O bate-papo por telefone foi realizado na quarta-feira (20)

O bate-papo por telefone foi realizado na quarta-feira (20)

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

Não foi adiante uma ideia de Alexandre Gallo, responsável pelas seleções brasileiras de base. No dia 17 de julho de 2014, ele havia cogitado a possibilidade de criar na equipe principal uma cota de 40% ou 50% de jogadores com faixa etária para a disputa dos Jogos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro. Depois, porém, a proposta foi substituída por um calendário mais robusto para o time olímpico.

"Foi uma mudança de planos, sim, mas que também partiu de uma ideia minha. O Gilmar e o Dunga compraram essa ideia, o que facilitou a implantação. Inicialmente, pensávamos em ter 40% ou 50% do grupo com jogadores olímpicos. Agora, com a seleção olímpica tendo um calendário próprio, podemos ter 100%", disse Gallo em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. Além de ser responsável pela base, o ex-volante dirige o time sub-20 e vai comandar a seleção olímpica.

O bate-papo por telefone foi realizado na quarta-feira (20), momentos depois de Gallo ter conquistado com a seleção brasileira sub-20 o Torneio de Cotif. Após início claudicante – empates com Qatar (1 a 1) e Equador (0 a 0), a equipe canarinho se recuperou e foi campeã com vitória por 2 a 0 sobre o Levante na decisão.

Foi o quinto título de Gallo na sub-20 em 18 meses de trabalho. O treinador é peça chave no projeto da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para o futuro da seleção brasileira – não por acaso, foi o primeiro da área técnica a conceder entrevista coletiva no dia 17 de julho, data em que Gilmar Rinaldi foi anunciado como novo coordenador de todas as equipes nacionais.

"Temos um trabalho de 18 meses, com 46 atletas mapeados, e os resultados até agora têm sido positivos. Fizemos 29 jogos com o time sub-20, com 25 vitórias e quatro empates", enumerou Gallo.

Veja a seguir a íntegra da entrevista com Alexandre Gallo:

UOL Esporte: Por que o Brasil começou tão mal no Torneio de Cotif?

Alexandre Gallo: Acho que na verdade nós não estávamos acostumados com a questão do gramado. Sabíamos que seria assim a competição, mas fizemos uma opção para reunir o grupo. Todos os jogadores atuam em times de primeira divisão, e eu não teria como deixar passar essa chance de reunir os atletas. Além disso, nós teríamos chance de enfrentar Equador e Argentina, que serão dois adversários importantes no Sul-Americano. Por isso viemos para cá.

Os dois primeiros jogos foram muito difíceis, muito complicados, mas todo mundo se entregou demais. Nós mudamos o jeito de jogar e fomos evoluindo. Na final, tivemos muito trabalho com o Levante, que ganhou de Equador e Argentina. É um time muito forte. Talvez tenha sido uma das competições mais difíceis que nós enfrentamos.

UOL Esporte: O que mudou no time entre os primeiros e os últimos jogos?

Alexandre Gallo: Nós jogamos com uma linha defensiva bem alta, bem agressiva, mas o campo é muito rápido para a troca de passes e segura um pouco a bola longa. Sofremos contra-ataques nos dois primeiros jogos e não conseguimos entender por quê. Depois, fazendo uma análise, vimos que essa bola partia e que os nossos jogadores não tinham se adaptado ainda a essa questão da velocidade do gramado.

Mudamos um pouquinho esse posicionamento defensivo. Foi uma adaptação complicada, mas foi importante porque os jogadores se entregaram bastante. Também tivemos alguma limitação para fazer jogo pelas laterais por causa das dimensões do campo, mas o importante é que os jogadores compraram a ideia. Todo mundo colaborou demais.

UOL Esporte: Quais jogadores foram os destaques da seleção brasileira no Torneio de Cotif?

Alexandre Gallo: Tivemos alguns destaques individuais, mas se eu falar um nome vai ficar ruim para mim. Vou ficar no coletivo, mesmo. A entrega e a adaptação rápida dos atletas foram fundamentais. Entendemos que estávamos numa competição distinta, com um perfil diferente, e eles compraram essa ideia.

UOL Esporte: Danilo, volante revelado pelo Vasco e que atualmente defende o Braga, foi o único jogador presente nas convocações das seleções sub-20 e olímpica. Quais características fizeram dele a melhor escolha para as duas listas?

