Prezado
Conforme havíamos conversado, reproduzo abaixo um "esqueleto? de projeto que fiz há alguns anos, a partir de comentários do Milton Neves, que ouvi num programa de rádio. Ele discorreu sobre a possibilidade de se criar um espaço para atletas aposentados, sem condições de subsistência ou até de sobrevivência. Fizeram até um paralelo com o retiro dos artistas, que existe no Rio de Janeiro. O Milton podia ser o criador do MSB, o Movimento dos Sem Bola!
Por alguns anos fiz escada pro Milton Neves via Teletrim. Nos programas dele era comum ele citar minhas piadas e meus comentários. Alguns ele até usou na área comercial (imagina... logo quem!), como por exemplo, quando eu escrevi cravando que mais fácil que o Santos ser campeão em determinado campeonato, seria a mula-sem-cabeça ter torcicolo. Ele logo adaptou e começou a incluir no texto do Gelol o mote de que o remédio era tão bom que curava até torcicolo de mula-sem-cabeça... Mas ele dava o crédito pra mim no final do texto, o que mostra essa sua contínua preocupação de citar a fonte.
Eu gostava disso. Era legal ele rir dos meus comentários e elogiar o humor do "Márcio Durigan, jornalista de Osasco?. (Embora uma vez ele me deu uma "bronca? pela crueldade: em cima de um fato trágico que havia acontecido há dias ? a queda de um avião que levava as jogadoras de vôlei da seleção da Ucrânia ? eu disse que a necropsia havia revelado a causa da morte das atletas. Elas haviam morrido de traumatismo "ucraniano?...)
Mas voltando ao assunto, mandei esse projeto via e-mail para o site dele, Terceiro Tempo, mas o que houve é o retorno via uma mensagem obviamente automática. Não sei se ele leu ou não. Na época achei a ideia interessante, e ainda a acho.
Depois desse reencontro com os amigos da Gerência de Marketing após muitos anos, fiquei sabendo que o Ricardo Capriotti também passou pela GM, e que vocês trabalharam juntos. Na verdade ele morava aqui perto de casa, pois várias vezes eu o vi aqui na calçada do  supermercado Tropical, com filho e às vezes um cachorro.
Enfim, como ele trabalha diretamente com o MN, e aproveitando essa sua articulação com ele, gostaria que você enviasse esse texto para que ele analise o conteúdo. Se o Capriotti achar viável, peça pra ele encaminhar pro Milton.
Fiz algumas atualizações no texto. Mantive a primeira pessoa, usando o Milton Neves como meu interlocutor.
Quem sabe eu retorne brevemente ao mercado de trabalho e a gente possa tomar juntos uns iogurtes na bucólica Cornópolis (ops... Pradópolis!).
Abçs
Márcio

Caro Milton,

Gostaria de lhe passar algumas dicas e informações técnicas sobre a possibilidade de se criar um retiro para atletas, talvez até mesmo nos moldes do conhecido Retiro dos Artistas, do RJ. Primeiro quero informar que atuei na área de consultoria. E alguns anos atrás coordenei uma sociedade científica, a Sociedade Brasileira de Virologia. E essa experiência me abasteceu de informações que poderiam ser utilizadas dentro dessa idéia de um espaço para atletas aposentados. Insisto em "atletas? e não em apenas "jogadores de futebol?, porque isso daria uma amplitude bem mais interessante social e até economicamente falando.
Uma iniciativa como essa pode ser viabilizada através de parcerias comerciais com empresas fortes, sem dúvida alguma. Mas isso pode se esgotar em algum momento. Óbvio que não sou ingênuo a ponto de não levar em conta o seu poder pessoal em aglutinar patrocínios para o empreendimento. Mas será que o projeto se encerra numa empreitada personalista? Não seria algo muito maior que a sobrevivência desse Retiro dos Atletas estivesse acima de nomes, e se alicerçasse sobre idéias e conceitos?
Pois bem, Milton, pois podemos tornar essa ideia em algo auto-sustentável. E podemos combinar ações de marketing com ações fiscais, o que tornaria o projeto muito mais robusto.
Não pretendo aqui elaborar um plano integral para essa idéia. Primeiro porque é um trabalho minucioso e oneroso. Segundo porque esse projeto não se infla a partir de idéias de uma única pessoa, claro. Então vamos a algumas rápidas pinceladas.
Perguntas:
?    O projeto beneficiaria qualquer ex-atleta, ou se exigiriam pré-requisitos? Como: apenas futebol, apenas atletas profissionais, atletas federados, atletas que serviram seleções nacionais etc.
?    Qual a proposta de demanda inicial: Quantas pessoas assistidas? Quais serviços prestados (alimentação, integração social, lazer, saúde, recolocação e qualificação profissional etc.)
?    Quais os critérios para se admitir um ex-atleta: condição sócio-econômica, familiar, saúde etc.
?    Quem seria o gestor do projeto? Pessoas, grupo, ong etc.

