Aos 33 anos, porém, a intenção de João Carlos é permanecer na Europa por mais algumas temporadas

Aos 33 anos, porém, a intenção de João Carlos é permanecer na Europa por mais algumas temporadas

Rodrigo Paradella

Do UOL, no Rio de Janeiro

O início do sonho de brilhar no futebol europeu pode ser bem diferente do vivido por Neymar no Barcelona. Hoje casado há 12 anos, o zagueiro João Carlos é um exemplo das dificuldades que podem ser vividas nos primeiros dias no exterior. Ele teve que encarar a resistência do sogro e da família da mulher para poder se transferir do Vasco para o CSKA Sofia, da Bulgária, onde começou em 2003 uma trajetória duradoura fora do Brasil. O jogador encerrou uma passagem de quase duas temporadas pelo Spartak Moscou na última semana.

Aos 33 anos, porém, a intenção de João Carlos é permanecer na Europa por mais algumas temporadas. Talvez pela dificuldade em conseguir seu espaço no futebol europeu. O zagueiro deixou o Vasco com 21 anos e teve de lutar para levar a mulher Fernanda junto. Hoje com três filhos e com a certeza de que tomou a escolha certa, o defensor comemora a aprovação do sogro, conquistada ao longo do tempo.

"Ela veio comigo [para a Bulgária] aos 19 anos, tirei ela da faculdade de administração na época. Tive que bater de frente com a família. Ficou aquela briga, ela bateu o pé e veio. Ela estudava e trabalhava no centro do Rio de Janeiro. O pai era professor, queria que ela se formasse. Mas, graças a Deus, quando ela bateu o pé, ele deixou e nós fomos", conta João Carlos, que comemora também o sucesso na vida pessoal.

"São 12 anos de casamento e 15 de relacionamento, no total. Acabamos casando rápido quando deixamos o país porque o pai dela "obrigou", dizia que não dava para ficar só no namoro. Quando viajei já tínhamos alguns anos de namoro, já era uma relação antiga. Fui o primeiro amor dela, então bateu de frente. Falei o que queria e ela comprou a briga", lembra o zagueiro. "Não deu para ela continuar os estudos, pegou alguma coisa na internet ou por lá mesmo. Hoje trabalha como meu braço direito, administra minha carreira", completa.

Os primeiros dias na Bulgária também não foram fáceis. Sem qualquer conhecimento da língua local, o zagueiro e sua mulher tinham que se comunicar através de gestos, inclusive nas idas a restaurantes.

"Passei por algumas situações complicadas porque não falava a língua. A gente olhava o prato da mesa do lado e apontava a comida, ou para a foto no cardápio. Até mímica a gente fazia. Nunca deu errado, até porque apontávamos mesmo", recorda João.

Nos campos, a trajetória na Europa também deixou João Carlos satisfeito. Após defender o CSKA Sofia, ele passou por Lokeren e Genk, ambos da Bélgia, onde se tornou ídolo e até mesmo conseguiu dupla cidadania para a família. A esperança de atuar pela seleção local, no entanto, acabou não se concretizando.

"Tinha a expectativa [de ser convocado pela Bélgica], quando estava lá ainda. Depois que fui pra Rússia [em 2011] perdi a esperança", lamenta João, que diz não ter se arrependido. "Jamais, primeiro objetivo foi ter o passaporte europeu e dar qualidade de vida aos meus filhos. E isso conseguimos", lembrou o jogador, pai de três filhos.

A chegada na Rússia também causou mudanças drásticas na vida de João Carlos. O jogador foi contratado pelo então modesto Anzhi com a promessa de que jogaria ao lado de grandes estrelas. Nos anos seguintes, atuou ao lado de atletas como o lateral esquerdo Roberto Carlos, o camaronês Eto'o, o meia da seleção brasileira William e o francês Diarra. Mas a lembrança maior é da alegria do povo da cidade Makhachkala, sede do clube, quando recebia os jogos da equipe.

"O Anzhi era desconhecido e depois ficou famoso pelos jogadores que foram atuar lá. A cidade vivia um conflito civil, então tudo era em Moscou e só íamos até lá para jogar. Era uma realidade mais distante da gente [a guerra]. O povo era muito carinhoso, nos recebia com festa toda vez que íamos jogar. Era algo legal levar alegria para aquelas pessoas com o futebol também", encerra o atleta, que agora aguarda definição sobre o seu futuro profissional.

"Estou bem, me sentindo bem, a minha família adaptada, tudo certo. Meu contrato terminou no último dia 30. Agora estamos esperando, algumas coisas estão surgindo. Quero curtir outros ambientes, outros países. Não necessariamente Brasil, só se for algo interessante, porque estou bem aqui", encerrou o zagueiro, que está sem contrato.

Foto: UOL

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