Alexandre Gallo: Nós tivemos um atleta que teve uma lesão, que foi o Rodrigo Caio, e isso abriu um espaço. O Danilo vem trabalhando na sub-20 com a gente, é um atleta importante e tem atuado como titular. Nasceu em 1996, mas já está pronto. É um atleta que vai jogar na Europa a partir desta temporada, no Braga, e nós acreditamos muito nele. Por isso ele esteve nas duas listas. É um ótimo atleta.

UOL Esporte: O zagueiro Marquinhos também esteve em duas convocações, mas da seleção olímpica e do time principal. Na última terça-feira (19), o técnico Dunga e o coordenador Gilmar Rinaldi disseram que a prioridade será a equipe adulta. Eles chegaram a negociar com você? Haverá reposição na sua lista?

Alexandre Gallo: Nós tínhamos conversado antes e combinamos que a seleção principal seria prioridade. Falamos que procederíamos assim em uma possível convocação, e eu passei alguns nomes. Sempre temos de colocar a seleção principal em primeiro lugar, e é importante que o Marquinhos esteja lá. Ele vai ajudar e ainda crescerá muito com isso. Certamente, isso o fará evoluir também para as próximas listas da seleção olímpica. No momento, vamos manter a convocação e não teremos ninguém nessa vaga.

UOL Esporte: Os primeiros rivais da seleção olímpica serão Egito, Qatar e Líbano – os amistosos serão realizados entre 1º e 10 de setembro de 2014. Por que vocês escolheram rivais pouco tradicionais e tecnicamente fracos para o início do trabalho?

Alexandre Gallo: Temos de fazer escolhas, pensar em momentos e considerar que alguns times não podem nos servir. Não podemos fazer tudo como queremos. Temos feito contato, mas algumas seleções já tinham calendários projetados e não puderam nos atender. O importante agora é disputar jogos internacionais e estar com os atletas. É um processo fundamental na montagem do grupo. Para o ano que vem, estou certo de que jogaremos contra grandes seleções.

UOL Esporte: Em julho, na apresentação de Gilmar Rinaldi como coordenador de todas as seleções brasileiras, você defendeu a criação de uma cota na equipe principal para atletas com idade olímpica que não fossem elegíveis para a sub-20. Na época, você disse que 40% dos convocados para o time adulto deveriam ter esse perfil. Depois, porém, o técnico Dunga disse que seria difícil operacionalizar isso e não respeitou esse limite na primeira lista dele. Houve uma mudança oficial de planos? Por quê?

Alexandre Gallo: Foi uma mudança de planos, sim, mas que também partiu de uma ideia minha. O Gilmar e o Dunga compraram essa ideia, o que facilitou a implantação. Inicialmente, pensávamos em ter 40% ou 50% do grupo com jogadores olímpicos. Agora, com a seleção olímpica tendo um calendário próprio, podemos ter 100%. Vamos fazer jogos contra seleções principais. Criamos uma nova maneira que ficou melhor ainda, com um calendário maior para a seleção olímpica. O Dunga vai poder assistir aos tapes dos jogos ou até in loco, e os atletas vão ter chance de disputar jogos no Brasil, com a torcida, em uma condição até melhor.

UOL Esporte: Como tem sido a relação com o Dunga? Com qual frequência vocês conversam?

Alexandre Gallo: Tivemos três reuniões iniciais. Ele também ficou três dias aqui na Espanha, e nós conversamos bastante. Não falamos sobre aspectos técnicos, mas tivemos uma conversa sobre alguns atletas que estão se destacando. Conversamos sobre alguns nomes, mas as escolhas são dele e dentro do que ele pode acompanhar.

UOL Esporte: A seleção da primeira convocação do Dunga terá média de 30 anos na Copa do Mundo de 2018. Existe uma pressão para que o seu trabalho aumente o número de opções jovens para a seleção principal?

Alexandre Gallo: Acho que não existe uma pressão. O que existe agora é um trabalho que começou há 18 meses e que está sendo construído visando a Olimpíada. Se não fosse isso os jogadores nascidos em 1993 e 1994 não estariam mais comigo, mas eles vão seguir no grupo até os Jogos. Teremos algumas datas Fifa. Devemos fazer 15 ou 16 partidas até a Olimpíada, e hoje estamos construindo um trabalho.