Posso sugerir aqui um modelo de projeto que teria grandes chances de ser implantado com eficácia. Acho que um primeiro passo é criar uma entidade. Brinquei com o MSB (Movimento dos Sem Bola)? De repente é uma idéia bem humorada! Mas é interessante ter uma sociedade juridicamente constituída para abrigar o projeto. E que essa pessoa jurídica já nasça em conformidade com a Lei 9790/99, que trata da OSCIP, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.
Enquadrar esse projeto como Oscip traria uma série de benefícios. Os mais imediatos seriam imunidades fiscais, além de tornar a entidade candidata a um elenco de patrocínios oferecidos por todas as empresas sediadas no Brasil dispostas a renunciar parte de seu lucro (por via de escoamento fiscal) para entidades sem fins lucrativos. Por exemplo, cada funcionário da entidade pode ser "adotado? por uma empresa, que seria responsável por seu salário anual. Assim, uma cozinheira teria seu salário bancado através de projeto específico assumido pela Sodexho. Um médico, pela Pfizer. Um contador, pela Ambev. Um manager, pela GM. E assim por diante. Com isso fugimos de uma armadilha: a empresa doadora não precisa da contrapartida em visibilidade para se sentir motivada a participar desse projeto. As vantagens fiscais que ela obtém com essas ações viabilizam folgadamente seu engajamento.
Além disso, fazer um enquadramento para Oscip não é tão burocrático, e não gessa outras possibilidades. As exigências burocráticas, por exemplo, para se montar uma fundação, são gigantescas, e demandam um tempo enorme. O rito para se estabelecer uma Oscip é muito mais tranquilo. E sempre há a possibilidade de uma entidade, por exemplo, migrar de Oscip para fundação.
Óbvio que as captações de recursos não param por aqui. Usando de seu prestígio e projeção pessoais, você poderia lançar uma campanha de contribuição espontânea de atletas em atividade. Quer uma simulação? Se apenas os atletas profissionais com alto poder de renda (jogadores de futebol, pilotos, atletas do vôlei, basquete, UFC etc) que atuassem no Brasil e no Exterior doasse um por cento de seu salário anual para nossa entidade, qual seria o montante levantado apenas com essa iniciativa? Não tenho números contabilizados, mas duvido que a soma de salários de todos esses atletas seja inferior a R$ 300/400 milhões/ano. Um por cento disso representa de R$ 3 a 4 milhões. Ou seja, nossa entidade, apenas com essa fonte de captação, já iria trabalhar com uma receita de no mínimo R$ 250 mil/mês!  E olha que estamos trabalhando com uma doação de um por cento. Ainda não falamos de doações de empresas, ex-atletas, recursos federais e estaduais, ações sustentáveis da própria entidade, captação de recursos por projetos ...
Quer uma idéia de ação sustentável? Álbuns de figurinhas com a estampa dos atletas, livros, documentários, exibições, entrevistas remuneradas etc. E isso ainda pode receber recursos da Lei Rouanet.
Quer economizar mais? É só escolher como sede uma cidade que tenha cofres bem abastecidos. Barueri e São Caetano, por exemplo, são cidades que costumam trabalhar com orçamentos bem folgados. Não acredito que teríamos dificuldade em negociar com essas cidades a doação de um terreno para a construção de uma sede. E também não duvido que cidades como essas também disponibilizassem ações, como acesso à rede local de saúde, ensino, capacitação etc.
O assunto é longo, Milton. Espero que esses insights possam ser analisados por você  e por sua equipe. De minha parte estou pronto a colocar minha experiência e capacidade para viabilizar essa iniciativa a custos competitivos e racionalizados.
Aguardo contato,
Abraços,
Márcio Durigan
Jornalista

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