Em um 29 de julho 2001, Verdão faria o primeiro jogo no que seria o segundo Mundial da Fifa, mas o torneio foi cancelado por causa da falência de parceira da entidade

Em um 29 de julho 2001, Verdão faria o primeiro jogo no que seria o segundo Mundial da Fifa, mas o torneio foi cancelado por causa da falência de parceira da entidade

Gustavo Mesa
Band.com.br

Madri, domingo, 29 de julho de 2001. Tarde de verão ensolarada na capital espanhola. Uma multidão vestida de verde toma o estádio Vicente Calderón. Em nada essas pessoas têm a ver com os alvirrubros torcedores do Atlético de Madrid, dono da arena. Não só pelas cores, mas o comportamento indica logo de cara que não se trata de um grupo europeu. Aqueles instrumentos, aqueles sinalizadores, aquela empolgação não costumam ser vistos nas arquibancadas do Velho Continente. A festa, que já era bonita, se torna um espetáculo quando um homem careca de camisa colorida e outros 10 trajando fardamentos verdes pisam no gramado. O êxtase coletivo tem explicação: o Palmeiras está prestes a estrear no Mundial de Clubes da Fifa diante do Olimpia, de Honduras.

Mas não duvide de sua memória, caro leitor: a cena descrita acima nunca aconteceu. Embora tivesse datas, equipes e arenas confirmadas, o Mundial de 2001 não foi disputado. Seria a segunda edição da competição que ocorrera pela primeira vez em 2000, no Brasil, e que teve como vencedor o Corinthians. No entanto, a falência da International Sports and Leisure (ISL), empresa detentora dos direitos da competição e que se envolveu em escândalos de corrupção com João Havelange e Ricardo Teixeira, resultou no cancelamento do torneio.

O Palmeiras já tinha até seus adversários definidos – além do Olimpia-HON, o Grupo B também contava com Galatasaray-TUR e Al Hilal-SAU. Havia ainda outras duas chaves: na A estavam Deportivo La Coruña-ESP, Boca Juniors-ARG, Wollongong-NZL e Zamalek-EGI; na C, Real Madrid-ESP, Jubilo Iwata-JAP, Los Angeles Galaxy-EUA e Hearts Of Oak-GAN. Os três líderes e o melhor segundo colocado avançariam à semifinal.

E não era apenas esportivamente que o Verdão se preparava para a competição. Em abril de 2001, o Palmeiras chegou a publicar uma revista sobre o Mundial, com informações sobre o torneio, as equipes classificadas, a programação dia a dia e até mesmo com pacotes de turismo para os torcedores. A viagem individual, por exemplo, custaria de US$ 2,8 mil a US$ 5,6 mil, dependendo do luxo das instalações.

Revolta

O cancelamento do torneio revoltou jogadores, dirigentes e torcedores palmeirenses. Não só pelo fato de o clube ter perdido a chance de disputar o Mundial em 2001, mas por acreditarem que o Verdão deveria ter participado da edição anterior, que acabou vencida justamente pelo seu maior rival.

Embora muitos alviverdes questionem a presença do Corinthians no Mundial de 2000, a vaga que o Palmeiras julgava ser sua é a do Vasco. O Timão, bicampeão brasileiro em 1998 e 99, foi para a competição como representante do país sede, enquanto o Gigante da Colina se classificou como melhor da América do Sul.

A decisão que o Vasco, vencedor da Libertadores de 1998, seria o representante da Conmebol no Mundial foi anunciada no dia anterior à partida entre Palmeiras e Deportivo Cali, que decidiu decisão da competição continental de 1999. De acordo com o técnico Luiz Felipe Scolari, que conduziu o Verdão ao seu único título da Libertadores, houve um acordo para que a equipe carioca disputasse o primeiro Mundial com a garantia de que os paulistas estariam na edição seguinte.

“Era um assunto interno, na época. Eles me disseram que o Palmeiras iria abrir mão porque teria assegurado a participação no Mundial de 2001.  O Vasco ficaria com a nossa vaga porque interessava para a realização do campeonato ter um time do Rio de Janeiro.  A desculpa que convenceu os dirigentes foi que se ganhássemos o  Mundial  do Japão em dezembro de 1999 só teríamos um mês para desfrutá-lo, já que o  Mundial  do Rio seria em janeiro de 2000.  Além do mais, a  Fifa  garantia que estaríamos no de 2001 na Europa.  Fui contrário desde o início.  Não se abre mão de um direito adquirido em nome de nada.  Mas fui voto vencido.  E sou homem que respeita a hierarquia.  Quem manda no clube já havia aceito”, afirmou o treinador ao Jornal da Tarde em 25 de maio de 2001, quando já não era mais técnico do Palmeiras.

A versão é contestada por Mustafá Contursi, que presidiu o Palmeiras entre 1993 e 2005. Segundo o cartola, não houve acordo e a presença do Vasco foi uma determinação da Conmebol.

"Isso foi uma campanha dos nossos opositores na época. Nunca aconteceu isso. Havia um torneio experimental no Brasil de um possível campeonato mundial, que teria a mesma fórmula da disputa da Copa Rio em 1951, onde o Palmeiras definitivamente, e com justiça, foi reconhecido como primeiro campeão mundial de clubes. Era o mesmo formato, com uma sede em São Paulo e outra no Rio de Janeiro. Coincidentemente, até antes de o Palmeiras se tornar campeão da Libertadores, houve uma decisão estratégica. Como o Vasco tinha um título e o Corinthians tinha outro, e as sedes eram no Rio e em São Paulo, escolheram um representante de cada estado. Não teve nada a ver com acordo. O que teve foi que, com essa circunstância, e não havendo nenhuma garantia de torneio futuro, nós fizemos um trabalho junto à Conmebol e à Fifa para que no campeonato seguinte, os dois campeões da Libertadores (Palmeiras e o outro seria o Boca Juniors) jogassem o Mundial", diz Mustafá. (clique aqui e leia a entrevista do ex-presidente do Palmeiras na íntegra)

Confira abaixo as chaves da competição e, entre parênteses, a razão pela qual as equipes se classificaram para o Mundial de 2001:

Grupo A
Boca Juniors-ARG (Vencedor da Libertadores 2000)
Deportivo La Coruña-ESP (Vencedor do Campeonato Espanhol 1999/2000)
Wollongong-NZL (Vencedor da Liga dos Campeões da OFC 2000)
Zamalek-EGI (Vencedor da Copa da CAF 2000)

Grupo B
Palmeiras (Vencedor da Libertadores 1999)
Galatasaray-TUR (Vencedor da Supercopa da Uefa 2000)
Olimpia-HON (Vice-campeão da Liga dos Campeões da Concacaf 2000)
Al Hilal-SAU (Liga dos Campeões da AFC e Supercopa da Ásia 2000)

Grupo C
Real Madrid-ESP (Vencedor da Liga dos Campeões 1999/2000)
Jubilo Iwata-JAP (Vice-campeão da Liga dos Campeões da AFC 2000)
Los Angeles Galaxy-EUA (Vencedor da Liga dos Campeões da Concacaf 2000)
Hearts Of Oak-GAN (Vencedor da Liga dos Campeões da CAF 2000)

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