Lincoln, do Grêmio, tem apenas 15 anos, joga no Sub-17 e foi chamado para seleção

Lincoln, do Grêmio, tem apenas 15 anos, joga no Sub-17 e foi chamado para seleção

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

Lincoln Henrique Oliveira dos Santos sonhava, como muitos sonham. Queria ser jogador de futebol. E para isso, deu os primeiros passos já com qualidade. Desde os 8 anos nas escolinhas do Grêmio, aos 14 recebeu uma visita que assustou vizinhos. Carros importados, homens engravatados, todos à porta de sua humilde casa no bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. Eram funcionários de Delcir Sonda, do grupo DIS. Em uma maleta, R$ 400 mil em cédulas. Entregues à família em troca de assinaturas de contratos de futuro. Ali a vida do menino deu uma guinada. E o talento natural foi sublinhado.

No clube, a parceria com a DIS não mudou em nada a vida de Lincoln. O Grêmio já sabia que se tratava de um jogador diferente. Ele sempre esteve à frente de sua categoria. Hoje aos 15 anos é considerado um dos 10 melhores jogadores do país na categoria Sub-17, está convocado para seleção brasileira e já brilhou em treinamento até nos profissionais.

"Quem diz isso não é o Grêmio, é a CBF. Ele é considerado um dos 10 melhores jogadores da categoria no Brasil. Tem velocidade e intensidade. Aos poucos, dentro do processo natural, vai adquirir equilíbrio. A partir do ano que vem, no Sub-16 e 17, terá uma carga mais forte de treino. Hoje o que tem é natural. Físico, emocional, cognitivo, temos que deixar aparecer de uma forma lúdica. E a partir do ano que vem vamos ter um trabalho mais refinado. Por ele ser especial, começamos o Lapidar [programa de treinamento específico da base do Grêmio] antes. Muito mais lúdico e especial, e foi bom para ele", contou o diretor das categorias de base do clube, Júnior Chávare, ao UOL Esporte.

No dia 18 de agosto, Felipão usou um trabalho pós-jogo para dar ritmo de jogo aos reservas, contra o time Sub-17. Em campo, Lincoln, desconhecido, jogou como costuma fazer. Foi muito bem. Fez um gol logo no começo da atividade. E quando surgiu uma oportunidade de falta, na entrada da área, ignorou membros do grupo principal que completaram o time de baixo, como Marquinhos [hoje no Figueirense] e Jean Deretti [que está no Joinville]. Pegou a bola e bateu, acertando a trave do gol defendido por Tiago.

"A personalidade tem que ser dosada, equilibrada. É um garoto de 15 anos. Por mais que tenha qualidade e personalidade, será de altos e baixos. O trabalho psicológico e pedagógico com ele é muito forte. Isso dá uma grande diferença pra ele. Essa volúpia, essa personalidade, há algum tempo era muito questionado. E ele conseguiu conduzir isso para um lado positivo. Este trabalho realmente está dando um resultado super positivo", reforçou o diretor gremista.

No Estadual Sub-17, Lincoln é titular do time com meninos dois anos mais velhos que ele. Já marcou três vezes. No princípio da temporada, no Sub-16, também havia balançado as redes adversárias. Foram quatro gols.

E para um menino tão jovem, um problema se apresenta: o contrato. Sem vínculo profissional, proibido por lei até que o atleta complete 16 anos, Lincoln aguardará até novembro para ter efetivado esta condição. E o Grêmio, até lá, não se vê refém ou se diz preocupado. Pelo contrário, confia nas leis impostas pela CBF e garante que a visibilidade do jogador, que foi convocado para seleção como atleta do clube, reforça a ligação pelo vínculo de formação.

"O Lincoln tem desde os 14 anos um contrato de formação. Hoje a legislação do atleta amador para os clubes que atuam de uma forma efetiva é mais segura que o profissional. As definições dos contratos de formação são bem estabelecidas. Os jogadores que estão no BID, precisam ser respeitadas as questões de clube para o primeiro contrato. E quando vai para seleção esta situação fica ainda mais forte. Por incrível que pareça, quanto mais visibilidade ele tem nessa idade, mais protegido está no clube", explicou Chávare.

Para destacar ainda mais a ligação com o Grêmio, toda forma de apresentação dos talentos do meia-atacante é valiosa. Canhoto, habilidoso, ganhará força, massa muscular e, quem sabe, a partir do ano que vem possa ser utilizado até no profissional.

Exemplo do passado não é bom

Se a expectativa com Lincoln é gigantesca, o último exemplo de prodígio gremista não é bom. Yuri Mamute tinha a mesma ou fama até maior nas categorias inferiores. A exemplo do menino de hoje, também teve um 'tutor' desde cedo. Jorge Machado o acompanhava desde os 12 anos, auxiliando a família pobre e cuidando dos passos do atacante.

Utilizado nos profissionais para testes logo aos 16 anos, ele retornou para as categorias de base e subiu em definitivo um ano mais tarde, em 2012. No entanto, jamais conseguiu repetir no principal os feitos dos times de jovens. Hoje com 19 anos, está emprestado ao Botafogo e é reserva do time comandado por Vágner Mancini no Rio de Janeiro. O contrato com o Grêmio foi renovado recentemente e vai até 2018.

FOTO: UOL

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