Revelado pelo São Paulo, Kaká deixou o Morumbi em 2003, um ano depois de ter sido pentacampeão mundial com a seleção brasileira

Revelado pelo São Paulo, Kaká deixou o Morumbi em 2003, um ano depois de ter sido pentacampeão mundial com a seleção brasileira

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

A iminente reestreia de Kaká, que será titular do São Paulo no próximo domingo, contra o Goiás, já está cercada por enorme expectativa. Não apenas dos torcedores, que querem ver de volta ao clube o último brasileiro eleito melhor do mundo pela Fifa (em 2007), mas de todos na equipe do Morumbi. Emprestado pelo Orlando City até o fim do ano, o novo dono da camisa 8 tricolor precisou de menos de 20 dias para se transformar em alicerce do time em pelo menos quatro aspectos.

Nesta sexta-feira (25), em entrevista coletiva, o técnico Muricy Ramalho mostrou um pouco disso. Normalmente comedido ao falar sobre jogadores, o comandante tricolor admitiu que já existe grande expectativa sobre o reforço.

"Acho que essa expectativa é de acordo com o peso do jogador. A gente tem de saber que é uma coisa natural do futebol. O cara ganha bem, e você tem de cobrar de quem pode dar, mesmo. As pessoas têm de estar acostumadas a isso. O que ninguém pode falar é que não gosta de pressão. Se for assim, fica em casa. O Ronaldinho Gaúcho, o Kaká e esses jogadores que são diferentes vão ser sempre mais cobrados, mesmo", admitiu Muricy.

Revelado pelo São Paulo, Kaká deixou o Morumbi em 2003, um ano depois de ter sido pentacampeão mundial com a seleção brasileira. Ele foi apresentado no dia 6 de julho, e no domingo fará a primeira partida da segunda passagem pelo clube.

Em menos de 20 dias, veja em que aspectos o São Paulo já está baseado em Kaká:

1 – Rogério Ceni deixou de ser o único líder

"É um jogador experiente e que pode orientar. A gente percebe nos treinamentos que ele tem uma maneira de tratar os colegas falando bem, e isso é fundamental porque o nosso líder fica longe, lá no gol. É preciso ter alguém em campo para parar e conversar, e ele mostra que tem essa qualidade também", disse Muricy Ramalho nesta sexta-feira.

Essa avaliação de Muricy é nítida nos treinamentos. Kaká é um jogador que fala muito com os companheiros – dentro e fora de campo. A diferença com a personalidade de outros atletas chega a ser gritante.

2 – O São Paulo espera um incremento técnico com Kaká

Kaká foi titular da seleção brasileira até a Copa de 2010. Além disso, é o último jogador nascido no país eleito melhor do mundo pela Fifa (em 2007, quando ainda defendia o Milan). A despeito de ter trocado a equipe italiana pelo Orlando City, time da MLS (liga profissional de futebol dos Estados Unidos) que ele vai defender a partir de 2015, o meia tem sido cercado de grande expectativa por causa da parte técnica.

"A gente se animou quando houve a possibilidade de trazê-lo justamente pelo final de campeonato que ele fez no Milan. Por isso é importante a gente estar sempre assistindo jogos. Ele voltou a jogar num nível bom, técnica e fisicamente, e sabe que precisa estar bem. A gente espera que ele possa fazer diferença", avaliou Muricy Ramalho.

3 – Kaká será a base de uma mudança tática no São Paulo

Nos dois jogos disputados depois da Copa de 2014, o São Paulo usou um 4-2-3-1 com Ademilson (direita), Paulo Henrique Ganso (meio) e Osvaldo (esquerda) na linha de armadores. Isso vai mudar a partir de domingo, e o grande responsável é Kaká.

Escalado como titular para o confronto com o Goiás, no Serra Dourada, o meia começará a partida no lugar de Osvaldo. Depois, a expectativa de Muricy é que os três armadores e o centroavante Alan Kardec troquem de posições e de configuração tática. O 4-2-3-1 pode dar lugar a um modelo com dois armadores e dois atacantes enfiados, por exemplo.

"Quando você joga com dois jogadores abertos de velocidade, como nós fizemos no último jogo [derrota por 1 a 0 para a Chapecoense no Morumbi], fica mais fácil para o adversário marcar. Os laterais não saíram, e nós ficamos sem espaços. Com esse outro jeito, podemos variar e passar por dois jogadores enfiados. Aí você dificulta mais. E como você tem jogadores para fazer isso, pode variar", ponderou Muricy.

O que fortalece a importância de Kaká para a mudança tática do São Paulo é o perfil do meia. Ao contrário de Paulo Henrique Ganso, o camisa 8 tem poder de infiltração e característica de encostar mais nos atacantes.

"A gente insiste que os meias não podem ser apenas jogadores de transição; eles têm de entrar na área. São eles que surpreendem, porque quando aparecem de trás não dá para marcar. É isso que a gente pede, principalmente do Ganso. O Kaká já tem mais essa característica. Se os meias não fizerem infiltrações e não forem para o lado do campo, acabam marcados. O Kaká fez muito bem isso nos treinamentos, e isso confunde o adversário", disse Muricy nesta sexta-feira.

4 – Kaká será a grande atração do São Paulo. E isso pode ser bom para outros jogadores

Por tudo que representa, Kaká será a grande estrela do São Paulo no segundo semestre deste ano – Rogério Ceni tem mais identificação com o clube, evidentemente, mas o meia combina aspectos como história na equipe, potencial técnico, presença ofensiva e até relevância para o mercado (contratos de patrocínio em âmbito global, por exemplo).

Tudo isso justifica a transferência de Kaká para a MLS (liga profissional de futebol dos Estados Unidos). Com o meia, o recém-promovido Orlando City imagina ter contratado uma atração para o campeonato. E o peso do meia também já faz diferença no São Paulo.

Nesta sexta-feira, por exemplo, quase toda a entrevista coletiva de Muricy Ramalho foi sobre o jogador. Houve perguntas sobre escalação, posicionamento, situação física e comportamento do meia, por exemplo.

A aposta do São Paulo em Kaká será ainda maior porque o clube não tem garantia de patrocínio máster para o segundo semestre. A Semp Toshiba, que ocupa o espaço atualmente, deixaria a equipe depois da Copa, mas segue na camisa por tempo indefinido.

E o tamanho de Kaká pode influenciar diretamente na vida de outros jogadores do São Paulo. Na última quinta-feira, Ganso já disse que espera ter mais espaço (em campo) porque o camisa 8 vai atrair muita atenção. Mas também haverá um efeito claro fora das quatro linhas: com os holofotes voltados ao meia, nomes menos badalados terão mais tempo para se afirmar. É o caso de Ademilson, que vem sendo titular no lado direito da linha de armadores.

FOTO: UOL

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