O cineasta Luiz Ferraz, diretor do documentário "Miller & Fried: As Origens do País do Futebol", falou com exclusividade ao Portal Terceiro Tempo sobre a obra que entra em cartaz a partir do dia 28 de julho.
Com duração de 70 minutos, o documentário traz às telas dois personagens importantíssimos para o futebol brasileiro: Charles Miller, responsável por implantar e divulgar o futebol no País, a partir de sua chegada da Inglaterra, e Arthur Friedenreich, primeiro grande craque brasileiro, jogador que para o cineasta foi essencial para fazer o futebol "estourar" no Brasil.
Ferraz partiu das biografias de Charles Miller, escrita por John Mills, e de Friedenreich, de autoria do jornalista Luiz Carlos Duarte, este um daqueles que participa da película, ao lado dos também jornalistas Celso Unzelte, Paulo Vinícius Coelho e Marcelo Duarte, além do neto de Charles Miller, Carlos Miller Neto.
Um dos destaques do filme veio de longe. Um material que foi telecinado, da França, com imagens daquele que foi o primeiro jogo de futebol de um time brasileiro na Europa, o Club Athletico Paulistano, que enfrentou a seleção francesa e venceu por 7 a 2, com três gols de Friedenreich.
Além das imagens raríssimas da partida de futebol disputada pelo Paulistano em 15 de março de 1925 no Estádio Buffalo, em Paris, o documentário também é ilustrado com fotos que Ferraz conseguiu junto a diversos clubes, entre eles o próprio Paulistano e o Pinheiros, ambos com um vasto e bem cuidado acervo.
"Miller & Fried: As Origens do País do Futebol", é uma coprodução entre a Olé Produções, produtora de Luiz Ferraz, a Globo Filmes e a GloboNews. O documentário foi selecionado para o 7º Cinefoot - Festival de Cinema de Futebol.
Duas salas exibirão o filme a partir do dia 28 de julho: o Caixa Belas Artes, em São Paulo, e o Cine Odeon, no Rio de Janeiro.
IDEIA PARA O FILME
Luis Ferraz: Todo processo de filme é bem longo, tem gente que fala que dura dez anos fazendo um filme, mas nesse caso o filme começou quando eu li a biografia do Charles Miller, em 2009. Fiquei curioso demais, sempre fui apaixonado por futebol, li essa biografia publicada pelo John Mills, biógrafo do Charles Miller, que foi feita baseada na memória do SPAC (São Paulo Athletic Club) e eu achei muito interessante. E, como sou cineasta, faço documentários há muito tempo, fui procurar material sobre o Charles Miller, visual, em filme, programa de tevê e não achei absolutamente nada. Lógico, uma coisa ou outra, mas o próprio John, perguntei a ele se havia alguém procurado por ele, que disse que um canal de Barcelona o procurou uma vez mas acabou não fazendo nada. Aí eu comecei a formatar um filme, já havia lido a biografia e comecei a ir atrás de outras informações que não fossem oficiais. Encontrei muitas coisas nos clubes antigos, que estão no filme, alguns que ainda existem, e comecei a encontrar histórias de outros jogadores. Começamos as gravações no final de 2015 e concluímos agora, em julho de 2016.
"ENTRADA" DE FRIEDENREICH NA HISTÓRIA
Luis Ferraz: Eu havia elaborado um projeto apenas para o Charles Miller, mas eu não estava satisfeito, porque a história dele é muito importante, mas ela se confunde um pouco com o social dele. Óbvio que ele foi fundamental, mas como dizem o Mills e o Luiz Carlos Duarte (biógrafo de Friedenreich), o Charles Miller trouxe o futebol para o Brasil e abriu as portas para a molecada que morava no Brasil ver o futebol. Ele jogou, mostrou como jogava, como se fazia gol, mobilizava um campeonato, mas em cinco anos ele praticamente saiu de cena, começou a apitar jogos, organizar outros esportes, sem vaidade, porque quando `sacaram´que o futebol começou a dar dinheiro mudou tudo... Mas para o futebol `estourar´, se tornar uma paixão, mobilizar várias camadas da sociedade, quem isso, o expoente disso foi o Friedenreich, e a partir disso eu fui atrás da história dele.
