando cada vez mais, é que as vitórias estão chegando. Também nos aproximamos cada vez mais fora do campo, e a tendência é melhorar até o final.

Você anotou três gols no Brasileiro, Contra o Corinthians, saiu o primeiro em clássico. Dá para afirmar que foi mais gostoso o gol em Itaquera?

Gol por si só...se você marcar um gol em uma pelada, já é gostoso. Em uma partida profissional, nem se fala. Na casa do adversário então! Faltou a nossa torcida, para eu poder comemorar com eles, mas sem dúvida é um momento especial. Já vinha me cobrando por não fazer gols há alguns jogos, mesmo tendo oportunidades, um meio-campista hoje é importante ajudar e fazer gols para que possa não ficar sobrecarregado os atacantes. Nosso time tem essa virtude, com zagueiros e laterais fazendo gols também.

O que a ida para a Croácia ajudou no seu desenvolvimento?

Sempre fui um jogador participativo e dinâmico, desde que comecei a jogar profissionalmente. Questão de leitura dentro de campo, sem dúvida aprendi bastante na Europa. O quanto importante é um jogador saber fazer leitura tática em um jogo o quanto ele pode ajudar. Esta foi uma das coisas que mais cresci nos dois anos de Europa, e é neste ponto que o Brasil fica um pouco atrás. Qualidade aparece toda hora aqui, precisamos entender um pouco mais o quanto a condição tática é importante.

Quais foram as maiores dificuldades na Croácia?

Minha adaptação foi muito rápida. Logo que cheguei ao clube, fomos campeões. Nos primeiros seis meses fomos campeões em cima do principal time da Croácia, o Dínamo. Quando você chega ao lugar e está jogando, e conquista, a adaptação facilita. Sem dúvida o frio no começo, 0ºC a 1]C, abaixo de 0ºC...essa foi uma situação que tive que superar. Em alguns treinos não sentia os pés ao bater na bola. Questão de alimentação era muito parecido com a Itália, que está ali próximo, então comi muita massa e peixe, coisas que gosto. Tive intérprete por algum tempo, aí procurei aprender a língua depois.

Teve ligação do Alexandre Mattos para convencê-lo a defender o Palmeiras?

Alexandre Mattos me ligou. Mais ou menos em novembro [2015], ele me ligou e logo assim ele me abordou: está preparado para ser campeão pelo Palmeiras?. Eu disse: não só estou preparado como quero muito. Logo que surgiu a oportunidade veio na cabeça a previsão de momentos felizes aqui. Era um objetivo, um sonho, jogar em um clube desta grandeza no meu país. Aceitei logo de cara, Palmeiras não teve nenhum problema. Tivemos uma parte burocrática. O Mattos foi muito feliz quando me abordou, e espero que isso se concretize agora no final do ano.

Não dificultaram a sua liberação?

Teve uma certa dificuldade, até porque estava muito bem no clube, bem adaptado, tinha sido capitão em alguns jogos. A torcida gostava muito de mim e eu estava adaptado na cidade. Respeitaram minha decisão e meu sonho de voltar ao Brasil, fiquei muito feliz e grato a eles.

Você chega ao Palmeiras e logo na estreia fratura o pé...

Foi um dos momentos mais difíceis para a minha carreira. Cheguei e estava muito bem, fui muito bem na pré-temporada e estava bem fisicamente, confiante. Não pude estrear no começo do Paulista por causa da documentação, aí na quarta rodada teria a oportunidade de estrear no Allianz., e aí tenho a lesão logo no primeiro tempo. Bateu uma tristeza, foi muito difícil para mim, especialmente a primeira semana, não queria aceitar aquilo, não entendemos o porquê de tudo isso. [...] É um aprendizado e uma experiência que me dão forças para as dificuldades que teremos pela frente. É uma superação, consegui sair dela. Espero me superar dentro de campo como me superei nesta lesão.

Até em casa você faz tratamento, não?

É um momento difícil. Uma transição completa. Fiquei dois anos na Croácia, e a rotina é totalmente diferente. Aí vim, tive uma lesão no pé grave. Depois uma lesão muscular, a primeira da carreira, e depois logo em seguida tive uma entorse muito forte. Brinco com o Jomar [Otoni, fisioterapeuta]: nunca passei por isso. Ele me acalma, e partir disso tem que começar a ter cuidados a mais, se tratar. Dia de um período aqui, eu venho dois para fazer fisioterapia. À noite, em casa, às vezes faço um gelo; este momento pede isso. (...) Nos intervalos você tem que fazer um esforço extra.

Pensa em passar por um novo processo cirúrgico para retirar os pinos no fim do ano?

Há essa possibilidade, porque está começando a me incomodar. Com essa dor, vou até o final do Campeonato Brasileiro, não vai me tirar. Se precisar tomar alguma coisa, vou tomando. Coloquei quatro botões na cirurgia, ela foi perfeita e vi isso com novos exames. Esses pinos podem pegar algum tendão, que pode começar a radiar e dar alguma dor. Quando o ano acabar, se Deus quiser com a gente campeão, vamos sentar para ver se a dor parou, se evoluiu, para ver o que será feito.

Qual foi a importância do Cuca para a sua evolução e do elenco?

Muito grande o papel dele, até por conseguir controlar um grupo deste tamanho. Conseguir que todos entendam que terão a oportunidade na hora certa, que ele colocará quem achar melhor para o momento. Ele gosta de jogar com um time intenso, que vive o jogo, e nos dá liberdade dentro de campo de fazer trocas de posições, temos uma liberdade grande que é treinada. Isso nos ajuda e dá confiança para exercer da melhor forma.

E sobre você? E a sua evolução nas mãos dele?

Acrescentou a forma ofensiva que ele gosta, um treinador que gosta que o time ataque. Ele já falou várias vezes que prefere vencer por 4 a 3 do que por 1 a 0. Isso uniu a forma que jogava na Europa, de intensidade de jogo, com o que ele gosta.

Foi o Cuca que te incentivou a usar o lateral longo como uma arma no jogo?

Isso é mérito total dele. Em um jogo contra o São Paulo, estávamos perdendo, no desespero peguei a bola e bati o lateral para a área; nada pensado. Na semana seguinte ele me chamou e disse: você acha que tem essa capacidade de cobrar para a área?. Eu disse: acho que consigo. Aí começamos a treinar, posicionar o time. É uma força a mais que podemos ter em campo para fazer uma jogada. (...) Mais uma descoberta dele, que ele implantou. Tem dado certo.

Essa história de cheirinho de hepta, folclore criado por torcedores do Flamengo, incomoda?

Não incomoda porque faz parte para o torcedor e para a imprensa, você vende notícia. Faz parte da profissão dos jornalistas e dos torcedores. Tenho certeza que o Flamengo também não se preocupa com isso, nós também não. Pensamos apenas no próximo adversário, não vamos enfrentar mais o Flamengo. É manter o foco em cada jogo, porque seremos campeões se fizermos o nosso papel; dependemos de ninguém.

Para encerrarmos: quem você observa e admira na sua posição de meio-campista?

Tem um atleta hoje que gosto de ver jogar e admiro bastante, tento aprender bastante, é o Iniesta. A forma como ele conduz o Barcelona. Muito se fala do trio, mas tudo começa com ele, as jogadas. Demonstra que um jogador com qualidade técnica pode marcar e ajudar na parte decisiva. Eu admiro bastante e gosto de estar sempre aprendendo com ele.

Foto: UOL

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