Amanda de Melo, filha de Leila, tem 20 anos e apesar de ter nascido no Brasil, é uma argentina autêntica

Amanda de Melo, filha de Leila, tem 20 anos e apesar de ter nascido no Brasil, é uma argentina autêntica

Carolina Juliano

Do UOL, em Buenos Aires

Está tudo preparado para a Copa. Bandeiras verde e amarelo hasteadas, flâmulas penduradas, cardápio especial com quitutes bem brasileiros, um balcão separado para fazer especialmente caipirinha e o telão gigante recém-instalado para transmitir todos os jogos. O clima seria perfeito para torcer pelo Brasil não fosse um pequeno detalhe: estamos em Buenos Aires.

No coração do bairro mais boêmio da capital argentina, uma brasileira ousou abrir um boteco que leva Brasil no nome, no cardápio, na música e na decoração. E espera receber "todos os argentinos que quiserem torcer pelo Brasil" nos dias de Copa do Mundo com muito samba e MPB. "Estou procurando até uma passista para fazer show aqui nos dias de jogo", diz Leila Nunes de Melo, paulista da cidade do Guarujá, uma das donas do bar.

Do Guarujá para Buenos Aires

O "Boteco do Brasil", que há 10 meses está aberto em Palermo Hollywood, é quase um território brasileiro em solo argentino. E sua dona é uma brasileira quase argentina que já fala misturando o português com o espanhol. Leila está em Buenos Aires há 20 anos, mudou de país para acompanhar o marido argentino, com quem tem uma filha nascida no Guarujá, mas criada desde os 8 meses no país vizinho. "O marido já se foi, nos separamos, mas adotei a Argentina como meu país", diz ela. "Mas ainda torço – e muito – pelo Brasil, principalmente em Copa do Mundo."

E é por isso que resolveu investir para receber melhor e de maneira diferente quem quiser torcer pelo Brasil com ela, em solo argentino. Além de um telão gigante que vai transmitir todos os jogos da Copa – e os jogos do Brasil por meio de algum canal brasileiro para ter locução em português -, o bar vai ter um balcão especial que vai preparar caipirinhas e shows de música brasileira para animar os torcedores.

Arroz, feijão e ovo frito

Mesmo em dias normais, esse pedaço de Brasil em Buenos Aires já tem pratos executivos com feijão e arroz com ovo frito, farofa e picadinho no cardápio. Além de, é claro, uma boa feijoada que Leila admite que tem que adaptar porque não encontra todos os ingredientes para comprar na Argentina, e mais coxinha, isca e bolinho de peixe, entre outras coisas. "Tem muito argentino que vem comer aqui porque já experimentou a comida no Brasil e gostou", conta. "E eles vêm também pela música. Temos sempre alguém cantando MPB ou roda de samba."

Além dos argentinos amantes da nossa comida e música, há também muitos brasileiros que vivem na Argentina e que aparecem para matar as saudades do tempero da mãe. "Os europeus, principalmente franceses, também vêm muito, aliás uma das minhas sócias é francesa, eles adoram o Brasil", diz Leila.

Ser brasileira é charmoso

Amanda de Melo, filha de Leila, tem 20 anos e apesar de ter nascido no Brasil, é uma argentina autêntica. Ela compreende e até fala português, mas a sua língua é mesmo o espanhol. Amanda tem sotaque argentino, corte de cabelo argentino, veste-se como as argentinas, mas não nega a sua nacionalidade jamais. "Sou brasileira e sempre serei, nasci no Brasil e sempre digo isso a todos. Além de ter orgulho, claro, dá um certo charme dizer que sou brasileira", diz.

Mãe e filha já não têm muitas raízes no Brasil e só viajam ao país vez ou outra, em férias, mas não perdem o contato com os brasileiros por causa do bar. "Um dos motivos que me levou a abrir o bar foi para ter contato com a comunidade brasileira na Argentina, sentia muito a falta disso", conta Leila. "Nós nos divertimos muito aqui e isso é o que importa."

Argentino também faz coxinha

Há 12 anos, o argentino de Mendoza Horácio Tordya (54), dono do restaurante "Me leva Brasil", também no bairro de Palermo, serve comida brasileira, principalmente quitutes baianos, como o acarajé. Mas ele diz que já houve mais brasileiros na Argentina do que agora. "Mesmo assim ainda recebo brasileiros, mas são menos e com mais dinheiro. A melhor época foi de 2009 até 2012", diz.

O restaurante de Todya também vai passar todos os jogos do Brasil em um telão, mas ele não preparou nada especial para a Copa ainda porque está em dúvida sobre o movimento. "Recebo muitos argentinos e estrangeiros que vêm comer cozinha, empadinha, pão de queijo e acarajé, mas vou esperar o movimento dos primeiros jogos para ver se justifica uma programação diferenciada, como já fizemos em outras Copas."

Foto: UOL

Últimas do seu time