VERDADES E LENDAS SOBRE FRIEDENREICH
Luis Ferraz: Descobri que há várias lendas, a história dele é cinematográfica. Como dizer que ele fez mais gols que o Pelé, isso é uma lenda. Um jornalista já comprovou que não é, publicou um livro sobre isso, mas como ele não teve herdeiros, ele teve um filho, com problemas mentais. Alguns primos distantes estão em Blumenau, então eu conheci o Duarte através da biografia (Friedenreich - A Saga de um Craque nos Primeiros Tempos do Futebol Brasileiro). E, para você construir uma narrativa de um filme, de 70 minutos, você tem que ter alguns recursos, algumas tramas, e o Duarte coloca uma coisa super simples lá, que foi a virada do filme, o encontro do Charles Miller e do Friedenreich em um único jogo, que era um jogo simples do Campeonato Paulista, mas que simbolicamente é a passagem de época, porque o Charles Miller já havia parado de jogar e o Friedenreich estava começando a despontar. E o Friedenreich humilhou o Charles Miller, acabou com ele, e naquele jeito de ser do homem no início do século XX, o cara (Miller) reverenciou o Friedenreich, tirou o chapéu literalmente, foi brindar com ele com uma taça de champagne no final da partida. Então, para mim, como cineasta, com a forma de pensar em um filme, nada mais perfeito do que essa `passagem de bastão´.
PESQUISA SOBRE CHARLES MILLER
Luis Ferraz: Foi bem interessante, porque a pesquisa é a alma do documentário, no caso de um filme como esse, que é histórico, então a gente teve algumas linhas de pesquisa, digamos assim. A primeira delas, a base do filme, que é a das biografias. A partir disso fui ao encontro da família do Charles Miller, que é imensa, e o filme abre com o neto dele (Carlos Miller Neto), que conta quem era o avô dele, porque ele veio para o Brasil, e todas as lendas sobre esta vinda, que eu acho importante falar do pioneiro, mas também é preciso desmistificar, porque naquela época as pessoas eram simples, hoje vivemos em um mundo em que todos querem aparecer, tirar selfie, mas o Charles Miller morava na Inglaterra e quando chegou aqui ele queria jogar futebol e não tinha ninguém para jogar. Então, ele teve que ensinar para os caras, ele foi quase obrigado a fazer esse exercício, trazendo uma bola e um livro de regras. Ele nem sabia se iria ser o pioneiro, ele queria jogar bola. No Clube dos Ingleses, que ele frequentava, ninguém jogava futebol e ele começou aos poucos, a apresentar o esporte, até o famoso primeiro jogo, que ele descreveu somente 50 anos depois, para o historiador Thomas Mazzoni.
PESQUISA SOBRE FRIEDENREICH
Luis Ferraz: O Duarte (biógrafo) passou para a gente o problema, que os parentes são muito distantes, primos que nem sabem quem foi o Friedenreich, por isso nós nem acabamos entrando nessa conversa com eles, então eu acabei me baseando em informações do livro e do Clube Paulistano e do Clube Pinheiros. Aí entra um outro aspecto interessante, que é a pesquisa de imagens, que foi uma dificuldade, porque na virada do século XX não existia cinema, não existia filme e as fotos eram produzidas mesmo, com todos muito bem alinhados, bigodes, era uma produção, cenário e para os times de futebol também eram assim, fazem parte do nosso imaginário. O Museu do Futebol nos apoiou muito no projeto, gravamos lá, entrevistas. A base do futebol brasileiro, o pessoal tem muito cuidado, são fantásticos, foram diversos colaboradores.
