O treinador do grêmio campeão do mundo é um crítico contumaz dos colegas brasileiros e coleciona histórias maravilhosas com Loco Bielsa e Cruyff

O treinador do grêmio campeão do mundo é um crítico contumaz dos colegas brasileiros e coleciona histórias maravilhosas com Loco Bielsa e Cruyff


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O gaúcho Valdir Espinosa tem história no futebol. Como jogador, foi um esforçado lateral direito do Grêmio e do Esportivo de Bagé. Os seus maiores méritos no mundo da bola foram no comando técnico dos principais clubes do Brasil. Pelo seu amado Tricolor Gaúcho levantou os canecos da Libertadores da América e do Mundial Interclubes em 1983, no Botafogo quebrou o jejum de 21 anos sem títulos. 

Atualmente é um crítico do estágio que se encontra o futebol brasileiro e também dos colegas de profissão. Tem restrições a seleção brasileira e é fã do argentino "Loco Bielsa", além de uma história deliciosa com o holandês Johan Cruyff. 

 

Clique aqui e veja a página Valdir Espinosa na seção "Que Fim Levou?"

Confira a entrevista:

 

 

Terceiro Tempo - Qual a diferença entre os técnicos brasileiros e estrangeiros?

 

Valdir Espinosa – Os estrangeiros nos copiaram do passado e os brasileiros reproduziram o trabalho deles no presente. Saímos perdendo nessa.

 

 


Terceiro tempo- Por que você não tem mais espaço nos clubes brasileiros?

 


Valdir Espinosa
– Eu tento ter está resposta todos dias. Não tenho empresário, muito menos assessor de imprensa. As pessoas fazem julgamento sem conhecer. Mantenho-me atualizado, lanço os meus vídeos (vias redes sociais) e mostro a minha atualização tática. Acompanho os campeonatos inglês, espanhol, alemão, italiano, os estaduais, o brasileiro, as competições da base e até a liga americana pela internet.

 


Terceiro Tempo: Como você analisa o nível dos técnicos brasileiros?

 

Valdir Espinosa: O futebol brasileiro passa por um mau momento. Os profissionais querem utilizar três atacantes, mas no setor de criação usam três volantes? Na minha concepção, o futebol taticamente é refletido em linhas: a linha de defesa, a linha de criação (meio-de-campo) e a linha de coragem ( ataque). Não adianta os brasileiros quererem jogar igual ao Real Madrid, porque o Ancelotti, tem o Cristiano Ronaldo, o Benzema e o Di Maria. Enquanto, os jogadores no Brasil têm um nível técnico mais baixo. Estamos pedindo para os marcadores criarem as jogadas ofensivas e isso não é tangível.


Terceiro Tempo: Os treinadores estão praticando um futebol de resultados para garantir os empregos e “esquecendo“ a “Escola Brasileira”?



Valdir Espinosa:
É isso mesmo. Estamos copiando alguma coisa de fora e errado. Falamos de jogar com muitos atacantes e utilizamos volantes para criar? É um futebol de medo. Volantes que criam são do Bayern de Munique, veja o Schweinsteiger e o Kroos. Estes sim, criam e chegam para concluir é só ver o gol dos alemães contra o Manchester United.



Terceiro Tempo: A Seleção Brasileira defende a sua escola?



Valdir Espinosa: Melhorou um pouco. O time tem dois laterais fantásticos. Não concordo com o Hulk no ataque e ainda dependemos extremamente do Neymar.

 

Terceiro Tempo: a imprensa brasileira valoriza demais os técnicos estrangeiros?

 

Valdir Espinosa: Eles estão merecendo os elogios. Essas jogadas, como o gol do Bayern de Munique diante do Manchester United, são ensaiadas e treinadas inúmeras vezes até chegar a perfeição (gol). Aqui no Brasil, se baseiam apenas nas individualidades. Pedem para o jogador pegar a bola no meio-de-campo e driblar todo mundo.

Terceiro Tempo: Quais são os técnicos que você gosta?

 

 

Valdir Espinosa: Gosto do Mourinho, Guardiola e do “Loco” Bielsa. Em 1992, estava treinando a seleção paraguaia e íamos disputar um amistoso com o Atlas do México. Estava hospedado no hotel Yacht Golf Clube de Guadalajara, quando o garçom me disse: “Tem um senhor querendo falar com você?”. Quando vejo entra pelo restaurante o Bielsa, que era o técnico do Atlas e ele sentou na minha mesa e falou: “Vamos falar de futebol”. Eu respondi: “Tudo bem”. Ele começou a desenhar situações de jogo e dizia: “o que você faria em uma situação como essa?”. E eu, com outros desenhos respondia. Assim, ficamos assim por horas. Gosto do estilo do Marcelo (Bielsa), seus times são ofensivos e inteligentes. Naquele dia eu vi como ele era louco mesmo (risos).


Terceiro Tempo: Você tem também uma passagem interessante com o Cruyff?

 



Valdir Espinosa:
Sim. Em Marrocos, o Grêmio enfrentou o Ajax e ganhou. O Renato Gaúcho foi o melhor em campo. Após a partida nos encontramos no hotel e fui bater um papo com ele. Perguntei ao Cruyff, que à época era técnico do Ajax, o que ele achou do jogo? Ele gostou. Em seguida, perguntei o que ele achava do Renato Gaúcho? O holandês disse que era um atacante fabuloso, que driblava demais. Continuei a indagação, e quis saber se ele gostaria de ter o Renato no Ajax? Para minha surpresa, ele disse que não. Pois para ele, o Renato destruiu o time dele, mas o meu também, porque não tocava a bola. Foi ótimo, porque continuei com o Gaúcho e ganhamos muitos títulos.


Terceiro Tempo: Como pode ser mudado o atual estágio do futebol brasileiro?

 


Valdir Espinosa:
É importante promover o debate e alguns jornalistas já começaram a exigir um jogo melhor. É no debate e na discussão que começam surgir as mudanças.


Terceiro Tempo: quem são esses jornalistas que começaram a exigir a mudança no futebol brasileiro?

 


Valdir Espinosa:
O PVC (Paulo Vinícius Coelho), o Paulo Calçade. Uma vez encontrei o PVC em Belém, do Pará, e conversamos por horas sobre futebol sem aquela empáfia do “Eu sei”. Cada um colocava o seu ponto de vista. É preciso conversar mais sobre o futebol. Programas como o “Supertécnico” ( apresentado por Milton Neves entre 1999 e 2001) eram fantásticos, pois além do cachê (risos), você trocava idéias e realmente acrescentava algo. A “Última Palavra”, do Renato Mauricio Prado, na Fox Sports, é ótimo. Falar é importante, porque apenas pela consciência que as coisas podem mudar.

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