A representação do Corinthians esteve em Itaquera e assim a torcida se alegra

A representação do Corinthians esteve em Itaquera e assim a torcida se alegra

Eu aprendi futebol com meu pai. E dentre os ensinamentos dele, um dos primeiros era que o Corinthians nunca precisou de craques para ganhar jogos e campeonatos. O Corinthians sempre venceu quando a alma de seu torcedor invadia o corpo dos atletas que a eles representavam. Eu cresci neste ambiente, frequentando estádios, observando, indagando e refletindo. Cheguei à saborosa conclusão de que este foi o maior ensinamento futebolístico que meu pai me passou. Eu nunca vi tamanha verdade sobre o Time do Povo.

Dentre os gols mais importantes da história do clube, quantos foram na técnica e quantos foram na vontade? São Basílio, pequeno Tupã, Luizinho de cabeça, Guerrero, Emerson...a raça no momento certo, na dose certa. Nas doses cavalares de prazer em jogar pelo Corinthians, de vontade de vencer pelo Corinthians e de alegria por representar uma nação deste tamanho. Nenhum clássico entre Corinthians e Palmeiras que eu vi o time que jogou com mais vontade que o outro saiu derrotado. Pensar isso é uma heresia de alguém que não tem a noção da grandeza deste confronto.

Em dia de Corinthians e Palmeiras, eu sempre digo, o dia nunca amanhece meia boca. Ou o sol brilha forte e ilumina o jogo ou a chuva cai torrencialmente o tempo todo, anunciado a batalha que mistura grama com barro e paixão. A batalha é dura. O jogo é quase sempre bom, mesmo que não tecnicamente. Afinal, uma rivalidade deste tamanho merece um jogo vencido na alma. Porque há coisa mais afetada após este confronto do que alma, para o bem ou para o mal? Ou você sai cruelmente ferido, ou sai revigorado, literalmente de alma lavada.

No primeiro clássico do ano do centenário o Corinthians colocou o coração dentro de campo, apostou a alma e não perderia nem se tivessem 5 árbitros apitando, cada um, uma falta contra o alvinegro ao mesmo tempo e aplicando cartões até para o torcedor encostado na mureta. Um jogo que mais uma vez mostrou que, em derby, time bom é aquele que ganha na raça. Lá na frente talvez este Corinthians não levante taças, mas a mais simbólica e representativa delas já foi levantada pelo Timão no primeiro campeonato do ano. Corinthians e Palmeiras proporcionam verdadeiros campeonatos à parte em cada jogo. A torcida do Palmeiras vai sentir este golpe até que tenha a oportunidade de reverter. A do Corinthians vai sorrir sozinha, na rua, caminhando, quando se lembrar do gol de Jô. E assim será até o próximo.

O derby paulista é envolvido em poesia, emoção, arrepios e nervosismo. É tirar a zica com os olhos, é juntar as mãos em reza, é cantar na chance de gol, é gritar, esbravejar, jogar para fora a angústia do pré-jogo. Corinthians e Palmeiras é estender o bandeirão — na varanda e na arquibancada —, é esticar a faixa, é acender sinalizador, é vibrar, ficar rouco e não conseguir dormir com a adrenalina batendo no teto do quarto. Foi assim em Itaquera. A torcida alvinegra ficou extasiada, não queria ir embora. A torcida queria ficar ali, dentro do estádio, dormir ali, morar ali, viver aquilo tudo de novo. Queria entrar e fazer o passe que fez o Maycon, chutar a bola que chutou Jô e fazer a defesa que Cássio fez. Queria acertar o passe que Rodriguinho errou, desarmar o jogador que Gabriel não desarmou e não aplicar o cartão que o juiz aplicou.

Reviver a noite desta quarta-feira para o corinthiano é como se lembrar do primeiro dia que entrou no Pacaembu, o primeiro beijo que deu na escola, a primeira bicicleta que ganhou do pai. Não só porque ganhou. Mas porque a torcida do Corinthians se sentiu representada. Ganhar não basta. Ela tem de se sentir representada. Lembrou-se de Sócrates, de Biro Biro, de Gamarra, de Marcelinho, de Rivellino, de Luizinho, de Baltazar, de Cláudio, de Carlitos, de Chicão. Aqueles onze dentro de campo hão de serem as figuras dos milhões que torcem por eles. E foram. O torcedor corinthiano chorou, se emocionou e foi embora satisfeito porque tivemos um jogo e este jogo foi Corinthians. Foi muito Corinthians.

Foto: UOL

Últimas do seu time