Santos havia acertado, antes do tsunami que causou a queda da Portuguesa, com o volante Dedé, do Santa Cruz, e o meia Glaydson, do CSA

Santos havia acertado, antes do tsunami que causou a queda da Portuguesa, com o volante Dedé, do Santa Cruz, e o meia Glaydson, do CSA

Luis Augusto Símon

Do UOL, em São Paulo

Armelin Ruas Figueiredo tem o pior emprego do mundo. Nada a ver com sua empresa no ramo de transportes, e sim com sua outra área de atuação. Aos 65 anos, ele aceitou o convite do presidente Ilídio Lico e assumiu a diretoria de futebol da Portuguesa. "Não sei se é o pior do mundo, mas que é o mais pobrezinho, não tenha dúvida", diz Ruas.

O quadro é terrível. Desde o final do ano, a Lusa perdeu nove titulares: Lauro, Luis Ricardo, Moisés Moura, Rogério, Willian Arão, Bruno Henrique, Souza, Diogo e Gilberto. Só ficaram Valdomiro e Moisés, que está de saída. Ferdinando, Bergson e Lima, "quase titulares", também se foram. Os dois primeiros por iniciativa do clube, que não tinha como pagar os salários combinados.

A diáspora continua com Lucas Silva, Michel, Bruno Moraes, Magal e Muralha. O lateral Ivan, revelado pelo clube, está indo para o Coritiba. O volante Bruninho, também da base, tem contrato até abril e nem aceita falar em renovação. "Para mim, ele já tem pré contrato com algum outro time", diz Ruas.

O clube deve dois meses de salário a quem saiu e um mês a quem ficou. Não existe patrocinador. Não existem parceiros, nem fundos de investimento, nada que pulula nos outros clubes. O dinheiro é curto, o que permite uma folha salarial máxima abaixo de R$ 500 mil, inferior ao que ganha um jogador top no futebol profissional brasileiro.

Ruas, diante de tantos problemas, colocou os pés no chão. Afastou a possibilidade de contar com mecenas, geralmente do ramo de padarias, que colocavam jogadores no clube, responsabilizando-se até pelo pagamento de salários. "Não tem mais isso. Não vejo dinheiro, não coloco a mão em dinheiro. Apenas contratamos jogadores que podemos pagar. Não dá para sonhar, fazer loucuras e ficar devendo e passando vergonha. Agora, gastamos o que temos. Nada mais", diz o diretor.

Para montar o elenco, ele buscou parcerias com outros clubes. O Corinthians cedeu André Vinícius, Gomes e Giovanni, a custo zero. Eles não foram a primeira opção. Os primeiros nomes eram o lateral Igor e o volante William Arão, que já estava no Canindé. "O pai do Wiliam mandou que ele fosse para a Chapecoense e o Igor preferiu o Sport, porque eles já estão na Série A", diz Roberto Santos, ex-diretor de futebol e agora responsável pelas finanças do clube.

Santos havia acertado, antes do tsunami que causou a queda da Portuguesa, com o volante Dedé, do Santa Cruz, e o meia Glaydson, do CSA. "Liguei e desisti da negociação. Não podia pagar o que estava combinado".

Ruas também negociou com o Palmeiras, que ajudará a pagar salários de alguns jogadores. Da Ponte, veio o lateral direito Regis, do XV de Piracicaba, o volante Diego Silva, do Icasa, o centroavante Leandro Banana, e do Figueirense, o experiente meia Willian Magrão. "Além deles, vamos ter jogadores da base, pelo menos seis. Queremos um time jovem, impetuoso e barato. O foco é apenas no Paulista. Depois, vamos procurar reforços", conta.

Até lá, pode ser que o marketing do clube tenha conseguido um patrocinador. "Estamos lutando muito, como sempre, mas esse ano há dois complicadores maiores: o Paulista começa mais cedo e o tempo de negociação diminuiu, e o Brasileiro vai ser sufocado pela Copa do Mundo. E existe ainda essa incerteza se estaremos na A ou na B", diz Fábio Porto, diretor de marketing do clube.

E, quando as coisas vão mal, tudo piora. Porto negociou um contrato pontual para a estreia, no próximo domingo contra o Corinthians, mas o jogo só será transmitido pela TV aberta para Bragança Paulista, onde se enfrentam Bragantino e São Paulo. "Essa possibilidade do patrocínio por um jogo só, acabou aí", conta Porto.

Foto: UOL

Últimas do seu time