FOTOS DA ÉPOCA
Luis Ferraz: Para você ter uma ideia, o Charles Miller deve ter 15 fotos, é muito pouco, e para você fazer um filme você precisa ter muito mais, mas os clubes nos ajudaram demais. Tudo do Friedenreich está no Paulistano, o Pinheiros é mega organizado, são muito respeitosos com a história do próprio clube, com um banco de dados impressionante, um dos melhores que a gente encontrou. Além disso, como tivemos que ir atrás de imagens da cidade, fomos ao MIS (Museu da Imagem e do Som), ao Museu Paulista, o acervo do Instituto Moreira Sales, principalmente na questão da urbanização. Infelizmente tivemos uma coisa muito ruim, infelizmente, que foi a Cinemateca Brasileira, que passa por uma crise institucional há um tempão. Nós encontramos na pesquisa, a partir de um livro do jornalista Luis Zanin, sobre a cinematografia do futebol brasileiro, fantástico, livro que recomendo. E, lá, o Zanin mapeou todos os filmes que já foram feitos com o tema futebol, e ele encontrou os primórdios do futebol, incluindo filmetes de mais ou menos 1910, muito peculiar, que estão registrados no acervo da Cinemateca mas nós não tivemos acesso, foi uma conversa longa mas eles não tinham capacidade técnica para me ajudar, são filmes em nitrato de prata, que entram em combustão espontânea, aliás em janeiro pegou fogo na Cinemateca. eu nem soube se esse material foi perdido, eu fiquei deprimido, são filmes raríssimos que estão lá.
PÉROLA NA FRANÇA
Luis Ferraz: Achamos um filme raríssimo na França. Nós telecinamos esse material, um processo caríssimo mas que valeu a pena, que foi o primeiro jogo de um time brasileiro na Europa, foi o Paulistano, que ganhou de 7 a 2 da Seleção da França, e o Friedenreich fez três gols, e esse material está no filme, com uma qualidade que não tem aqui. Isso é raro.
PROJETOS FUTUROS
Luis Ferraz: A ansiedade é grande, o desapego com o fim do filme é uma angústia sem fim. E agora, no processo do lançamento,, não tenho filhos, mas é como soltar o filho no mundo, você vê meio de longe, vê o que as pessoas acham, as críticas, mas é normal. Temos uma produtora, a Olé Produções, eu dirijo documentários para tevê, alguns canais importantes, documentários, entretenimento e no momento estou desenvolvendo dois projetos, sobre um arquiteto, o Paulo Mendes da Rocha, que vamos filmar dentro de algumas semanas. O outro é uma série sobre a recente imigração para o Brasil, estamos na fase de captação de recursos, esperamos até o final do ano que aprovemos com um canal, alguns estão interessados, a imigração no Brasil no século XXI, o pessoal do Haiti, da Síria, no sul do Brasil que tem africanos do Congo e do Togo.
ABAIXO TRAILER DE "MILLER & FRIED, AS ORIGENS DO PAÍS DO FUTEBOL" - OLÉ PRODUÇÕES
SERVIÇO:
"Miller & Fried: As Origens do País do Futebol"
Estreia: 28 de julho (Caixa Belas Artes-SP e Cine Odeon-RJ)
Ficha técnica:
Direção: Luiz Ferraz
Produção executiva: Gal Buitoni
Produção: Olé Produções
Roteiro: Guilherme Aguilar
Coordenação de pesquisa: Camila Camargo
Pesquisa: Luiz Gustavo Soares e Eduardo Biaia
Montagem: Jaime Queiroz
Direção de Fotografia: Alexandre Samori
Som Direto: Jorge Rezende
Direção de Arte: Ricardo Fernandes
Colorista: Rogério Moraes
Pós-Produção: Quanta Post
Trilhas Sonoras Originais: Gustavo Garbato e Guilherme Garbato
Edição e Mixagem de Som: Casa da Sogra Soluções Sonoras
CLIQUE AQUI E VEJA A PÁGINA DE CHARLES MILLER NA SEÇÃO "QUE FIM LEVOU?"
CLIQUE AQUI E VEJA A PÁGINA DE ARTHUR FRIEDENREICH NA SEÇÃO "QUE FIM LEVOU?"
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