UOL Esporte: Você foi um dos observadores-técnicos da seleção brasileira na Copa de 2014. Quais conceitos chamaram sua atenção no futebol praticado no torneio?

Alexandre Gallo: Essa é uma questão bem complexa. Vi muita coisa boa entre as outras seleções, mas vi pontos positivos também no futebol brasileiro. Não podemos jogar no limbo o que foi feito de bom. Vi situações positivas em algumas seleções, e algumas que servem para mim não servem para outros treinadores.

UOL Esporte: O futebol praticado na seleção brasileira está no nível do que é feito de moderno no mundo ou estamos atrasados?

Alexandre Gallo: Depende do que você pensa ser moderno. Na Copa das Confederações de 2013, a seleção brasileira foi campeã e virou a referência do que era moderno na época.

UOL Esporte: Antes da semifinal da Copa do Mundo de 2014, segundo o jornal "Folha de S.Paulo", você e Roque Júnior orientaram o técnico Luiz Felipe Scolari a povoar o meio-campo e aproveitar a ausência do Neymar para colocar mais um volante. Depois, o próprio Felipão assumiu a escolha e pediu que as pessoas não tentassem colocar você contra ele. Afinal, o que aconteceu?

Alexandre Gallo: As pessoas vão ficar com a resposta do Felipão. Eu tenho o maior respeito por ele, o maior carinho. Vamos ficar por aí.

UOL Esporte: Você discute com os jogadores da base os efeitos da goleada que a seleção principal sofreu para a Alemanha? Aqueles 7 a 1 mexeram com o ambiente também nos times mais novos?

Alexandre Gallo: Nós conversamos sobre tudo que aconteceu, mas a ênfase do trabalho está sendo dada há 18 meses. Não perdemos o rumo. O trabalho segue há 18 meses, com parâmetros estabelecidos, e não podemos jogar tudo que acontece no futebol brasileiro em cima daquele resultado. São grupos distintos, atletas distintos. Se você tiver uma competição sub-15, a seleção não pode levar aquele resultado como referência. São situações distintas.

UOL Esporte: Você já conversa com a cúpula da CBF sobre futuro? Existe alguma possibilidade de você integrar a comissão técnica da seleção principal depois dos Jogos Olímpicos de 2016?

Alexandre Gallo: Não. Eu sou técnico da seleção sub-20 e da seleção olímpica. Não existe nada além disso.

UOL Esporte: No ciclo anterior a seleção brasileira também teve um profissional responsável pela base, que foi o Ney Franco, e ele dirigiu o time sub-20. Naquela época, porém, Mano Menezes acumulou o time principal e o projeto olímpico. Vocês avaliaram esse trabalho antes de montar o modelo atual? Quais pontos fracos e fortes vocês enxergaram no projeto desse período?

Alexandre Gallo: Eu não acompanhei como foi, mas são situações distintas. O Dunga é técnico da seleção principal, e eu da sub-20. Foi tratado com o presidente da CBF que eu sou o técnico da seleção olímpica, justamente para fazer um serviço completo. São situações distintas.

UOL Esporte: Em que estágio o seu projeto para as seleções de base está atualmente? Qual é o percentual que já está montado?

Alexandre Gallo: Acho que botar um percentual em cima do futebol é bastante complicado. Temos um trabalho de 18 meses, com 46 atletas mapeados, e os resultados até agora têm sido positivos. Fizemos 29 jogos com o time sub-20, com 25 vitórias e quatro empates. Disputamos cinco torneios e ganhamos os cinco. Temos feito as coisas com muito cuidado e muita atenção.

UOL Esporte: Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", em 2013, você disse que vetaria brincos, fones de ouvidos penteados extravagantes e comportamento marrento entre os atletas. Você tem mantido essa linha na construção das suas equipes? É verdade que os excessos sobre vaidade também preocuparam a CBF na Copa de 2014?

Alexandre Gallo: Não, não foi bem assim. Eu fui mal interpretado. Já convoquei, convoco e convocarei jogadores assim. O problema é dentro de campo. Não existe nenhum incômodo. Quanto à CBF, só a CBF pode dizer o que aconteceu e como eles avaliaram.

Foto: UOL

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