Malcom, atacante do Corinthians, é um dos jovens que está jogando pouco em 2014

Malcom, atacante do Corinthians, é um dos jovens que está jogando pouco em 2014

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

O Corinthians começou o ano prometendo cuidado com a base, contratando Alessandro para fazer a "ponte" entre a formação e o time profissional. Sete meses depois, nenhum jovem emplacou na equipe de Mano Menezes, e os dirigentes responsáveis batem cabeça.

A história começa com a escolha de Alessandro, então recém-aposentado, para o cargo de coordenador técnico. "A gente tem uma dificuldade muito grande de fazer uma ligação direta entre o futebol profissional e o amador. Nossa ideia é ter alguém específico que vai ficar sediado no profissional, mas com olhares para o amador, trazendo para o profissional jogadores que se destaquem", disse Roberto de Andrade, diretor do futebol do clube à época, em janeiro.

O Corinthians caminhava, então, para o vice da Copa São Paulo. Daquela equipe, Pedro Henrique, Guilherme Arana, Fabiano, Zé Paulo e Malcom foram alçados para o time principal com a perspectiva de adaptação paulatina e crescimento com o contato com o elenco principal. Sete meses depois, somados, eles têm só 12 jogos sob o comando de Mano Menezes.

"São dois aspectos. Do lado técnico, o fato de estarem treinando no profissional acrescenta muito. No decorrer do processo a gente também está vendo o outro lado. O Gallo me ligou para perguntar do Pedro Henrique. Se ele estivesse jogando poderia ter sido convocado", explica Marcelo Rospide, superintendente-técnico da base do Corinthians.

Pedro Henrique é zagueiro, tem 18 anos e não entrou em campo uma vez sequer pelos profissionais. Muito por isso, não foi lembrado por Alexandre Gallo, coordenador da base da seleção, para a seleção sub-20 que disputa um torneio em Valencia. Gabigol, de 17 anos, é titular do Santos e está sendo observado pelo treinador na Espanha, a título de comparação.

São muitas as razões para que os jovens não tenham espaço no time titular. Mano está reformulando a equipe, a competitividade do elenco é grande e a adaptação para os profissionais é dura. O problema é que, sem ritmo de jogo, os jogadores entram em um círculo vicioso em que não se desenvolvem por falta de desafios e não ganham chances por que ainda não se desenvolveram o suficiente.

A visão de parte da direção do Corinthians é de que base e profissional seguem falando línguas distintas, ainda que Alessandro e Rospide se falem diariamente e troquem informações. O UOL Esporte conversou com ambos e constatou que os lados batem cabeça.

Nessas situações, é comum que o jogador "desça" para os times de base. Em um fim de semana em que não são aproveitados por Mano Menezes, por exemplo, os atletas poderiam jogar pelos times menores para ganharem ritmo de jogo.

Rospide explica que foi definido que os jogadores servem aos profissionais e que só desceriam para a base em casos bem específicos. Questionado, disse que Pedro Henrique, por exemplo, não jogou nenhuma vez pela base no primeiro semestre. Malcom e Guilherme Arana o fizeram em poucas oportunidades, mas no sub-17, em experiência que não foi bem avaliada.

"Quando ele foi jogar com o pessoal sub-17 nós já avaliamos que não foi legal. Nessa idade, você tem sempre de oferecer um degrau maior", disse Rospide. Segundo ele, a tendência é que agora, com competições mais duras na base, esse movimento de atletas se torne mais constante.

"Nesse segundo momento do trabalho sim [jogadores vão descer mais]. Também porque o nível aqui embaixo para eles talvez não fosse o ideal no primeiro semestre. Agora vou colocar os caras na Copa do Brasil", projeta Rospide.

Alessandro vai por outra linha. O coordenador técnico do profissional argumenta que "várias vezes" os jogadores desceram com a autorização de Mano, especialmente no começo da passagem deles pelo profissional. E ele nega que no segundo semestre os atletas vão descer mais.

"Nunca foi determinado que dependendo da competição seria aproveitado mais ou menos. O que foi combinado vai ser mantido", disse Alessandro, que também discorda de Rospide no episódio Arana.

"Todas as vezes que todos os atletas desceram, independentemente do resultado, foi importante. Não acho que tenha sido negativo o Arana ter descido pra jogar. Se for fazer uma análise do jogo, do resultado, a gente está errando. Está colocando em xeque tudo que decidimos", completou o ex-lateral.

As falas que se contradizem revelam um problema maior. Embora tenham melhorado a comunicação (e ambos concordam nisso), Alessandro e Rospide ainda atendem a departamentos diferentes dentro do Corinthians. Na semana passada, por exemplo, o futebol profissional foi avisado pela imprensa de que o clube estava contratando uma jovem promessa do futebol paraguaio, o que explica em parte os problemas nessa relação.

FOTO: UOL

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